A maioria dos hospitais públicos portugueses já têm terapias alternativas à medicina convencional, como é o caso da acupuntura, osteopatia e até o reiki, geralmente usadas como complemento a outras técnicas e tratamentos. E há centros de saúde que também já os disponibilizam aos utentes. A mais usada é mesmo a acupuntura médica – diferente da que tem origem na medicina chinesa, e que é a única reconhecida como competência médica, desde 2002 – aplicada na medicina da dor e na reabilitação e já presente em mais de metade dos hospitais públicos. Os cursos para formação de médicos têm listas de espera e as consultas anuais triplicaram em algumas unidades.
Helena Ferreira é actualmente a coordenadora da competência de acupuntura médica da Ordem dos Médicos e reconhece que só em relação a esta terapia “o número de consultas duplicou nos últimos anos”. Os cursos pós-graduados são quatro e não abrem todos os anos. “Neste momento estão cheios e há quase 30 médicos em espera.” Na associação nacional, já há mais de 300 médicos inscritos.
A técnica é usada sobretudo nas unidades de medicina da dor ou na medicina física e de reabilitação, onde há mais evidência científica, mas o controlo da náusea e da dor em doentes operados ou que fazem quimioterapia também tem bons resultados. “O controlo da dor no parto ou a aplicação de técnica para tratamento de infertilidade também é prática, neste caso associada à especialidade de ginecologia e obstetrícia”, refere a médica de família de Lisboa, que tem tratado seis/oito doentes por semana.
Maria Manuel Marques, anestesista do Hospital Beatriz Ângelo, que usa a técnica no âmbito da medicina da dor, diz que em Loures houve 2371 consultas desde há quatro anos: “Nos primeiros anos foram 200 consultas/ano, hoje os números triplicaram: 600 a 700.”
Em Coimbra, Paula Capelo tem uma espera de dois meses. “Sempre que posso faço acupuntura, mas sou anestesista, por isso não consigo ver mais do que 16 doentes por semana. A nossa especialidade faz muita falta.” Desde 2008 que trabalha juntamente com outro médico que dá um dos cursos de formação pós-graduada. E todos os anos trata cerca de cem doentes.
Benefícios e poupanças
O normal é os doentes precisarem de quatro a seis sessões para resolver o seu problema, mas os casos mais complexos, de dor crónica, fibromialgia, podem precisar de mais sessões. “Há os que ficam bem, mas têm de voltar mais tarde para novos tratamentos.” Os benefícios, além da redução da dor, em problemas dos intestinos e até na desabituação tabágica, são “o aumento do bem-estar e menor uso de medicamentos. Nem sempre conseguimos tirar toda a medicação mas é positivo sobretudo em doentes muito medicados, como os idosos”.
Em Viseu, “o hospital com a consulta mais antiga do país, desde 1997, não se consegue dar resposta a todos os doentes”, diz António Almeida Ferreira, confirmando a duplicação dos pedidos. O médico de família trabalha com um anestesista e diz que só pode tratar “sete/oito doentes semanais, mas há bons resultados. Por vezes quase não precisam de medicação”.
Helena Ferreira diz que há estudos internacionais que mostram poupanças pelos “ganhos na qualidade de vida e redução da medicação”. O doente só paga a taxa moderadora. O tratamento de eletroacupuntura custa cerca de 30 euros.
Reiki e osteopatia no SNS
Helena Ferreira diz que há médicos com formação em osteopatia a trabalhar nas unidades públicas. “São sobretudo fisiatras, que utilizam estes princípios na sua rotina”, refere. Almeida Ferreira refere que “já tem havido cursos de formação no Norte para fisioterapeutas na área”.
Quanto ao reiki, que não integra a lista de terapêuticas não convencionais regulamentadas (ao lado), já houve várias experiências, em centros de saúde e no hospital, experiências que nem sempre duram. O caso mais sólido é o do Hospital de São João, que tem uma equipa de enfermeiros voluntários a fazer reiki com doentes oncológicos na área do sangue. Zilda Alarcão, enfermeira reformada, diz que fez uma investigação que confirmou os benefícios nos doentes e ajudou o projeto a avançar. “Os doentes têm melhoria da qualidade de vida, autoestima, redução da dor, melhor sono, menos náuseas. Muitos ficam a dormir depois da sessão”, que é de uma hora.
Depois de tratar doentes no hospital de dia, começaram a responder aos internados em 2014, mas os nove terapeutas já não conseguem responder a todos. “Cada doente tem um terapeuta responsável e há fases do tratamento em que podem precisar de mais de uma sessão semanal, mas o tempo que temos nos gabinetes é pouco.”
Fonte: DN / Diana Mendes
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