Enquanto dormia...
... na Alemanha houve uma vitória curta de Angela Merkel, que a vai obrigar a alianças complexas, e uma subida vertiginosa da extrema-direita, que volta ao parlamento alemão pela primeira vez desde 1945, e está a causar muitas apreensões. Vamos por partes:
- Merkel ganhou sem surpresas e vai para o seu quarto mandato consecutivo como chanceler. Mas viu a sua CDU ter o pior resultado desde 1949 e tem agora um belo berbicacho para resolver. Como escreve o João de Almeida Dias, depois de 12 anos no poder, Merkel guardou o melhor (ou pior) para o fim: sem maioria e com a renúncia do SPD a uma nova aliança, a única via passa por conseguir um acordo com dois partidos inconciliáveis em muitas áreas naquilo a que já chamam Coligação Jamaica: pelas cores da CDU, do FDP (direita liberal) e dos Verdes (ecologistas de centro-esquerda).
- Mas das eleições alemãs vêm problemas maiores: o SPD, agora liderado por Martin Schulz, teve o pior resultado no pós-Guerra, o que, associado à queda de votantes na CDU, mostrou um desvio dos eleitores do meio para os extremos; e foi assim que a Alemanha assistiu a um crescimento da extrema-direita da AfD, o partido anti-imigração e anti-Merkel, que vai ser o terceiro no Bundestag, com 94 deputados. Ontem à noite já houve centenas de alemães na rua em manifestações de protesto.
- Bem avisava o Tiago Carrasco, que andou por estes dias em reportagem em terras germânicas, que era preciso não subestimar Merkel, a Frau Alemanha, que por Shultz pouco mais havia que simpatia e, sobretudo, que havia muita gente zangada no país mais rico da Europa.
- A reflexão sobre a Alemanha está também no artigo de opinião de Helena Matos: "Isto começa a ser ridículo. A cada eleição num país europeu é isto: vai ou não subir a extrema-direita? Em seguida dá-se como adquirido que subiu. Em seguida culpa-se a demagogia". Rui Ramose Fernando Martins também já tinham escrito sobre o tema.
- Lá fora, nos jornais, o Finantial Times fala numa Merkel enfraquecida e o Politico diz que a chanceler vai entrar na fase twilight. Já o The Guardian elenca os problemas que a AfD pode trazer à Europa, o Wall Street Jornal usa a palavra "inquietação", a CNN opta por "terramoto" e a BBC chama-lhe uma vitória "oca".
Na Catalunha, a semana antes do referendo promete ser de tensão máxima, escreve o El País. O presidente catalão pode mesmo ser acusado de rebelião, acrescenta o El Mundo. MasPuigdemont avisa que ser detido pode não ser boa ideia.
Mas há outro referendo importante: hoje, o Curdistão vota pela sua independência do Iraque, uma ambição secular dos curdos.
Por cá, nota para a entrega de barragens à EDP sem concurso público. Segundo o Público, o Instituto da Água fez vários alertas sobre os direitos de utilização sem concurso e atribuição indevida de isenções. A investigação já está em Bruxelas.
Outra informação importante (a começar pelas Autárquicas)
A campanha autárquica entra hoje na última semana e nos dias decisivos. Primeiro balanço a fazer: quem lida melhor com os beijinhos, os abracinhos e os outros inhos obrigatórios nas arruadas e no contacto com a população? Os repórteres do Observador no terreno foram vercomo têm corrido os afetos da campanha, num beijómetro que vai de zero a Marcelo. Quer saber quem ganha?
- Com todos os líderes partidários no terreno(primeiro-ministro incluído, apesar das polémicas e problemas em curso), as eleições locais tornaram-se nacionais e mostraram os dias difíceis do PSD. No Porto, Paulo Rangel manteve o tabu sobre o impacto que as autárquicas terão no futuro de Passos Coelho como líder do partido, enquanto em Lisboa a ausência de Morais Sarmento numa ação de campanha marcou o domingo de Teresa Leal Coelho.
- Na crónica do dia, o Miguel Pinheiro fala da má companhia, do bom almoço e de "2019".
- Mas as autárquicas dão-nos sempre fantásticos cartazes criativos (deixem-me chamar-lhes assim).Até à semana passada, confesso que (mesmo votando em terra própria) tinha elegido o famoso "Chiça, Porra", do PS de Montemor-o-Novo, como o maior tesourinho desta campanha; mas agora o futuro-passado do PCTP-MRTP na Moita e os chouriços de Braga deixaram-me com dúvidas.
Quando achávamos que já tínhamos ouvido tudo sobre o roubo de armas em Tancos, eis que o tema volta outra vez para causar ainda mais embaraços. Uma notícia do Expresso deste sábado citando um relatório de serviços secretos militares apontava responsabilidades políticas e militares. Depressa o relatório foi desmentido, quer pelo Governo, quer pelo Estado Maior do Exército, para a seguir o discurso mudar: Costa alegou então que o relatório não é autêntico, o ministro da Defesa falou em objetivos políticos e até Marcelo, primeiro preocupado, disse-se depois tranquilo. Só o PSD promete não largar o tema que terá seguramente desenvolvimentos nos próximos dias.
No resto da política nacional, há a anotar o aviso do Bloco, via Catarina Martins, de que "as maiorias absolutas são trágicas".
Nos EUA, Donald Trump entrou em pé de guerra com dois dos desportos de eleição nos EUA, o basquetebol e o futebol americano. A polémica com a NBA e a NFL já levou a protestos em Londres e à recusa de visitar a Casa Branca que quebra uma velha tradição.
Trump que apresentou o seu novo 'travel ban'. As restrições à entrada de cidadãos nos EUA alargam-se de cinco para oito países e passam a incluir o Chade, a Venezuela e... a Coreia do Norte.
Na tensão com a Coreia do Norte, Trump tentou intimidar com aviões junta à costa norte-coreana, mas ouviu o ministro dos Negócios Estrangeiros de Kim Jon-un avisar que os insultos tornam um ataque aos EUA "mais inevitável", numa altura em que sismos sentidos na península da Coreia levam a crer que Pyongyang está a fazer novos testes nucleares e o Parlamento enviou uma carta a vários líderes europeus sobre a ameaça americana . Mas como passou a Coreia do Norte de um "milagre económico" à miséria atual e ao poderio nuclear? O Nuno André Martins explica, no primeiro de vários trabalhos a publicar nos próximos dias.
E há ainda mais um problema para Trump. O Furacão Maria pode voltar a assolar a costa Leste dos EUA, o que acontecer tornará 2017 um dos piores de sempre. Porque os furacões estão mesmo mais intensos e ninguém sabe explicar porquê, como pode ver nestas 14 respostas a 14 perguntas colocadas pela Marta Leite Ferreira a vários especialistas.
Como se não bastasse, o genro e consultor de Donald Trump Jared Kushner usou uma conta de email privada do tratar de assuntos da Casa Branca.
Volto a Portugal, para dar nota da notícia triste da morte de bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, mais conhecido por o "bispo vermelho".
Os nossos especiais
Quem foi o empresário português mais vigiado pela PIDE? A Tânia Pereirinha conta a história, a vida, os negócios e as festas memoráveis na herdade do Zambujal de Manoel Vinhas, o homem que trouxe a Portugal Audrey Hepburn, Gina Lollobrigida, Zsa Zsa Gabor, Givenchy ou Valentino e era mecenas de vários artistas, como Raúl Solnado ou Luiz Pacheco.
A nossa opinião
- Alexandre Homem Cristo escreve sobre André Ventura: "Ventura está a ser sobrevalorizado – enquanto candidato e, mais ainda, enquanto intérprete de novos rumos para a direita. Um erro que, perante a tentação de leituras nacionais, será importante evitar".
- João Carlos Espada escreve sobre a América: "Na América, está em curso um vigoroso renascimento conservador-liberal. Conseguirá a vaga conservadora em gestação na Europa acompanhar a linguagem liberal e anti-estatista da sua congénere americana?"
- Manuel Villaverde Cabral escreve sobre a Catalunha: "Devido à política obtusa de Rajoy, uma boa parte dos catalães pretende mais do que equidade fiscal, como o governo aparentemente lhe propõe agora em troca do cancelamento do pseudo-referendo".
- Alberto Gonçalves escreve sobre as autárquicas: "De Norte a Sul, larguíssimas centenas de criaturas decidem publicitar na berma da estrada os seus inestimáveis préstimos em prol do bem colectivo. Como potencial usufrutuário dessas benesses, eu passo".
Notícias surpreendentes
Um chef francês surpreendeu ao pedir à Michelin para retirar as 3 estrelas do seu restaurante. Chama-se Sebastian Bras e contou o que o levou a tal atitude em entrevista ao Diogo Lopes.
Da comida para o exercício. É o que recomenda Pedro Teixeira, da DGS, em entrevista à Marlene Carriço. Porque o exercício serve para prevenir ou tratar pelo menos 25 doenças diferentes.
Dá para ir a correr ver o espetáculo do Tape Face, que esgota salas em todo o mundo. Porque parece que as melhores piadas do mundo dizem-se de boca fechada.
E que tal uma viagem até aos lugares selvagens que não aparecem nos guias? A National Geographic recomenda alguns locais de cortar a respiração: para a foto escolhi um não muito longe, os Lagos de Plitvice, na Croácia.
Agora que já tem a informação essencial para começar o dia e a semana, já sabe como se manter atualizado: basta clicar emObservador
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