quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

SELO: Reconstrução e consolidação da paz enquanto problema de uma ética do discurso - Por Valdemiro Paque


Onde o Homem estiver a paz é invocada, pois ela é uma das condições para sua felicidade. Ora, quando estamos em paz, a vida é de pazes; quando estamos em guerra apenas ‘’farejámo-la’’; e quando discutimos sobre ela apenas teorizamos a paz. Duma ou doutra forma invocámo-la e se calhar sem vivê-la. No entanto, o que pode ser a paz? Como reedificar e consolidá-la? Será ela um problema da ética? Até que ponto é tal problema? Essas são as nossas preocupações!

A paz é um fenómeno clamado em quase todas as fases da história, desde a antiguidade, onde era concebida como felicidade, liberdade e ataraxia; e na idade média foi entendida como relação interior, de amor a Deus e ao próximo; Na idade moderna tem aspecto de contrato social traduzido num acordo entre cidadãos (AAvv, 2016: 12-13).

Ora, se a reflexão sobre a paz é tão vetusto, em que contexto pode ser discutido hoje? São várias as consequências que indiciam a sua ausência, aliás a simples reflexão sobre a paz é «fumaça» de uma beligerância nos vários âmbitos. É só pensar nos excluídos na sociedade, dos dependentes economicamente, dos sem moradia e dos sem roupa para aceitar a sua ausência.

O americano Martin Luther king JR. dizia que, no mundo, por mais que haja 90% de gente em paz, devido os 10% de sujeitos em conflito, é razão suficiente para nos preocuparmos de modo a «[…] buscar valores sociais indispensáveis, tais como: justiça, inclusão, verdade, sinceridade, tranquilidade, harmonia, e bem-estar corporal e espiritual, [...]» os quais traduzem o sentido da paz (ibidem: 12).

A paz não pode ser entendida ou definida apenas no sentido negativo, paz como Não-Guerra. Ela pode ser muito mais que isso. A paz é garantir que as pessoas tenham moradia, comida, roupa, educação, saúde, acolhimento e, em poucas palavras, ela implica ter a necessária qualidade de vida. paz é cuidar do ambiente em que vivemos, buscar serenidade no meio dos outros, viver em harmonia e bem-estar na nossa comunidade para ter força e boas ideias a fim de enfrentar os problemas sociais.

Todavia, a resolução de problemas entre indivíduos exige certo diálogo, o qual para nosso caso pode ser o calcanhar do herói Aquiles, pois o diálogo para reedificação e consolidação da paz deve ser sob perspectiva da ética do discurso, visto que além dessa perspectiva o risco é de se chegar àquilo que o Professor Catedrático Brazão Mazula no seu livro A construção da democracia em África: o caso moçambicano, chamou de paz escorregadia ou Voadora, pois «quanto mais o homem contemporâneo procura a paz, esta parece fugir-lhe das mãos, ela torna-se escorregadia e, no nosso caso vem por um tempo e depois voa, esboroa-se nas nuvens dos discursos políticos e de interesses individuais »(MAZULA, 2000: 64).

Contudo, a ética do discurso deve ser bem explorada para que seja a linha mestra para o restabelecimento e consolidação da paz em Moçambique. Penso que com a aplicação da éctica discursiva nas sessões parlamentares ajudaria para ter-se uma visão de uma paz pela qual possamos encontrar uma resposta lógica das nossas inquietações; caminho seguro para o futuro sempre em vista a consideração e respeito pela dignidade humana.

Bibliografia

Aavv. Interpretações ético-filosóficas sobre a possibilidade de edificação da paz em Santo Agostinho e Jürgen Habermas, Matola, 2016.

ADDIS, Ferdie. Discursos que mudaram a Historia, Trad. Thaïs Costa. São Paulo, Edt. Prumo Informação, 2013.

MAZULA, Brazão. A construção da democracia em África: o caso moçambicano, Maputo, Edt. Ndjira, 2000.

Por Valdemiro Paque
Fonte: Jornal A Verdade. Moçambique 

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