O projeto-piloto com que Santa Maria da Feira testou a pastorícia na limpeza florestal demonstrou esta quarta-feira que, em três meses, 26 cabras dispersas por quase meio hectare de terreno podem eliminar mais de 12 toneladas de mato e vegetação alta.
A experiência da Câmara Municipal da Feira foi conduzida pela engenheira zootécnica Ana Catarina Fontes, que, recorrendo a 4.042 metros quadrados de um terreno que a autarquia tinha por tratar em Fiães, acompanhou ao longo de 90 dias a evolução registada na vegetação do local, à medida que os animais dela se alimentavam.
Suportado por medições no local e também por imagens recolhidas semanalmente com recurso a drones, o objetivo era “identificar qual a quantidade de matéria combustível que estas 26 cabras sapadoras conseguiam consumir em três meses e a conclusão é que fizeram desaparecer mais de 12 toneladas de mato que, no início do processo, estaria com cerca de 1.70 metros de altura”.
Ana Catarina Fontes propõe-se agora partilhar os dados obtidos com entidades públicas e privadas, “para as sensibilizar para o facto de que não fica assim tão caro manter um terreno limpo se, depois da intervenção inicial com máquinas, a posterior manutenção for feita com recursos a rebanhos de cabras ou mistos”.
Com a marca “Back to Basic” (traduzível por “De volta ao básico”), a engenheira zootécnica pretende aplicar os resultados do estudo na criação do seu próprio negócio de limpeza florestal com recurso a pastorícia e garante: “Não estou a criar nada novo, mas este método estava caído no esquecimento e ficou demonstrado que é economicamente mais viável do que limpezas com recurso a máquinas, o que, num hectare de terreno, pode custar 1500 a 2000 euros a cada seis meses”.
Socialmente, o método também tem vantagens: “Houve uma grande aceitação da comunidade em geral para com a introdução de animais nas parcelas avaliadas e concluímos que as pessoas consideram este método mais agradável, em detrimento do uso regular de máquinas”.
Na prática, as cabras sapadoras passaram as noites num abrigo criado para o efeito numa fábrica abandonada do terreno intervencionado e durante o dia circulavam livremente pela restante área, comendo silvas, tojo e fetos adultos – sempre começando pelas folhas até chegarem aos caules e passando daí à estilha, dispensando no processo apenas os fetos jovens devido ao seu “alto nível de toxicidade”.
O facto de os fetos mais novos permanecerem intocados também não será prejudicial à gestão da floresta, uma vez que, segundo Ana Catarina Fontes, a espécie “tem uma taxa de humidade na ordem dos 80% e isso também representa uma segurança contra incêndios e maior proteção do solo”.
Além da vegetação espontânea do local, as 26 cabras receberam alimento adicional ao longo dos 90 dias de teste e, divididas em dois grupos de controlo, exibiram ganhos de peso no final da experiência, o que também terá reflexos ao nível da criação pecuária. O grupo que comeu diariamente mais 20,98 gramas individuais de ração concentrada passou de uma média de 10,28 para 11,63 quilos de peso por cabeça, o que representa um aumento de 13,13%; o grupo que teve direito a mais 146,89 gramas por dia de ração, feno e erva fresca passou de uma média de 10 para 17,13 quilos, num acréscimo de 71,3% de peso.
Devido aos detritos deixados pela generalidade dos animais no terreno, as análises à qualidade do solo também “demonstram que esse se torna mais rico com a presença das cabras”. Para Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal da Feira e nessa condição também da Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das Terras de Santa Maria (ADRITEM), há agora que analisar “que aplicações é que estes resultados podem ter” na vida prática dos proprietários de terrenos florestais.
O incentivo à criação do negócio que Ana Catarina Fontes pretende lançar está já garantido e dois outros cenários se equacionam: “Tanto pode acontecer contratarmos a sua futura empresa para outros trabalhos como é possível que seja chamada a dar formação a outras pessoas que querem adotar a mesma estratégia”.
Fonte: Observador
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