A guerra cessou formalmente em Moçambique nesta quinta-feira (01) após a assinatura de um Acordo entre o Presidente de Moçambique e o líder do maior partido Renamo. Ossufo Momade acredita que “a partir deste Acordo todos nos comprometemos em tudo fazer para doravante as eleições serem justas, livres e transparentes” em Moçambique. Filipe Nyusi equiparou o Acordo de Cessação das Hostilidades militares ao cordão umbilical de um bebé, que pela tradição, deve ser enterrado para “jamais os moçambicanos voltarem a ver a guerra”.
A localidade de Chitengo, no Distrito de Gorongosa, na Província de Sofala, epicentro da terceira guerra civil, foi o local escolhido para a formalização do calar das armas em Moçambique. Até ao fim do mês de Agosto deverá ser assinado um Acordo total de Paz, o terceiro depois de 1992 e 2014.
Ossufo Momade recordou que a guerra regressou “pela programação e validação dos resultados eleitorais não transparentes, não justos e não credíveis. Por outro lado estas hostilidades militares foram consequência da intolerância política que ficou mais acentuada a partir de Setembro de 2015”.
O presidente da Renamo prestou tributo ao seu antecessor, Afonso Dhlakama, “queremos manifestar o nosso eterno reconhecimento a este ícone político, o homem que sempre colocou o povo de Moçambique em primeiro lugar. Abdicou a família, a riqueza, a sua própria vida para salvaguardar os interesses mais nobres do nosso país”.
“Ao irmão Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República, vai o nosso sentimento de apreço por ter conseguido romper as forças que sempre opuseram-se ao diálogo como forma de resolver as nossas diferenças e esperamos que seja o guardião desta página de ouro que hoje abrimos”, afirmou dando a impressão que aposta numa vitória do candidato do partido Frelimo a 15 de Outubro como forma de garantir a paz.
Para Momade, “O dia 1 de Agosto de 2019 fica registado nos anais da nossa história como uma data inesquecível, o dia do reencontro da família moçambicana” e garantiu “ao nosso povo e ao mundo que enterramos a lógica da violência como forma de resolução das nossas diferenças”.
“É nossa convicção que a partir deste Acordo todos nos comprometemos em tudo fazer para doravante as eleições serem justas, livres e transparentes”, declarou o líder do maior partido de oposição alheio ao facto do processo para as Gerais deste ano já estar viciado pelos problemas do Recenseamento.
Ossufo Momade exorta “aos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) a não promover caça as bruxas”
O presidente da Renamo enfatizou que ao abrigo do Acordo o Governo deve “abster-se de assumir posições ameaçadoras ou cercar bases da Renamo conhecidas pelo Grupo Técnico Conjunto de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração enquanto decorre o processo do seu desmantelamento ao abrigo do Memorando de Entendimento sobre Assuntos Militares, absteres de actos hostis ou de sequestros contra populações civis e suas propriedades”.
No entanto Momade não nomeou as disposições que o seu partido deve cumprir, apenas disse “Do nosso lado comprometemo-nos a respeitar e cumprir todas as disposições do presente Acordo no espírito e na letra, sem reservas”.
O Acordo indica que a Renamo deve entregar as armas que possui, não pode adquirir novas armas nem munições, está impedida de recrutar novos homens para apresentar como seus guerrilheiros a serem reintegrados e todas as suas bases deverão ser desactivadas até ao próximo dia 21.
“Esperamos também que doravante a Polícia da República de Moçambique seja republicana e defensora de todos os moçambicanos”, desejou Ossufo Momade que exortou “aos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) a não promover caça as bruxas, perseguição e tortura aos cidadãos em particular aos membros dos partidos políticos em salvaguarda a paz e reconciliação nacional durante alcançadas”.
Não é público se a Renamo conseguiu uma das suas principais exigências que era integrar alguns dos seus homens nos Serviços de Informação e Segurança do Estado, instituição que alegadamente comanda os chamados “esquadrões da morte” e que durante o 1º mandato de Filipe Nyusi protagonizaram dezenas de assassinatos e sequestros com aparentes ter motivações políticas.
Autocarro de passageiros atacado por “inimigos da paz”
Por seu turno o Presidente Filipe Nyusi assinalou que “o conflito armado provocou a morte de muitos irmão nossos e a destruição de bens privados e públicos, como moçambicanos guardamos amargas recordações desse período sombrio na nossa história como uma lição para evitar a sua repetição. A violência militar retardou o desenvolvimento de Moçambique”.
“Volvidos vários anos de diálogo visando o alcance da paz efectiva e duradoura estamos aqui em Gorongosa para dizer a todos os moçambicanos e ao mundo inteiro que acabamos de dar mais um passo que mostra que a marcha rumo a paz efectiva é mesmo irreversível, que a incerteza dê lugar a esperança, que o futuro de Moçambique é mesmo promissor”, prometeu o Chefe de Estado.
Nyusi deixou o desejo de “a partir de hoje abre-se uma nova era na história do nosso país onde nenhum moçambicano, ou grupo de moçambicanos deve utilizar a violência armada como meio de solucionar diferenças políticas ou de opinião”.
Para o terceiro Presidente moçambicano que assina um documento com vista a paz o Acordo de Cessação das Hostilidades militares é como um cordão umbilical de um bebé, que pela tradição, “enterra-se longe num sítio que jamais se pode desenterrar (...) jamais os moçambicanos voltarem a ver a guerra”.
Entretanto um autocarro de transporte de passageiros foi alvo de tiros por parte de desconhecidos durante a noite de quarta-feira (31). O incidente, onde ninguém ficou ferido, foi comentado pelo Presidente Filipe Nyusi.
“Ouvi dizer hoje que houve umas pessoas que apareceram a ameaçar outras pessoas ontem, são inimigos da paz. Não são necessariamente pessoas da Renamo. Estive hoje a falar com o presidente da Renamo, são pessoas contra a paz. Então agora como nós dissemos não há hostilidades, não há quem seja da Renamo, aquele que vai fazer um tiro, que vai usar a arma a Renamo e o Governo juntos vão lhes buscar”, declarou Nyusi na Cidade da Beira, num evento com membros do seu partido após rubricar o Acordo com Ossufo Momade.
Depois da viciação do Recenseamento Eleitoral o povo aguarda pelos resultados das Eleições Gerais, Legislativas e Provinciais para ver se à terceira é mesmo de vez que a paz veio para ficar em Moçambique. É que embora pareça ser difícil alcançar a paz os três acordos que Moçambique teve desde 1992 mostram que mais difícil ainda tem sido mantê-la.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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