Houve uma redução de dadores e o Instituto Português do Sangue e da Transplantação tem apelado a que se doe sangue. Desde a segunda semana de março até ao fim da primeira semana de abril foram desmarcadas 163 sessões de colheita, contudo, registou-se também uma quebra no consumo devido, por exemplo, ao adiamento de cirurgias. A entidade assegura que os valores das reservas "não são preocupantes", mas é necessário "manter as colheitas todos os dias"
É tempo de confinamento social e as regras estão aí para cumprir. As veleidades cingem-se a passeios nas imediações da residência, as idas ao local de trabalho ou às necessárias visitas aos supermercados. É o gatilho do isolamento que apertamos, para já, na única arma que podemos disparar contra o novo coronavírus. Mas, fazendo-o, sai uma bala que se fragmenta e pode ter consequências em várias áreas.
Uma delas é a colheita de sangue.
Mesmo limitadas as saídas e deslocações da população, foram enviados “muitos milhares de SMS”, no último mês, pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) a pessoas registadas na lista nacional de dadores. Admitindo que “não foi possível quantificar” o número de SMS, a entidade revela ao Expresso que, durante esse período, foram realizados “1.386 contactos telefónicos”, dos quais resultaram 491 agendamentos prévios.
Entre a segunda semana de março e o fim da primeira de abril, ou seja, desde pouco depois a ter sido detetado o primeiro caso do novo coronavírus (2 de março) em Portugal, foram desmarcadas 163 sessões de colheita da sangue no país. Equivale a uma perda de 8.687 “dadores previsíveis”, pelas estimativas da IPST.
Mesmo perante tal quebra, as reservas de sangue estão em valores “confortáveis e estáveis”, assegura o instituto em resposta enviada por e-mail. Reitera, aliás, que “não são preocupantes”, apesar de vigorar um alerta amarelo - o segundo de uma escala de quatro no plano de contingência da entidade - para as reservas do sangue tipo O negativo.
A 10 de abril, data da mais recente informação disponível, as reservas nacionais, que dizem respeito ao IPST e aos hospitais, estavam nos 51 dias para AB positivo e 21 dias para A positivo, e nos 27 dias para O positivo e 29 dias para O negativo. “Necessitamos, contudo, de manter as colheitas todos os dias para manter estas reservas”, salvaguarda a entidade.
Para o fazer, o IPST explica que, nos grandes centros urbanos, tem “privilegiado” o agendamento prévio das sessões para “garantir o distanciamento social”. Em zonas rurais, o instituto elogia a “excelente parceria com os organizadores locais, federações, associações e Grupos de Dadores de Sangue”, que têm trabalhado para deslocar as sessões para “espaços mais amplos”, como pavilhões gimnodesportivos.
As reservas mantêm-se em valores normais devido à redução do consumo de sangue, culpa, por exemplo, do adiamento de “cirurgias eletivas” e do “menor consumo relacionado com situações de trauma”. O que não implica a inexistência de pessoas a necessitarem de sangue todos os dias, como “os doentes oncológicos ou hematológicos” - até “os doentes com covid-19 podem vir a precisar”.
HÁ RISCO DE SE SER CONTAGIADO COM COVID-19 ATRAVÉS DO SANGUE?
A pandemia do novo coronavírus e o atual estado de emergência nacional impuseram novas regras para os dadores. Agora, só devem doar sangue pessoas assintomáticas que, nas duas semanas antecedentes, não tenham contactado com casos suspeitos, ou confirmados e, nos últimos 28 dias, não tenham viajado para zonas com transmissão comunitária de covid-19.
Mas, asseguradas essas pré-condições, haverá risco de contágio se, por acaso, uma pessoa receber o sangue de alguém que tenha sido infetado?
A IPST esclarece que, até ao momento, o risco de transmissão através do sangue “é considerado teórico”. Não existem provas de que tal tenha acontecido. “Até agora, não foi reportado qualquer caso de transmissão de vírus respiratórios (incluindo coronavírus) por transfusão ou transplantação”, acautela, garantindo que “as medidas adotadas para a elegibilidade dos dadores de sangue impedem a dádiva a pessoas com manifestações clínicas de infeção respiratória ou febre”.
Mesmo sem evidências, o Instituto Português do Sangue rege-se pela precaução, tendo adotado “medidas preventivas para mitigar os possíveis riscos, entre elas a promoção da auto-exclusão, os períodos de suspensão para os dadores de sangue na triagem clínica, o reforço da informação pós-dádiva, os procedimentos de retirada, a quarentena de componentes sanguíneos ou a hemovigilância pós transfusional.
13.04.2020 às 18h13
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