quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Covid-19. Doentes cardíacos “ficaram em casa e vão morrer em casa”


Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, confirma que metade dos doentes cardiovasculares têm mais medo da pandemia do que da sua própria doença e deixaram de ser acompanhados pelo médico. "Receberam ordem para ficar em casa... ficaram, mas vão morrer em casa", avisa.

Metade dos doentes cardíacos, já diagnosticados, deixaram de procurar acompanhamento médico.

O alerta foi feito à Renascença pelo presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrageta, que avisa que “os doentes que sabem que são cardíacos e são acompanhados, cerca de metade têm mais medo da Covid-19 do que da sua doença”.

Segundo este responsável, são doentes que deixaram de ir aos hospitais e aos centros de saúde, porque “receberam ordem para ficar em casa e ficaram, mas são pessoas que vão morrer em casa”, por não terem a doença controlada.

Aliás, Manuel Carrageta confirma que esta situação já está a trazer um aumento da taxa de mortalidade.

“Verificou-se que desde março do ano passado a mortalidade por doenças cardiovasculares tem estado a aumentar progressivamente. Nos anos normais, são 33 mil, em média. No ano passado, ainda não temos números fechados, mas toda a gente sabe que foram mais”.

Na última semana, um relatório conjunto da Ordem dos Médicos e da Associação dos Administradores Hospitalares dava conta de que em 2020 foram realizados menos 11,5 milhões de consultas e atendimentos de enfermagem nos centros de saúde e nos hospitais.

A título de exemplo, só no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, em 2020, houve menos 17% de doentes que chegaram à instituição, para uma primeira consulta, referenciados pelos centros de saúde.

“É algo que, realmente, nos preocupa. E não é um problema apenas dos cuidados de saúde primários… outras estruturas que nos referenciavam doentes, como clínicas privadas, também tiveram uma redução na referenciação”, admite à Renascença o presidente do IPO do Porto.

“Acredito que, sobretudo de início, tenha existido receio dos doentes se dirigirem às USF e a outras estruturas de saúde. Aquilo que existe é uma dificuldade dessas estruturas em receberem os doentes, em darem resposta às necessidades, até porque, tal como acontece com os hospitais, estão muito envolvidos na resposta Covid”, acrescenta Rui Henrique.

Rui Henrique confirma, por outro lado, que os doentes estão a chegar ao hospital “em fases mais avançadas” da doença oncológica e que o IPO do Porto está já a preparar estruturas para conseguir dar resposta ao previsível aumento da referenciação de doentes, assim que a pandemia esteja controlada.

A expetativa é que aumente significativamente, nos próximos meses, o número de doentes que dá entrada naquela unidade de saúde.

Hugo Monteiro / RR

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