quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O OCASO DA DEMOCRACIA

 

  • Eugenio Trujillo Villegas*

Os recentes acontecimentos nos Estados Unidos estão, sem dúvida, entre os mais transcendentes das últimas décadas. Não me refiro às denúncias de fraude nas últimas eleições presidenciais, nem aos graves conflitos que essa questão vai gerar durante o mandato do novo presidente. Muito mais importante é o que se passa em relação à perda da liberdade de expressão, à imposição ou rejeição de algumas ideias políticas e à proibição totalitária de certas formas de pensamento.

         A televisão, os jornais e os grandes meios de comunicação de massa em todo o mundo tornaram-se instrumentos de divulgação de falsidades inqualificáveis, ou foram colocados a serviço das piores causas políticas comandadas pelo dinheiro. Pela primeira vez se manifesta agora publicamente outro poder oculto e misterioso — o dono das ‘comunicações globais’ — que deseja nos impor de forma autoritária o que podemos ou não podemos expressar publicamente. São as chamadas redes sociais, que têm sido proclamadas como “a voz de quem não tem voz”, em rebelião aberta contra a grande mídia.

Nos últimos anos essas redes sociais se levantaram contra a grande mídia e reduziram o poder absoluto que ela exercia. Conseguiram-no, possibilitando a qualquer divulgador inteligente propagar facilmente suas próprias análises e notícias, mostrando ao mundo realidades silenciadas ou distorcidas pelo antigo monopólio.

Se os donos das redes sociais se sentiram suficientemente fortes para silenciar o presidente Trump, o que poderão fazer conosco? Se não seguirmos suas orientações e insistirmos em pensar com independência, eles simplesmente nos farão desaparecer, sem nenhum direito de resposta.

Redes sociais e sua grande influência global

         As redes sociais alcançaram grande poder e influência, tornaram-se um verdadeiro gigante da informação presente no cotidiano de bilhões de pessoas em todo o mundo. Seus proprietários se juntaram assim ao pequeno grupo das pessoas mais poderosas, influentes e ricas do planeta, e já era esperado que em algum momento esse poder se manifestaria.

         Por que o poder, se não é para exercer o mando? Agora são eles que decidem o que as pessoas devem pensar, são eles que impõem as ideias a serem divulgadas, censurando implacavelmente os que ousam contradizê-las.

E ocorreu então que, em meio ao atual conflito norte-americano, o presidente dos Estados Unidos — considerado o homem mais poderoso do planeta até o dia 20 de janeiro — foi posto de joelhos por esses personagens misteriosos. Assim, foram encerradas as contas pessoais do presidente Trump no Twitter, Snapchat e Facebook, bem como seu canal no YouTube e todas as outras comunicações do presidente dos Estados Unidos, além das contas oficiais da presidência.

Esses fatos representam um alerta muito sério. Está claramente criado um Moloch que manipula, dirige e estabelece à vontade as regras de funcionamento desses meios de comunicação. E tornou-se inegável agora que esse monstro quer nos impor o que podemos ou não comunicar por meio deles.

Diante deste quadro, se foi isso que eles fizeram com o presidente Trump, o que poderão fazer conosco? Se não seguirmos suas orientações e insistirmos em pensar com independência, ele simplesmente nos fará desaparecer, sem nenhum direito de resposta. É ainda mais grave o fato de esse Moloch lançar raios e ameaças contra seus críticos, podendo contar com a anuência do poder político e judicial, seus mais recentes e perigosos aliados.

         Este é o caminho obscuro, cheio de perplexidades e apreensões, para o qual nos conduz este enigmático século XXI. Paradoxalmente esse quadro é agravado pelas consequências da pandemia do vírus chinês que tomou conta do mundo. Ameaçado pelo terror do contágio, da doença e da morte, o mundo está pouco a pouco renunciando às suas liberdades. Acabaram-se as viagens, as festas, os restaurantes e os bares. Todos os esportes ficaram sem público, assim como os grandes shows e eventos culturais. O Moloch obriga todos a permanecerem em casa, numa espécie de prisão domiciliar, e até nos proíbe de ver familiares e amigos.

         Os negócios se fecham, os empregos se reduzem, as pessoas comuns estão em extrema necessidade, o poder dos governantes é cada vez mais arbitrário e ditatorial. Foi subjugada aquela liberdade aparentemente indomável, considerada a essência do mundo de hoje, e todos acabam obedecendo e acatando as medidas impostas.

         Não importa o nome que se dará a essa gigantesca transformação psicológica e psicopolítica. Podemos chamá-la de Nova Ordem MundialGrande ReinícioReengenharia Social, Estado Profundo, República Universal, mas o evidente é que não voltará a ser o mesmo aquele mundo que nós das gerações adultas conhecíamos.

         Considerando a invasão produzida por aqueles poderes ocultos, que agora aparecem com maior força e determinação, podemos adquirir a certeza de que a sociedade avança vertiginosamente para a perda das liberdades.

São os donos de redes sociais mais persuasivos que muitas poderosas forças militares?

Donos das redes sociais, com a ameaça da pandemia, ameaçam a liberdade

         Quando escrevemos uma mensagem nas redes, esse poder oculto nos lê; se falamos ao telefone, ele nos ouve; quando saímos à rua, ele nos filma; se viajamos, sabe perfeitamente para onde vamos; se assistimos algo na TV, monitora-nos para saber nossas preferências; se nos conectamos à internet, sabe que tipo de coisas nos interessam. Nada disso é propriamente novidade, pois vem se expandindo largamente há vários anos. A preocupante novidade, inteiramente previsível, é esse poder mostrar-se disposto a perseguir quem não concorda com o novo sistema. E já vai deixando claro que pretende impô-lo ao mundo. A consequência do que estamos vivenciando é que o mundo caminha para funcionar assim.

Para que serve então a democracia? Esse sistema de governo já está sendo corroído pelo mais absoluto descrédito, devido principalmente aos altos níveis de corrupção a que têm chegado seus representantes mais exaltados e reconhecidos. As elites decadentes da classe política são as pessoas mais desprezadas em quase todos os países, e sua credibilidade está diminuindo.

         Sem dúvida, o que parece ser uma das maiores transformações do nosso tempo é o ocaso da democracia. E para substituí-la, pretendem impor uma nova e sofisticada forma de totalitarismo, tendo como principais ferramentas de submissão a tecnologia e o controle das redes sociais.

ABIM

________________

* Diretor da Sociedad Colombiana Tradición y Acción.

Nenhum comentário:

Postar um comentário