“Não há um alvo [de vacinação] específico, mas precisamos realmente de vacinar a maioria das pessoas, principalmente de grupos específicos”, acrescenta.
Para o ECDC, o objetivo é então que a UE “possa ter uma cobertura vacinal tão elevada que, mesmo que existam outras mutações endémicas, não haja grandes impactos na mortalidade”, de acordo Bruno Ciancio.
“E penso que podemos alcançar isto antes do final do ano”, antevê o especialista, notando que, se houvesse um aumento da cobertura vacinal, seria possível “controlar a pandemia pelo menos dentro da UE”.
Atualmente, um total de mais de 250 milhões de pessoas totalmente vacinadas no espaço comunitário, o equivalente a 70% dos adultos inoculados com as duas doses.
A ferramenta ‘online’ do ECDC para rastrear a vacinação na UE, que tem por base as notificações dos países (e por isso pode não estar totalmente atualizada) revela que a cobertura vacinal é mais baixa em países como a Bulgária (20% da população totalmente vacinada), Roménia (32%) e Letónia (47%) e mais elevada na Irlanda (87%), Dinamarca (84%) e Portugal (83%).
Estão aprovadas quatro vacinas anticovid-19 pelo regulador da UE: a Comirnaty (nome comercial da vacina Pfizer/BioNTech), Spikevax (nome comercial da vacina da Moderna), Vaxzevria (fármaco da AstraZeneca) e Janssen (grupo Johnson & Johnson).
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.
Especialista não aconselha a retirada imediata de medidas de proteção na UE
“Sabemos que estas medidas são muito, muito eficazes”, pelo que “não há realmente nenhuma razão para suavizar este tipo de medidas neste momento”, indica o diretor do departamento de Vigilância do ECDC em entrevista à agência Lusa.
Apesar de já 70% da população adulta da UE estar vacinada com duas doses de vacina contra a covid-19, num total de mais de 250 milhões de pessoas totalmente vacinadas, Bruno Ciancio considera que ainda não é momento de baixar a guarda.
“Se retirarmos agora as medidas, haverá um aumento dos casos e, em última análise, estes casos não serão apenas entre pessoas mais jovens, envolverão também pessoas mais velhas, pessoas que foram vacinadas”, alerta o responsável.
Este é, de acordo com o especialista do ECDC, um “impacto que se deve evitar”.
“Estamos muito perto de uma situação em que podemos realmente enfrentar esta pandemia e devemos percorrer agora este quilómetro extra agora”, exorta.
Medidas como distanciamento físico, higiene das mãos e uso de máscara nalguns locais são então para manter para já, de acordo com o ECDC, sendo que estas também foram usadas “para levar ao quase desaparecimento da gripe da Europa por duas épocas consecutivas e para impedir milhares de mortes todos os anos”.
“Quando virmos que basicamente não há impacto ou há um impacto muito limitado do vírus [SARS-CoV-2] em termos de mortalidade e de internamentos, então aí várias medidas poderão ser suavizadas, mas ainda não é esse o caso”, assinala o responsável.
Assim sendo, “o objetivo é realmente vacinar mais população para que possamos progressivamente também suavizar estas medidas”, insiste o diretor do departamento de Vigilância do ECDC, adiantando que “o que vai acontecer na Europa depende muito da capacidade de prosseguir com os programas de vacinação”.
Uma hipótese afastada por Bruno Ciancio é a de os países da UE terem de recorrer a novos confinamentos.
“No ECDC nunca recomendámos confinamentos cegos porque são devastadores para a população, pelo que é sempre o último recurso, mas penso que isso não voltará a acontecer”, indica o especialista à Lusa.
Também rejeitada por Bruno Ciancio é a possibilidade de encerrar estabelecimentos escolares: “Há consenso agora que é muito mais prejudicial fechar as escolas do que mantê-las abertas, por isso penso que é muito importante que as escolas estejam a funcionar e que as crianças possam ter a sua rotina, a sua educação e o seu desenvolvimento”.
Até porque “as medidas que estão em vigor nas escolas são eficazes”, refere o especialista, numa altura de regresso às escolas.
Já questionado pela Lusa sobre a vacinação de crianças acima dos 12 anos, como autorizado pelo regulador europeu e já em curso em países como Portugal, Bruno Ciancio vinca que “o principal objetivo [dos Estados-membros] deve ser o de assegurar que a população adulta seja vacinada”.
“E só depois de isto ser alcançado é que devemos considerar a vacinação de grupos etários mais jovens”, adianta, notando que muitos países europeus “ainda não estão” na fase de vacinar crianças, dada a baixa cobertura vacinal de outras faixas de população.
Centenas de milhares de mortes evitadas por vacinação
“No que toca ao impacto das vacinações na mortalidade, ainda não fizemos estudos específicos, mas […] durante a última vaga, entre dezembro e abril, houve uma mortalidade média de 50 a 100 mortes por milhão e agora, no pico da atual vaga que é substancial em termos de número de casos, a mortalidade é inferior a 10 por milhão”, indica o diretor do departamento de Vigilância do ECDC, Bruno Ciancio, em entrevista à agência Lusa.
Numa altura em que a UE já superou as 250 milhões de pessoas totalmente vacinadas, o especialista acrescenta que “os cálculos aproximados indicam que, até agora, as vacinas conseguiram provavelmente evitar algumas centenas de milhares de mortes”.
“Estes não são cálculos exatos e precisamos de fazer uma análise adequada que ainda não é possível porque as vacinações ainda são recentes, […] mas a estimativa geral mostrará que temos menos centenas de milhares de mortes” na UE e Espaço Económico Europeu, assinala.
Falando sobre a atual situação epidemiológica na região, Bruno Ciancio aponta que “tem havido um aumento [das infeções] em alguns países, mas isso não se reflete no número de mortes, como aconteceu noutras vagas anteriores, o que é efeito da vacina”.
Em termos concretos, a incidência média de infeções na UE está nos 200 casos por 100.000 habitantes, “que agora está estável, desde há três semanas”, após aumentos consecutivos, principalmente devido à dominância da variante Delta e à época turística, segundo o especialista.
Ainda assim, “o que é agora muito diferente das vagas anteriores é que não assistimos a um aumento correspondente da mortalidade e de doenças graves”, sendo então resultante da campanha de inoculação, reforça.
Numa avaliação de risco divulgada em junho passado, o ECDC estimava que o número de casos de covid-19 iria aumentar acentuadamente no verão da UE, nomeadamente devido à mais transmissível variante Delta do SARS-CoV-2, que nas contas divulgadas na altura iria equivaler a 90% das novas infeções na Europa até final de agosto.
E é isso mesmo que agora se verifica, de acordo com Bruno Ciancio, que revela à Lusa que “a variante Delta equivale agora a mais de 96% de todas as amostras sequenciadas [de novas infeções] na Europa”, o que significa que “é praticamente a única em circulação” no espaço europeu.
“A mutação Delta substituiu todas as outras, que já só circulam a um nível muito baixo e, provavelmente, desaparecerão”, acrescenta.
Devido à maior transmissibilidade da Delta, “esta situação [de incremento de casos] era esperada”, admite.
O que para Bruno Ciancio não é certo é como é que a pandemia vai evoluir na UE nos próximos meses, já que isso “depende muito do nível de cobertura vacinal nos vários países e é um problema global”.
Notando haver grandes discrepâncias na vacinação entre os países europeus, o responsável adianta à Lusa que “o principal desafio para a UE agora é enfrentar o problema das pessoas que hesitam em ser vacinadas”.
Bruno Ciancio aconselha assim a esforços de comunicação para aumentar os números de população vacinada.
Por: Ana Matos Neves da agência Lusa
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