A poluição dos oceanos com plásticos afecta o crescimento e até os hábitos alimentares dos peixes. Aqueles que comem plástico, não voltam a querer outra coisa e passam a ignorar a sua comida natural, conclui um novo estudo científico.
Um estudo com larvas de perca, expostas a altas concentrações de micro-plásticos, publicado esta sexta-feira na revista Science, apurou que a poluição dos oceanos com plásticos acarreta “efeitos dramáticos” - e diferentes do que se esperava
A equipa de cientistas da Universidade de Uppsala, na Suécia, usou em amostras de embriões e de larvas de perca do Mar Báltico, que expôs a diferentes níveis de concentração de micro-plásticos de poliestireno.
Estes micro-plásticos são partículas com poucos milímetros de tamanho, que existem nos oceanos como resultado do degaste ou da desagregação de objectos de plástico maiores que, todos os anos, são despejados aos milhares e milhares nas águas de todo o planeta.
A exposição a “concentrações relevantes” destas partículas “inibe a eclosão, diminui as taxas de crescimento e altera as preferências alimentares e os comportamentos inatos das larvas de percas europeias”, concluíram os investigadores.
Os peixes apresentaram “comportamentos alterados” – passaram a comer apenas micro-plásticos, por exemplo,ignorando a sua comida natural, o plâncton.
“Esta é a primeira vez que se descobre que um animal prefere alimentar-se de partículas de plástico e é motivo de preocupação“, realça o biólogo Peter Eklov, investigador do Departamento de Ecologia e Genética da Universidade de Uppsala, em declarações ao jornal inglês The Telegraph.
Os resultados do estudo permitiram ainda constatar que os peixes expostos às mais altas quantidades de plástico “ignoraram completamente o cheiro de percas feridas atiradas para os seus tanques, uma fragrância que costuma fazer com que congelem para evitar serem vistos”.
Quando colocados num tanque com lúcios, predadores das percas, os peixes expostos ao plástico foram apanhados e comidos “três vezes mais depressa” do que os peixes que cresceram em águas livres de plástico.
A isto acresce o facto de os peixes expostos ao micro-plástico crescerem mais lentamente, apresentando-se também menos activos.
Volvidos cerca de dois meses depois da exposição, os peixes ainda apresentavam “as entranhas cheias de partículas de plástico”.
Os investigadores concluíram que o micro-plástico actua “tanto quimicamente como fisicamenteno desenvolvimento e na performance de larvas de peixes”, contribuindo, designadamente, para o declínio na população de peixes.
Notícias recentes apontaram para a possibilidade de, em 2050, haver mais plástico nos mares do que peixes.
A bióloga marinha Oona Lonnstedt, uma das investigadoras envolvidas no estudo, realça que se os resultados verificados com as larvas de perca forem semelhantes noutras espécies, “isto traduz-se emaumento das taxas de mortalidade“.
“Os efeitos nos ecossistemas aquáticos podem ser profundos”, diz a investigadora.
SV, ZAP
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