Vittorio
Medioli
Retorno
a esta coluna depois de 60 dias navegando numa campanha eleitoral para prefeito
de Betim. Nunca sonhei com esse cargo, até as coisas ficarem tão graves na
cidade que me adotou. Tempos obscuros, quase tudo ao avesso e ainda num quadro
nacional desalentador, marcado por atitudes aviltantes. A minha saúde física,
que me afastou em 2006, se recuperou neste ano, devolveu-me a capacidade para a
vida pública, e ainda com profundas mudanças internas.
Descrença
em políticos, tanto pelas ações nefastas de alguns como pelas omissões
imperdoáveis de outros, é a marca negativa deste momento. A catástrofe atingiu
os mais desprotegidos. Hoje se cobra também dos omissos, os que não impediram a
demolição do país. O povo sofre desumanamente, as oportunidades de emprego
desapareceram, a sociedade se derrete em desespero. A recessão é do tamanho do
imobilismo das elites gordas, aquinhoadas de privilégios, enquanto sobre o povo
se abate a desgraça impiedosa. Passou da hora de passar o Brasil a limpo! De
arquivar figuras menores que ocupam cargos maiores. Crescem as rendas dos
partidos todos, e nenhum se invoca. Crescem proporcionalmente à mediocridade e
ao alheamento da moralidade. Uma sopa de siglas encobre a mediocridade.
Como
Dante explicou, “aos omissos em tempo de crise moral serão reservados os piores
lugares do inferno”. Deus os castigará, quando depende da incalculável sabedoria
dEle e do merecimento dos oprimidos. Justamente quando o povo conseguir dilatar
sua consciência, tudo acontecerá. Eu, para me candidatar, tive que livrar-me da
vida do conforto e do medo, entender que Deus me concedeu uma sequência de
experiências incomuns, fez-me compreender a fé dos estoicos, deu-me vida para
gastá-la por uma causa maior que a riqueza pessoal. Aprendi a manter a lucidez
nos momentos mais críticos; apesar de não ser imune às pequenas contrariedades,
reconheci na pele a opressão da maldade atrevida que se arroga a impunidade na
justiça divina. Fez-me entender que, quanto maior, pior o sofrimento, ainda
maior será a glória. Não existe vitória fácil, e as maiores são as mais suadas.
A
vida se expande como o horizonte na subida da encosta da montanha. Sabia
perfeitamente que o fato de ter apenas 40 anos de Brasil, debatendo-me à frente
de empreitadas desafiadoras, serviria para ser atacado por adversários. Assumi
ser “italiano” sem enrubescer, deixei que gritassem a minha italianidade mineira
nas formas mais estridentes. Acreditei que o genuíno pensamento brasileiro não
é xenófobo, e acabaria aceitando um “importado” honesto a uma alternativa sem
conteúdo. Relutei inicialmente ao cálice, sabia dos meus defeitos e que, se não
fossem suficientes para me derrubar, enfrentaria injúrias e ofensas. Deveria
aceitar tudo como poeira inevitável numa pista de terra com dez competidores
que descobririam, em poucos dias, quanto improvável seria me derrotar.
Adotei
apenas propostas para resgatar a qualidade de vida das pessoas, nas quais
acredito. Não perdi tempo em responder a injúrias. Olhei para a frente e para o
alto, me aconselhei na sabedoria antiga, controlei os instintos. Tomei
emprestado de Gandhi o “ahimsa” (“não violência”) e o “satyagraha” (“força da
verdade”). Procurei mostrar soluções reais, fortalecidas pela crença de que
poderia pô-las em prática.
Escutei
em maio último: “Ou vai em frente e assume, ou sua vida se encerra”. Deveria me
prestar, esquecer-me dos medos. A ordem era ficar estritamente na legalidade,
recusar as tentações, dar o melhor da experiência que recebi da vida e, ao ser
alvejado por pedras, guardá-las para construir obras. Precisava provocar nas
pessoas o que tem de bem dentro delas. Paz, disposição, generosidade, sinceridade,
sorrisos de agradecimento, suportar a baixeza sem me nivelar-se ao ínfimo.
Confiar no Supremo e no seu amparo.
Pensei
sempre no segundo turno, até um raio penetrar as nuvens e o vento dissipá-las
mostrando a vitória. Estou eleito, agora, e à frente da reconstrução de uma
cidade que quer voltar a crescer e ter qualidade, apesar de tudo e dos ventos
contrários. Com honestidade e trabalho colocaremos com gente boa a casa em
ordem, lutaremos para anular as dívidas injustamente contraídas, para minimizar
os erros e as mazelas que se banalizaram na administração. Precisaremos fazer
mais e melhor com muito menos. Convencer que o direito do povo é maior que
qualquer interesse pessoal. Repeti mil vezes que “tem jeito”, precisarei agora
mostrar o jeito.
Sei
que o sofrimento fez amadurecer a consciência do povo em Betim e poderei contar
com torcida e apoios sinceros. Trabalharei para que o mercado de trabalho, e
não a prefeitura, ofereça oportunidades de empregos de qualidade. Não terei
outro partido mais importante que não o bem do ser humano. Como um bom pai, que
um prefeito tem que ser, me preocuparei com o filho frágil, com as crianças e
os jovens para que possam ser preparados a formar uma sociedade organizada e
estruturada. Abusarei da confiança na justiça do Alto, das forças que possuímos
por concessão divina. Os 61,6% dos votos recebidos em primeiro turno
representam o dever de importar-me principalmente com o bem das pessoas, com
suas reais aspirações. Eliminar despesas inúteis, privilégios odiosos, que encurtam
as políticas sociais.
Dar
vagas em creches para as crianças, atenção integral para os jovens, ambiente de
qualidade nas escolas, ensino profissionalizante, oportunidades de primeiro
emprego. E mais, minimizar a violência, as complicações e as taxas para quem
quer empreender e ganhar sua vida honestamente. Procurarei dar apoio total para
quem quer gerar empregos, rendas e arrecadação. A saúde será organizada e livre
de corrupção; os ambientes escolares, dignos e acolhedores.
Comprometi-me
a tirar das gavetas as centenas de empreendimentos pequenos e médios,
asfixiados pela burocracia, a abrir as portas para grandes planos, extirpar a
corrupção (não com a polícia, mas pela transparência), a humanizar os bolsões
de pobreza, a levar alento aonde as pessoas caíram na miséria e depressão.
Valorizar quem trabalha e retirar de cena quem atrapalha. Sei que precisarei me
livrar de pensamentos negativos, suportar o que for preciso, acreditar no
amparo do Alto, transmitir entusiasmo, o mesmo que me fez sobreviver, inexplicavelmente,
até hoje. Agradeço aos meninos e às meninas que se empolgaram com minha música,
que fizeram a festa por onde passei, os milhares de sorrisos que me carregaram
de força, os olhos dos jovens brilhando de esperança, os abraços que me emprestaram
energias. Acredito no bem que apresentei como meta, na possibilidade de
transformar uma cidade para ser mais acolhedora, atenta aos seres humanos nos
momentos mais desafiadores da vida.
E,
se nem tudo acontecer como imagino, sei que a maior obra estará no exemplo
oferecido. Vale sempre ser otimista, acreditar que amanhã é o primeiro dia de
uma vida que podemos reinventar. Deus é imenso e misericordioso, e nós somos
seus filhos.
João
Antonio Pagliosa, deseja vida longa a Vittorio Medioli... O resto irá acontecer
naturalmente... Glória a Deus!
Curitiba,
16 de outubro de 2016
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