No dia 30 de Outubro, a sede da Academia Musical Arazedense (AMA ) encheu-se para assistir ao tributo ao maestro Angelino Ferrão, cujo evento integrou o programa comemorativo do XV aniversário do grupo “Sax & Companhia”.
A tarde cultural - tributo ao Maestro Angelino Ferrão e festa de aniversário do “Sax & Companhia”, que teve teve a direcção musical de Bruno Abrunheiro - incluiu uma apresentação multimédia preparada pelos filhos do homenageado (Raul, Carlos Alberto e Fernando) e contou com a participação do Rancho “Os Esticadinhos” de Cantanhede, Grupo de Cantares da Sociedade Boa União Alhadense (SBUA), Tocata do Rancho 1.º de Maio da SBUA, do Ensemble Saxofones de Arazede (AMA) e de diversos músicos simpatizantes.
Após a interpretação da obra “Sonho de uma noite”, de 1931, com todos os participantes em palco, o momento foi finalizado com a audição de uma gravação original do Conjunto Academia, em 1955, da peça “Eu Sou Careca”.
Além dos espetáculos musicais, dança e multimédia, a iniciativa contou com uma exposição de instrumentos musicais que foram pertença de Angelino Ferrão e um conjunto de partituras escritas pelo homenageado, bem como caricaturas, desenhos e ilustrações, mostrando a sua forte dimensão artística.
Tratou-se de uma coprodução do “Sax & Companhia” e de uma comissão dinamizadora do evento constituída pelos filhos, amigos e músicos que conviveram com o maestro homenageado, que teve o apoio da AMA, da Sociedade Boa União Alhadense, das Juntas de Freguesia de Alhadas e Arazede e do Município de Montemor-o-Velho, que mereceu a presença de autarcas concelhios e das freguesias de Arazede e Alhadas, além de dirigentes associativos e entusiastas da música filarmónica.
A diversidade artística de Angelino Ferrão é tal que, aliada ao facto de os exemplares não estarem devidamente organizados e se terem dispersado ao longo dos tempos, tornou-se necessária uma pesquisa intensiva que reconstituísse a sua obra, facilitando-lhe o acesso ao público em geral. Durante mais de um ano, realizaram-se pesquisas em diversas Bibliotecas e Arquivos Municipais do Distrito de Coimbra, Sociedade Portuguesa de Autores, Biblioteca Nacional e ainda junto de alguns descendentes de músicos que integraram projectos dirigidos por Angelino Ferrão de outros tempos, como é o caso das orquestras “Academia” (1930) e “Betty Boop” (1931) e dos ranchos folclóricos de Cantanhede e Alhadas (1937). Na sequência deste tributo, a organização está empenhada na divulgação online de parte da obra de Angelino Ferrão, nomeadamente, na plataforma wikipédia e rede social facebook.
Angelino Gomes Ferrão (1910 – 1994) foi (e continuará a ser) uma das pessoas de insigne importância para o património humano e histórico da comunidade de Arazede, para os cultores filarmónicos a nível regional e nacional, e, muito em especial da AMA. Angelino Ferrão, desde muito novo, manifestou o gosto e interesse pela música, facto que o levou a ingressar na Sociedade Filarmónica de Arazede, à qual se manteve ligado toda a vida. Aos 6 anos já tocava flautim e, mais tarde, ocupou o cargo de regente, que desempenhou até aos 78 anos de idade. Dessa ligação, surgiram inúmeras ideias e novos projectos pois os seus dotes alargavam-se ao teatro, opereta e revista, bem como às artes gráficas, tendo realizado inúmeras caricaturas que se encontram publicadas em livro. Paralelamente, também dirigiu a Filarmónica de Alhadas.
O valor de um dos maiores “cultores da música filarmónica” ficou, para sempre, registado, nos anais do Município de Montemor-o-Velho, como sendo a primeira pessoa titular da Medalha de Mérito Cultural Municipal.
No espetáculo, em Arazede, agradecendo “o apoio de todas as entidades e pessoas que colaboraram”, Bruno Abrunheiro lembrou que “o projeto demorou cerca de um ano a preparar”, tendo feito “a descoberta de algumas partituras em locais que não estava à espera”.
Com a sede em obras de beneficiação, o presidente da AMA e vereador, Aurélio Rocha, referiu que se procurou “tornar a sala de visitas da freguesia de Arazede em condições para receber o espetáculo”, sublinhando que “foi mais um brilhante momento de homenagem ao maestro Angelino Ferrão” e que “momentos como este nunca são demais”. Referindo que apesar de estar mandatado para falar em nome dos seus três filhos presentes, afirmou que “somos nós é que vos agradecemos e agradecemos também ao vosso pai”. Na iniciativa, onde também marcaram presença os vereadores Abel Girão e Jorge Camarneiro, o presidente da Junta de Freguesia de Arazede, Eusébio Campos, também teceu palavras de elogio ao tributo a Angelino Ferrão.
Encerrando o momento protocolar, o presidente da Assembleia Municipal e presidente da Assembleia-geral da AMA, Fernando Ramos, aludiu aos valores transmitidos pelo homenageado, sem esquecer, igualmente, “os valores transmitidos por João Ferreira, por Teresa Pimenta e por todos aqueles que faziam parte da universidade dos que não sabiam ler nem escrever”. “Quem não conhece a História tem alguma dificuldade em encaixar o presente e alguma dificuldade em programar o futuro”, salientou.
O Tributo a Angelino Ferrão realizou-se em dois momentos distintos, ficando concluído no dia 6 de novembro nas Alhadas, Figueira da Foz. De acordo com a organização, Arazede e Alhadas foram as “localidades escolhidas por serem as duas a que o maestro mais dedicou a sua vida, na faceta musical”.
Aldo Aveiro
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