quinta-feira, 2 de março de 2017

RÁDIOS REBELDES!

Martinho Júnior, Luanda  
No dia 24 de Fevereiro e 2017 a Embaixada de Cuba deu a conhecer elementos precisos sobre o significado múltiplo dessa data no que diz respeito à memória histórica da luta pela independência, pela soberania e pelo socialismo revolucionário que anima a vida, nos termos salutares da manifesta vitalidade e autenticidade crioula do povo cubano, medida pelos “barómetros” da inteligência revolucionária, do internacionalismo, da solidariedade, da participação das instituições e dos cidadãos e, acima de tudo, para os progressistas de todo o mundo, transmitindo o exemplo digno, humilde e sábio da saga cubana, enquanto inquestionável património ao dispor, como um livro aberto e pulsante, de toda a humanidade.

No dia 24 de Fevereiro ao comemorar as múltiplas memórias que a data nos impõe, Cuba evoca muitos acontecimentos que reflectem essa heroica saga, que a coloca como um farol iluminando toda a humanidade e por isso foi a bem escolhida data para apresentar o seu programa de actividades para este ano, intrinsecamente associada à história e às estórias comuns dos povos angolano e cubano, nesta “trincheira firme da revolução em África” que apesar das imensas e profundas alterações, para muitos Angola não deixou de continuar a ser.

Entre os acontecimentos possíveis lembrar a 24 de Fevereiro, está a data que marca o início da emissão da “Rádio Rebelde” há 58 anos, na efervescência plena da guerrilha revolucionária na Sierra Maestra, algo que toca a todos os membros do MPLA, a todos os angolanos, até por que também houve uma similar, o “Angola Combatente”, emitido durante a longa Luta de Libertação contra o colonialismo a partir de Brazzaville.


O “Angola Combatente” tinha um critério próximo, nos seus objectivos e conteúdos, ao “Rádio Rebelde” emitido da Sierra Maestra, por exemplo: muitos dos comunicados e muitas das suas mensagens emitidos pelas suas ondas em Brazzaville, eram elaborados a partir do que era recebido das redes clandestinas que estavam espalhadas dentro e fora do território nacional (no exterior particularmente no Zaíre e mesmo na Zâmbia), motivadas em operações e activismos de toda a ordem, traduzidos nas armas libertárias da guerra psicológica de então!

De entre os muitos membros do MPLA que clandestinamente conseguiam pelas mais variadas vias, contacto com a direcção do MPLA, com o sistema de comunicações do MPLA na guerrilha, estava a célula “Kipaka” que operava no Lubango, no seio da qual se inscrevia o trabalho dum nosso camarada e companheiro de luta já falecido, que dá pelo nome completo de Alberto José Barros Antunes Baptista…

Também era assim com a “Rádio Rebelde” nos tempos da Sierra Maestra, tal e qual o era o “Angola Combatente” na primeira “Linha da Frente” progressista e “informal” contra o bastião das trevas na África Austral, a linha que se estendia em 1965 entre Brazzaville, as montanhas a oeste do Lago Tanganika (onde passou a 1ª coluna do Che) e Dar es Salam…
  

Sabemos hoje que nem um episódio como a Revolta Activa fez esmorecer o “Angola Combatente” e, se não existe programa ou emissora hoje com uma vocação voltada para reforço da ampla luta contra o subdesenvolvimento, sem deixar ao mesmo tempo de cultivar ensino público, pedagogia e a memória histórica e antropológica que advém das outras etapas de luta anterior levada a cabo pelo Movimento de Libertação em África, nomeadamente pelo próprio MPLA, muitos jornalistas em rádios e televisões dispersas, parece até que se têm inspirado no património patriótico comum que era o “Angola Combatente”, que era não só ouvido pelos guerrilheiros, militantes, simpatizantes e amigos do MPLA de então, mas por muitos jovens progressistas da época que percebiam em Angola quanto o Estado Novo era retrógrado, teimoso e impraticável em relação às legítimas aspirações de todo o povo angolano, entre eles, eu próprio!

Sabemos que independentemente das trajectórias, o MPLA reúne militântes sensibilidades, algumas das quais ainda perdidas diáspora fora, cujo potencial merece ser muito mais amplamente redescoberto para fazer face aos desafios no âmbito duma democracia que sendo embrionariamente representativa, urge também tornar participativa!

A Associação Tchiweka de Documentação, “ATD”, está aí e, muito embora com suas limitações, é um dos exemplos embrionários, meritosos e patrióticos que tem aberto um caminho que pode e deve ser incentivado face aos desafios contemporâneos e futuros.

Há um imenso trabalho de mobilização patriótica, em especial em relação à juventude angolana, que está por fazer e está claramente em aberto!

Sabemos hoje que a passagem do Che pelo Congo não foi, nem é a “história dum fracasso” e a prova somos nós mesmos, os patriotas angolanos com consciência, criatividade, sede pela vida, sede pelo futuro e memória… por isso é tão importante dar muito mais atenção à luz emanada pelo farol de Cuba, a mão amiga que foi estendida a Angola nas horas mais difíceis e decisivas e não mais nos abandonou, pelo muito que ainda com ela há que inspirar!

A Luta Continua!

Venceremos!

A consultar:
“Rádio Rebelde” ao vivo e para todo o mundo – http://www.radiorebelde.cu/audios-bajo-demanda/radio_rebelde_en_vivo.htm
Amostra-síntese ilustrativa que aborda o valor, em termos de guerra psicológica, do “Angola Combatente” –http://www.rtp.pt/play/p1954/e214440/cancoes-de-guerra
Cuba e a memória dos “grandes saltos libertários” em África – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/02/angola-cuba-e-memoria-do-grande-salto.html

Fotos:
Dia 24 de fevereiro de 2017 na Embaixada de Cuba (apresentação do programa de actividades da Embaixada em Angola para o corrente ano); nessa apresentação, sentados nas cadeiras alguns dos combatentes angolanos de Cangamba e Cuito Cuanavale;
O Comandante Che Guevara foi, com o Comandante Fidel de Castro, fundador da Rádio Rebelde que começou na Sierra Maestra em Cuba há 58 anos;
O Camarada José Eduardo dos Santos, que pertenceu às comunicações do MPLA durante algum tempo na guerrilha era, enquanto tal, um “municiador” do “Angola Combatente”;
O Camarada Alexandre Moreira Bastos, “Sacha”, ladeado por outros camaradas da ASPAR, era também membro das comunicações do MPLA durante a guerrilha e outro “municiador” do “Angola Combatente”; conheceu bem o valor das mensagens do Camarada “Kipaka”;
O falecido Camarada Alberto José Barros Antunes Baptista, “Kipaka”, é um dos muitos e muitos membros do MPLA que de dentro de Angola, alimentaram a direcção em Brazzaville com a indispensável informação sobre o desenvolvimento da luta, bem por dentro dos sistemas coloniais; o camarada “Kipaka” a partir do Lubango e cobrindo a Frente Sul…

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