sexta-feira, 28 de abril de 2017

Thurston Moore: o prazer do rock depois dos Sonic Youth

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Ipsilon
 
 
  Vasco Câmara  
Thurston Moore, 58 anos, músico, poeta, editor, improvisador, herói do rock alternativo, criador de tangentes entre cultura popular e radicalismo artístico, disse a Vítor Belanciano que está num bom momento.
Antes do mais, di-lo o disco, Rock n' roll Consciousness, álbum que provoca a saudável sensação que estamos a escutar algo que nos é familiar - os Sonic Youth - mas que não tínhamos ouvido desta forma. "Por outras palavras ainda: ele está a olhar para trás ou para a frente? Difícil dizer. Por isso talvez seja melhor, simplesmente, não dizer". E ouvir.
Depois, toda a conversa com Thurston Moore é de uma esplêndida serenidade. Leiam isto, por favor:
“A forma como o rock é apresentado hoje no centro do mercado corresponde a uma ideia genérica ou a uma fórmula. A experimentação foi sendo deixada de lado e as editoras deixaram de se interessar por promover ideias radicais, pelo menos no consumo de massas e no que diz respeito ao rock & roll. Nunca existiu tanta música rock interessante como hoje, mas regressou às caves mais invisíveis. De alguma forma é como se o cenário pop-rock não fosse tão apelativo para as massas como já foi. Agora é como se cada artista fosse convidado a criar a sua própria alternativa, à base de um estilo de vida modesto, sem ambições de gerar cultos de celebridade como no passado.”
A propósito de serenidade - falamos agora de Fátima, filme de João Canijo, obra de suspensão, de disponibilidade para o silêncio, por parte de um cineasta muitas vezes acusado de cinismo e de manipular o kitsch.
11 mulheres vão a pé, de Vinhais, em Trás-os Montes, até ao Santuário de Fátima. Canijo não se pronuncia sobre a fé que as move. Transporta-as, assiste à fé delas. A fé de Canijo, em Fátima, é outra: que o filme apareça. E, sim, é preciso esperar pela última sequência, uma bomba de comoção que sacode tudo o que parecia ter sido estabilizado por quase três horas de filme. 11 actrizes testemunham uma aparição.
E podemos testemunhar um cineasta, muitas vezes acusado de cinismo (não é por acaso que Noite Escura, em 2004, e Sangue do Meu Sangue, em 2011, ficam como títulos que construíram uma notoriedade), a despojar-se do melodrama, do pathos, e a abeirar-se de um silêncio reflexivoÉ a possibilidade do silêncio que fascina, em suma.
Daniel Ribas, investigador, autor de tese de doutoramento sobre o cinema de Canijo, faz um percurso por três décadas de trabalho do cineasta: família, violência, Portugal. E permito-me recordar a magnífica reportagem de Francisca Gorjão Henriques sobre a rodagem, acompanhando o trabalho de campo das actrizes do filme, que viveram e trabalharam como transmontanas, expondo-se ao "contágio": num supermercado, numa pastelaria, no centro de saúde, na agricultura…
Nuno Crespo explica-nos que a enigmática exposição de Francisco Tropa O Bigode Escondido na Barba é uma forma de manter intacta a magia da obra de arte.
Gorillaz Bob Dylan: eis a banda sonora deste Ípsilon. Damon Albarn espraia todo o seu amor pela música negra norte-americana em HumanzDylan aventura-se pelo cancioneiro americano - Triplicate para dar voz ao que permanece.
Gonçalo Frota antecipa o que vamos ver naquela que é a primeira encenação de Luis Miguel Cintra após o fim do Teatro da Cornucópia: o encenador abriu as portas ao processo de construção do espectáculo Um D. João Português, a partir de Molière. Sábado e domingo, Montijo.

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