O ex-frei Leonardo Boff postou em seu blog no dia 21 de abril uma análise totalmente elogiosa de artigo da jornalista espanhola Carla Jiménez, esquerdista extremada como ele, e, abaixo, divulgou o texto dela na íntegra.
Trechos do panegírico do corifeu da Teologia da Libertação:
“Precisava vir alguém de fora, de uma jornalista Carla Jiménez do jornal espanhol El País (17/04/2017), para nos dizer as verdades que precisamos ouvir. Seguramente a grande maioria concorda com o conteúdo e os termos desta catilinária […]. Formou-se entre nós, praticamente, uma sociedade de ladrões e de bandidos que assaltaram o país, deixando milhões de vítimas, gente humilde de povo, sem saúde, sem escola, sem casa, sem trabalho e sem espaços de encontro e lazer. […] Nenhuma sociedade minimamente humana e honesta pode sobreviver com semelhante câncer […] Enganam-se aqueles [que julgam] que eu, pelo fato de defender as políticas sociais […] realizadas pelos dois governos anteriores, do PT e de seus aliados, tenha defendido o partido. A mim não interessa o partido, mas a causa dos empobrecidos que constituem o eixo fundamental da Teologia da Libertação, a opção pelos pobres […] causa essa tão decididamente assumida pelo Papa Francisco. É isso que conta”.
Acima, a opinião do antigo franciscano; em resumo, a jornalista diz verdades que precisamos ouvir. Extratos das tais verdades:
“Um ministro da Fazenda, Guido Mantega, que determinava os destinos do dinheiro público depois de supostamente negociar milhões de doação com uma fornecedora do Governo, anotando valores a pagar ao partido num papelzinho, segundo Marcelo Odebrecht. Um irmão do ex-presidente Lula que teria recebido mesada de 6.000 reais por ser simplesmente irmão do ex-presidente, segundo outro. [...] As diretorias da Petrobrás eram do PT, PP e PMDB. […] Em determinado trecho da sua delação, Marcelo fala sobre um diálogo com Graça Foster, ex-presidente da Petrobras. ‘Sempre fui aberto com Graça… fui franco quando me perguntou… ‘, diz ele. Na conversa, admitia que pagara por fora para o PMDB e para o PT. […] Ao PT coube a maior fração [das propinas da Odebrecht], 408,7 milhões, porque estava com a máquina pública federal. […] Lula, por outro lado, mais do que os crimes a que responde, feriu de golpe a esquerda no Brasil. […] Se embebedou com o poder. […] Saiam todos, por favor. Vocês são maus exemplos”.
No texto formigam críticas severas a Lula e ao PT. O episódio foi comentado na imprensa, em especial nas redes sociais. Alguns dos comentários tinham como pano de fundo, consciente ou inconscientemente, que Leonardo Boff patenteou o fracasso da política de apoio escancarado aos objetivos do PT, posta em prática por CNBB, Pastoral da Terra, CIMI, frei Betto e tantos outros. A esquerda católica tornou-se corresponsável da desgraça que se abate sobre o povo brasileiro. A respeito da atitude de Leonardo Boff, abundaram qualificações depreciativas, como covardia, hipocrisia, cinismo.
Estava evidente, perdia muito o ex-frei, perdiam muito as esquerdas. Leonardo Boff, talvez por ter levado um puxão de orelhas — a conhecida enquadrada — postou um meio desmentido ao seu post anterior:
“Correm pelas redes sociais críticas que teria feito a Lula. Elas são falsas. Pessoalmente não fiz nenhuma crítica. O que fiz foi publicar no meu blog um artigo de Carla Jiménez [...] No referido artigo Carla Jiménez, no final, faz críticas ao Lula, o que considero, dentro da democracia, legítimo, embora não concorde”.
O que dizer do episódio? Alguém poderia vislumbrar na nova posição do antigo filho de São Francisco um começo de arrependimento. Tomara. Deus acolhe paternalmente o coração contrito, ainda quando enormes o crime e o pecado. “Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper. Tibi soli peccavi, et malum coram te feci”. (“Reconheço a minha iniquidade e meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti só e fiz o mal diante dos teus olhos”). A conduta exemplar de Davi ilumina os passos das gerações através dos séculos, levando-as a mudança de vida e a caminhar na virtude.
Quanto aos posts do ex-frei Leonardo Boff, neles não vi começo de nada. Inexiste semelhança entre o santo Rei penitente e o frade, manifestamente impenitente, pertinaz na adesão a ideologias e programas que jogaram (e ainda têm potencial para tanto) o Brasil nos precipícios que, como a cobra que hipnotiza o passarinho, sempre atraíram os mitomaníacos do ateísmo coletivista.
Termino. Estão pipocando de todo lado posições como a acima relatada, mesmo entre a cumpanherada petista. Muitos, percebendo água no porão, estão pulando fora do barco. Acho mais provável que também o ex-frei Leonardo Boff esteja procurando se eximir da parcela de culpa que tem na desgraça atual do povo brasileiro.
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