terça-feira, 23 de maio de 2017

Em Manchester, o terror foi atrás dos mais frágeis do mundo

P
 
 
Enquanto Dormia
 
David Dinis, Director
 
Um ataque bárbaro à porta do concerto de Ariana Grande, em Manchester, fez pelo menos 22 mortos e mais de 50 feridos. Pior, desta vez: a explosão foi provocada por um bombista-suicida, um caso raríssimo na Europa. E foi provocada à porta de um recinto que leva 21 mil pessoas, cheio de crianças e adolescentes - porque são sobretudo eles que Ariana Grande leva atrás. O dado mais triste, entre todos os que preferíamos não contar: há crianças entre as vítimas; há também crianças perdidas dos pais, depois do pânico da saída do recinto.
Durante a madrugada, o Manuel Louro e o Pedro Guerreiro foram mostrando o que é razoável mostrar, dos vídeos que entretanto apareceram online, e contando os testemunhos de quem viveu a pior noite das suas vidas. Esta manhã, o Hugo Torres e a Liliana Borges abriram um minuto-a-minuto, para nos irem actualizando com o que já sabem sobre o caso. Aqui ficaremos, claro. Com a dor, que nunca evitamos, e o choque de quem percebe que pode sempre ser pior.

A Grécia só terá uma solução para a dívida em 2018. A reunião do Eurogrupo adiou uma decisão sobre o pedido de Alexis Tsipras, mas deixou caminho aberto para a aprovação da próxima tranche do empréstimo.
Flynn, o ex-conselheiro de Trump, mentiu ao Pentágono sobre as suas ligações à Rússia. Nomeadamente, sobre o dinheiro recebido e os contactos encetados lá por Moscovo. Atenção: mentir a investigadores federais pode incorrer num crime punível até cinco anos de prisão. Não admira que Flynn esteja a invocar a 5ª emenda para não depor na investigação.
Quanto ao Presidente, deu seguimento aos cortes no orçamento: menos dinheiro para os programas de apoio aos mais pobres e na saúde pública, grandes cortes nos impostos e um ambicioso plano de investimento militar. A melhor síntese está no NY Times.
Por cá, saiu o 4º treinador seguido sem títulos do FC Porto - na pior série de sempre de Pinto da Costa. Os números mostram que Espírito Santo não teve protecção divina. Esta manhã, os jornais desportivos voltam a apostar... na aposta do ano passado: Marco Silva.

As notícias do dia

Ontem foi o dia em que Costa e Passos concordaram"Tem de ser a última vez", disseram os dois, um à hora dos telejornais, outro logo pela manhã. Reagiam, claro, à saída de Portugal da linha vermelha da Europa, aquela a que ninguém parece querer voltar. O desafio é evitar as recaídas do passado. No Editorial do dia, chamo-lhe "viver com mais 20 centímetros".
Para já, sublinhem-se as boas novas: os juros da dívida já estão bem próximos dos 3%; e o Governo já pensa em usar as regras de flexibilidade para evitar novos cortes em 2018; para ser perfeito, só falta mesmo uma descida do rating, assinala o embaixador português na OCDE, Álvaro Santos Pereira. A tendência é tão feliz que Centeno até reabriu as portas do Eurogrupo.
Mas convém manter os pés no chão: é que Bruxelas espera um "esforço substancial" do Governo em 2018.

Do reino das boas notícias, passe pela nossa manchete de hojePortugal já tem 30 pedidos de prospecção e pesquisa de lítio, o chamado 'petróleo branco' que é essencial para fazer andar os carros eléctricos. Um grupo de trabalho formado pelo Governo coloca-nos no Top 10 dos países com maior potencial de extracção.
Ainda no caminho do optimismoquase todos os lesados do papel comercial do BES aceitaram um acordo, conta a Rosa Soares; o Banco de Portugal aumentou os dividendos pagos ao Estado; os prejuízos do Novo Banco baixaram para (quase) metade - sendo que a troca de obrigações parece estar pronta a avançar em Junho, acrescenta o Negócios.
Porém, ainda há notícias menos boaso líder do Montepio foi acusado por falta de vigilância a contas de clientes VIP (entre os quais se encontra o Presidente de Angola, diz o DN). E Paulo Macedo está triste com a tentativa de "politização da Caixa" (no Eco).
E outras preocupantes, noutros sectoresos bombeiros estão em pé de guerra devido aos meios para combater os fogos (e já ameaçam com um boicote); e no Porto, Braga e Lisboa vieram à rua protestos contra a "cultura da violação" (lembra-se do caso do autocarro, certo?).
Há também um debate aberto sobre eutanásia, que está cheio de perguntas. Por isso, Marcelo fica em silêncio (e deixa o caminho do TC em aberto, anota o DN).
No Luxemburgo, Marcelo tirou o grão-duque do palácio e isso valeu uma salva de palmas, conta a Leonete Botelho, que acompanha a viagem do Presidente.

Para nos pôr a pensar  

1. Izquierda, volver: para onde vai Pedro Sanchéz? Ninguém como o Jorge Almeida Fernandes para nos explicar: "A vitória de Pedro Sánchez nas eleições primárias do PSOE não muda apenas a postura do partido mas o tabuleiro político espanhol. A surpresa não foi o triunfo do antigo secretário-geral, mas os números. Díaz, que representava o “aparelho”, sofreu uma derrota humilhante. Sánchez recupera o antigo cargo com mais poder. É também o fim da 'era de Felipe González'. E o início de um ataque ao Governo de Rajoy". Sim, Espanha pode voltar a um turbilhão rapidamente, pelo que o melhor é ler o Jorge, para estar preparado para os sobressaltos. Se puder, junte este outro: outra vez, Catalunha?
2. Harold James: “O verdadeiro inimigo da Europa é o medo”. Um privilégio do Luís Villalobos, entrevistar o especialista em História económica e um dos autores do livro The euro and the battle of ideas. A conversa fluiu entre Macron e o que ele vai trazer consigo, a relação com a Alemanha, o euro, o Reino Unido e, claro, Donald Trump. Se parece muito, experimente entrar no texto (é como se costuma dizer: o que é bom acaba rápido).
3. Vamos falar de poupança? Eis como tudo mudou em três gerações. Quando Manuela e Gregório eram mais novos, não havia cartões multibanco, nem empréstimos bancários. As poupanças guardavam-se em cofres ou dentro de buracos nas paredes de casa. Em 1972, a taxa de poupança das famílias chegou a ultrapassar os 30,5%; no final de 2016, situava-se em 4,1%. Hoje, nas gerações mais novas, há quem prefira viver o dia-a-dia, ter “experiências”. Amealhar custa a entrar no léxico, não é Catarina Guerreiro?

A agenda do dia 
  • Hoje há debate quinzenal na Assembleia, seguramente à volta do fim dos défices excessivos;
  • Sérgio Monteiro é ouvido no Parlamento sobre o processo de de venda do Novo Banco;
  • Músicos de várias catedrais ou festivais europeus participam no Festival Internacional de Órgão de Mafra;
  • Donald Trump desloca-se à Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel, onde será recebido por Mahmoud Abbas.

Só mais um minuto...

Para conhecer a almofada que promete um acordar melhor. Chama-se "sunshine smart pillow" e parte de um bom princípio: “A forma como acordamos, com os tradicionais alarmes, não é natural e precisa de mudar”. Daí que prometa “revolucionar as manhãs e noites”. Como? Quando for hora de acordar, ela vai simular um nascer do sol no nosso próprio quarto
Em Canneso sol é Sara Sampaio (mas pode ser dos nossos olhos). Mas também se pode chamar Hong Sang-soo ou Bruno Dumont, na crítica apurada do Vasco Câmara, que está a acompanhar o festival ao detalhe.
Sabe bem acabar assim, num dia que não começou feliz. Nós, aqui no PÚBLICO, vamos estar todo o dia atentos a Manchester, não esquecendo o resto da actualidade. Deixo-lhe um até já. E o desejo de um dia bom e produtivo. Vêmo-nos por aqui. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário