Nova Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) deixa alertas sobre o fenómeno e não exclui bloquear sites.
O jogo online Baleia Azul já envolveu pelo menos quatro jovens portugueses, o mais recente em Matosinhos. O Ministério Público já abriu três inquéritos com as investigações iniciadas nas comarcas de Setúbal, Portalegre e Faro. Neste jogo, os jovens são motivados por um “curador” a completar 50 desafios, entre os quais a automutilação, sendo o último o suicídio – e a prová-lo com fotografias. O diretor da UNC3T garante que a PJ está a tentar identificar os curadores do jogo e não exclui o bloqueio a determinados sites.
Há quanto tempo a UNC3T está a acompanhar o fenómeno “Baleia Azul”?
Há cerca de três semanas tivemos conhecimento de situações que podiam envolver jovens residentes em Portugal. Estudámos o fenómeno que vinha da Rússia e casos relatados no Brasil. E deparámo-nos com uma primeira situação que, de forma indireta, poderia ter a ver com este incentivo no cumprimento de tarefas que levam ao suicídio.
Quantos casos foram registados em Portugal?
Neste momento, a PJ conhece quatro casos.
Como é que está a ser feito o acompanhamento e fiscalização deste caso?
O caso “Baleia Azul” não é exclusivo a Portugal e utiliza o ciberespaço como espaço de atuação, daí advindo dificuldades acrescidas no que tange ao caráter transnacional do fenómeno e até, na perceção do local da prática dos factos. O acompanhamento efetuado baseia-se na perceção do tipo de mensagens que está subjacente e na recolha de todos os dados relativos aos casos concretos em investigação.
Em que tipo de plataformas este fenómeno está a ser disseminado? E como é que os curadores chegam às potenciais vítimas?
A disseminação ocorre em redes sociais e plataformas de comunicação que massifiquem as mensagens. A atuação tem subjacente a engenharia social, a pesquisa e exploração de eventuais fragilidades humanas, grupos ou pessoas que evidenciem problemas, fraquezas ou dependências.
Como é que os curadores têm acesso aos dados pessoais das vítimas, chegando a ameaçar familiares? Existem suspeitas de sextorcion?
Os dados pessoais normalmente são fornecidos pelas próprias vítimas, que após sofrerem pressão emocional e com base na referida engenharia social, acabam por revelar estes dados pessoais e familiares. Até ao momento, os casos concretos tratados não estão ligados a suspeitas de sextortion.
A PJ equaciona bloquear o acesso a certos sites se a situação começar a complicar-se?
A PJ usará de todos os meios legais ao seu dispor para tentar percecionar todo o fenómeno e chegar à identificação dos seus autores.
Existem suspeitas que esses autores são portugueses ou estrangeiros?
Neste momento, não é possível dizer se são portugueses ou estrangeiros.
Quais são as principais dificuldades técnicas desse bloqueio?
Não poderemos abordar a questão exclusivamente pelo lado do bloqueio. Estamos a falar de um conjunto de mensagens ou textos que são disseminados por vários meios e de forma aleatória, consoante a plataforma utilizada. A intervenção devida tem de centrar-se na prevenção, informando os jovens que não podem alimentar este tipo de solicitações, que não potencializem a continuidade das tarefas solicitadas e que as ameaças não tendem a concretizar-se, e que reajam negando perentoriamente a participação no suposto “jogo”. Apela-se ainda que, sobre as camadas mais jovens, haja intervenção parental e familiar para que os mesmos estejam elucidados sobre os perigos associados e que eventuais pressões e manipulações não devem ter resposta. A resposta, por mais inócua que seja, pode elegê-los como alvos.
Já foi efetuado algum pedido de cooperação internacional?
Serão tomadas todas as medidas necessárias, incluindo essa.
Fonte: Jornal Económico
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