Um avistamento é um acontecimento em Portugal e por isso se tende a pensar que não andam por aqui. Afinal são várias as espécies nas nossas águas, mas não há razão para ter receio
O tubarão é um daqueles animais que tanto cria um enorme fascínio como desperta os mais profundos medos. Quarenta anos depois, o filme Jaws (Tubarão) continua a ser lembrado sempre que se fala destes animais: porque influenciou os tais receios e foi retratado como um assassino dos oceanos, mas também porque levou uma geração a querer ser biólogo marinho.
É o caso de João Correia, que ao ver Matt Hooper, quis ser como a personagem interpretada por Richard Dreyfuss. E tal como Hooper, João Correia tem um humor muito próprio, que acompanha muitas histórias cativantes e aventuras que serviram de mote para apresentar a notícia que irá agradar a muitos: a Shark Week do Discovery Channel vai ser transmitida em todo o mundo entre os dias 23 e 30. E teremos o campeão olímpico Michael Phelps a tentar ser mais rápido do que um tubarão branco.
Apesar de lidar com todo o tipo de animais, de ser responsável pelo transporte de muitos para o Oceanário de Lisboa, por exemplo, ou então para outros países, é nos tubarões que João Correia centra mais o seu fascínio.
É o general manager da Flying Sharks, dá aulas, tenta também sensibilizar crianças, admitindo que percebe que muitas já conhecem bem a realidade destes animais. "A perceção dos tubarões mudou", salientou João Correia, que, no entanto, referiu como ainda há quem fique surpreendido ao saber que existem muitos tubarões na costa portuguesa. Tubarão-baleia, anequins, martelo e até o famoso tubarão-branco podem ser vistos, mais facilmente, nos Açores. Mas que descansem os banhistas, o especialista disse não ter conhecimento de nenhum ataque em Portugal e que perto da costa os animais que costumam aparecer são os inofensivos tubarões-frade.
"Pensa-se que não existem [na nossa costa] porque não aparecem", afirmou o biólogo, explicando que tal se deve ao facto de a fonte de alimentação destes animais estar longe da costa, ao contrário do que por vezes acontece em países como África do Sul, Austrália, ou mesmo nos EUA. Mas como se deve agir caso se depare com um tubarão? Na maior parte dos casos, o biólogo aconselha: "Deixe-se estar sossegado. Se tiver uma GoPro tire umas imagens, coloque no Facebook e seja herói por uma tarde." Se for "um dos grandes e que não mostram medo", é melhor adotar outra postura. "Se se estiver na África do Sul, por exemplo, o melhor é esconder--se no kelp [algas marinhas] e à primeira oportunidade sair da água!"
Os anequins, ou mako, são comuns na costa portuguesa. São dos animais mais rápidos, chegando atingir velocidades de cerca de 60 quilómetros/hora. Apesar de o aspeto ameaçador, João Correia tenta tranquilizar: "Os dentes de um tubarão-branco são serrilhados, os dos anequins não. Eles partem os dentes se tentarem morder uma prancha de surf. Não há muitas histórias de ataques desta espécie."
A mudança de perceção quanto aos tubarões, que já não são vistos como assassinos, permitiu que crescessem as ofertas turísticas de estar na água com eles, em alguns casos dentro de uma jaula. África do Sul, Bimini (Bahamas) e México são dos locais mais populares para ver tubarões. "Fiji, Bali, Maldivas também, mas aí são mais pequenos", frisou. Porém, não é preciso ir tão longe. Os Açores podem muito bem proporcionar uma experiência inesquecível com estes animais. João Correia admitiu que quando decidiu ser biólogo marinho, dedicado aos tubarões, pensava que teria de se mudar para os EUA. "Mas aqui há muitos tubarões", garantiu.
Os mitos
Por instantes volta-se a Jaws. Não, não é possível matar um tubarão com uma garrafa de ar comprimido e não, um tubarão não anda a perseguir ninguém especificamente. Deixando Hollywood, será que o tubarão-branco a quem foi dado o nome de Submarine existe?
É uma lenda urbana que começou nos anos 70 na África do Sul. Supostamente é um tubarão-branco com cerca de dez metros (os maiores conhecidos rondam os cinco/seis) que tem a fama do tal tubarão assassino. João Correia não acredita que exista e muito menos o pré-histórico megalodonte, que é dado como extinto há cerca de dois milhões de anos (teria 18 metros de comprimento).
O biólogo admitiu que pode não se conhecer todas as espécies, mas em casos de animais alegadamente tão grandes, vê como difícil que com tanto movimento no mar entre pescadores e lazer não existam provas que sejam reais.
E Michael Phelps pode nadar mais rápido do que um tubarão- -branco, que chega aos 40 quilómetros por hora? João Correia sorri e abana com a cabeça. Teremos de esperar pelo programa para descobrir.
Fonte: DN
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