Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt07 de fevereiro de 2018 às 23:00 |
O acordo de governo na Alemanha entre a CDU e o SPD não marca apenas o fim de um longo impasse interno. É também um respirar de alívio para a União Europeia e um sinal de que Alemanha e França estão em condições de criar um caminho de convergência que se poderá traduzir num aprofundamento do projecto europeu.
Esta perspectiva é sustentável pelos compromissos entre a CDU de Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz, entre os quais constam um aumento da contribuição germânica para o orçamento comunitário, o desenvolvimento de uma estratégia destinada a reforçar os poderes do Parlamento Europeu e a transformação progressiva do Mecanismo de Estabilidade Europeu num Fundo Monetário do Velho Continente. Apesar disso, a união bancária, tida como um dos pilares do reforço da construção europeia, ficou fora do acordo.
Os países da UE, particularmente os da Zona Euro, poderão sentir algum desafogo com esta solução governativa alemã, mas desengane-se quem pense que a saída de cena do temido Wolfgang Schäuble irá traduzir-se num período de lassidão na avaliação das contas públicas de cada país. O ex-ministro das Finanças alemão perde o estatuto de protagonista, mas a chanceler Angela Merkel irá continuar como a guardiã zelosa do rigor em todas as áreas, sobretudo a económica.
Ao invés, esta visão de aprofundamento da Europa exigirá que os Estados-membros respeitem integralmente as regras. Inclusive França, que se tem revelado um aluno pouco escrupuloso. O nível de exigência vai manter-se elevado e o escrutínio será apertado. Em paralelo, como sublinhou Marcus Walker, especialista em assuntos europeus do The Wall Street Journal, o novo ministro das Finanças alemão, Olaf Scholz, "mais provavelmente irá partilhar, do que desafiar, a política cautelosa de Merkel sobre a Europa".
O entendimento entre a CDU e o SPD mitiga os fantasmas populistas e nacionalistas que pairavam sobre a Alemanha e alastravam ao espaço comunitário. Este simples facto é uma boa notícia para a União Europeia, na medida em que assegura um clima de tranquilidade. A conjuntura económica favorável é outro ingrediente que poderá ajudar a facilitar o processo de transformação da UE, que será forçosamente diferente com a saída do Reino Unido. Nos pratos da balança, o novo Governo alemão dá peso a um conceito de Europa mais forte, coesa e solidária, mas que continuará a ser inflexível na área económica.
Fonte: Jornal de Negócios
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