segunda-feira, 9 de abril de 2018

Eu, Psicóloga | Quanto mais cansados, mais solitários nos sentimos

Contrariando clichês, a solidão – “lava que cobre tudo”, como cantou Paulinho da Viola – nem sempre é resultado de isolamento social, e sim consequência do esgotamento emocional causado por desgaste profissional. A conclusão é de um estudo da consultoria General Social Survey que, comparando dados atuais com os de 20 anos atrás, constatou ter dobrado o índice de desgaste emocional das pessoas. 

Atualmente, mais de 50% dos pesquisados admitem estar frequentemente ou sempre desgastados. E esse fenômeno cria um círculo vicioso: quanto mais a pessoa se sente desgastada, mais solitária fica.

É um problema sério: pesquisa da Universidade da Califórnia em Irvine revela que a solidão tem grande impacto na longevidade e na saúde física e mental, constatando que, enquanto a obesidade reduz a longevidade em 20%, a bebida em 30% e o cigarro em 50%, a solidão atinge a alarmante cifra de 70%. E levantamento do Gallup constatou os graves custos do desengajamento dos funcionários: 37% de aumento de absenteísmo, 49% de mais acidentes e 16% de queda em lucros.

Como superar isso? Sugestões vão desde instituir sessões de meditação até a reduzir a carga de trabalho, mas uma das soluções mais efetivas é promover conexões entre pessoas, fazendo-as se sentir valorizadas, apoiadas, respeitadas e seguras.

Mas não é só o isolamento social e faltas no trabalho que o cansaço causa. Com a rotina corrida do dia a dia, o tempo que se dedica a tarefas para descansar o corpo e a mente é cada vez mais reduzido. Entramos num processo em que o corpo começa a ficar desgastado e a mente não consegue se "desligar" daquele projeto no trabalho, das contas para pagar, do boletim das crianças, da pia que começou a vazar (de novo) e de outra listas situações. Tudo isso acaba acelerando um quadro de exaustão emocional, uma condição que é mais grave que a estafa e está a um passo do estresse e de suas consequências sérias para a saúde.

O conceito de exaustão está ligado ao conceito de estresse. O estresse é dividido em três níveis, chamados de alerta, reestruturação e, por fim, exaustão, que corresponde à fase em que o indivíduo já apresenta pensamentos negativos, falta de vontade de fazer as coisas, perda de sono, ansiedade acentuada, irritabilidade, entre outras características físicas como alergias, gastrites e enxaqueca.

A exaustão emocional, ao contrário do que se pode pensar, não está atrelada às condições de uma tarefa em si, mas a situações desagradáveis que acabam levando a um estresse psicológico.  

"O perigo existe quando a pessoa fica muito tempo submetida a um estado de estresse psicológico, que aparece em função de uma situação desagradável qualquer".

Essa pressão psicológica pode ser tanto externa, situações cujo controle não depende unicamente de uma pessoa, assim como ter origem interna, como características pessoais e qualidade de vida. É fundamental que a pessoa fique atenta para não se submeter a essas pressões. 

É comum dizer que estamos exaustos depois de um dia de esforço, seja físico ou mental. Porém, em geral, a verdade é que estamos cansados. Isso porque cansaço é caracterizado por um esgotamento momentâneo, eliminado de forma simples e instintiva, com boas horas de sono e atividades relaxantes. Já na exaustão, o desgaste é bem maior, na medida em que é constante, podendo ser eliminado apenas momentaneamente, de acordo com as distrações que cada um procura. Mas, a exaustão, só pode, na maioria das vezes, ser resolvida através de tratamentos , auxílio médico e psicoterapia.

É possível identificar quando alguém passou de um estado de cansaço normal, para entrar em um processo de estresse. As próprias mudanças comportamentais, como excesso de pensamentos repetitivos e negativos, perda de interesse pelas coisas, falta de apetite, ansiedade, sensação de desamparo, irão indicar essa diferença. É importante também que familiares e amigos fiquem mais atentos ao notar qualquer alteração nesse sentido.

Situação sob controle

Como todos estamos expostos e não sabemos se (e quando) poderemos entrar em um estado típico de estresse, o ideal é nos forçar a adquirir hábitos que costumam deixar mais leve o nosso corpo e mente e ainda, liberam a nossa atenção para situações mais prazerosas. 

Cuidados gerais com a saúde, exercícios de relaxamento e respiração, práticas meditativas, exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, dedicação ao lazer, tudo isso, aliado a um suporte familiar e social contribui e muito para amenizar as tensões do dia a dia e auxiliar a contorná-las, mas é fundamental um auxílio da psicoterapia para entender os motivos bem como se conhecer melhor nesse processo. Geralmente o excesso de trabalho, de atividades, demonstra alguma falta em outra área da vida da pessoa, o queacaba causando essa exaustão física. Essa falta que precisa ser trabalhada. Senão estaremos tampando o sol com a peneira. 


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