O Presidente Filipe Nyusi revelou durante o seu Informe sobre o Estado da Nação que Moçambique recebeu “quase 3 milhões de turistas”, é quase o dobro do que no ano anterior no entanto os visitantes parecem não frequentar os hotéis pois as receitas de alojamento estagnaram em torno de 2,4 biliões de Meticais. Prioridade, pelo menos nos discursos, o Turismo no nosso país continua a ser feito apenas na Cidade de Maputo que acolheu 41 por cento dos turistas nacionais e 69,1 visitantes estrangeiros.
“O turismo, uma das quatro áreas prioritárias, registou uma evolução na contribuição para o PIB, passando de 2,3 por cento, em 2015, para 3,5 por cento, em 2018 (...) recebemos quase 3 milhões de turistas, no nosso País, um aumento de 64 por cento”, assinalou Nyusi no discurso que efectuou na Assembleia da República no passado dia 31 de Julho.
Porém este números não se traduzem em receitas para os operadores turísticos, a julgar pelas números de 2018 recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) que contabilizou 5,08 biliões de Meticais, “representando um crescimento de 2,6 por cento face ao igual período de 2017. Relativamente a estrutura da receita, 47 por cento refere-se a receitas de alojamento, 42 por cento as receitas de restauração, estando em harmonia com as receitas de 2017 que foram de 47 por cento e 41 por cento, para o alojamento e restauração, respectivamente”.
O @Verdade perguntou ao antigo representante operadores privados de Turismo e empresário do sector, João das Neves, porque razão o aumento dos turistas assinalado pelo Chefe de Estado não se traduz em mais receitas. “Moçambique enfrenta um enorme desafio na aferição dos dados estatísticos. O sector privado tem vindo a questionar os números divulgados pelas estatísticas oficiais e no meu entender o principal desafio esta relacionado com a necessidade de se definir melhor quais são os dados relevantes que devem ser monitorados”.
Para o empresário turístico: “Alguns países de referência contam por exemplo apenas os estrangeiros não residentes como turistas à chegada à fronteira de entrada no país e apenas os seus cidadãos que saem do país como turistas nacionais que vão para fora. Esta metodologia permite expurgar as inúmeras viagens dos seus próprios cidadãos em movimentos de ida-e-volta frequentes de trabalho e outra mas que alteram as estatísticas”.
“Por outro lado há necessidade de se automatizar o sistema de recolha de dados porque os processos manuais propiciam vícios de lançamento de dados que adulteram os resultados no seu todo. Importa referir que nem tudo vai mal e que há um enorme esforço para se melhorar as estatísticas, mas há ainda uma grande divergência entre o que se pretende e o que se consegue apurar”, ressalvou Neves.
“Inhambane é o turismo tradicional do mercado sul-africano”
Entretanto os dados do INE indicam que a Cidade de Maputo é aquela que continua a receber maior número de hóspedes nacionais com 41 por cento, seguida por Gaza 8,7 por cento, os turistas estrangeiros também preferiram a capital do país para fazer turismo 69,1 por cento, apesar de não possuir as melhores praias e nem mesmo o melhor ecoturismo de Moçambique.
“A estadia média por hóspede estrangeiro, tal como a de nacionais, foi também de cerca de 2 noites, em 2018. Nesta categoria, destaca-se a província de Maputo com cerca de 5,9 noites de permanência por parte dos hóspedes estrangeiros, seguida pela província de Inhambane com a estadia média de 5 noites” apurou o INE que assinalou, comparando as estadias de 2017-2018, “regista-se que no geral a estadia dos hóspedes estrangeiros cresceu 5 por cento com maior crescimento absoluto em Inhambane e Província de Maputo cujos crescimentos alcançaram um dia”.
João das Neves assinalou que “a província que tem a maior taxa de ocupação continua a ser Niassa devido ao reduzido numero de instâncias. As províncias onde foi feito um avultado investimento e onde o numero de instancias turísticas é elevado, o nível de ocupação foi-se degradando ao longo dos últimos anos causando uma depreciação do nível de oportunidades e promovendo a falência técnica da maior parte dos estabelecimentos”.
Mas o empresários turístico analisa “este factor com alguma sensibilidade pois por um lado gostamos de promover mais investimento para aumentar o número de empregos e dinamizar os mercados com a injecção de dinheiro novo, mas por outro lado se não respeitamos as capacidades do mercado, ao inundarmos com mais e mais provedores de serviços, torna-se um mercado selvagem e insustentável causando a erosão daqueles que já se encontram no mercado”.
“Maputo naturalmente como capital tem que ser um dos Pólos principais. Inhambane é o turismo tradicional do mercado sul-africano que apesar de ser o nosso mercado emissor de baixa renda é o que sustenta a Província de Inhambane pelo numero de visitantes”, esclareceu ao @Verdade.
Falta “estruturação simples e prática para a atracção de turistas de lazer e negócios”
Neves considerou que Moçambique precisa “de eleger um primeiro destino para o transformar no Pólo Turístico de atracção de massas. Nesse local deverão ser criadas todas as condições para o turismo desde a segurança, uma polícia especializada, a higiene e limpeza, as infra-estruturas de acesso, actividades e lazer, logística alimentar e de alojamento, e serviços, desde a cultura ao artesanato, etc, etc. Algo imponente que faça com que toda a gente da região e alem fronteiras pretenda visitar (citando exemplos como Sun City ou Ushaka Marine World em Durban, Marine Water Front em Cape Town)”.
“Depois de conseguirmos por um Pólo a funcionar como deve ser, podemos replicar as experiências por outros pontos do país. Em relação ao local onde isto deve acontecer, há discussões sobre se deveria ser no grande Maputo (que neste momento Congrega a Ponta do Ouro/Reserva dos Elefantes + Baixa da Cidade de Maputo até a Macaneta e as ilhas Xefina) ou a Praia do Tofo em Inhambane. Ambos são bons pontos de partida, o importante é tomar a decisão e fazer acontecer”, sugeriu o operador turístico.
No entanto João das Neves recordou ao @Verdade que continua a faltar também a “estruturação simples e prática para a atracção de turistas de lazer e negócios. Moçambique neste momento não consegue competir fortemente no mercado internacional que gasta milhões de dólares na divulgação dos seus destinos e precisa de encontrar formas inovadoras para se posicionar em um ou dois nichos de mercado apelando à cooperação internacional com os seus parceiros estratégicos para ajudar a impulsionar o fluxo de grupos regulares de turistas e visitantes a partir desses países, incluindo África do Sul, Portugal, Espanha, Itália, Holanda, China, Japão, Rússia, EUA, entre outros”.
“Por outro lado falta a coordenação de programas específicos envolvendo todos os intervenientes: as agências de viagens e operadores turísticos, os hoteleiros, as rent a car, os transportadores aéreos, terrestres e marítimos, os agentes do Estado, agentes da arte e cultura, promotores de eventos e a monitoria dos resultados desses programas de forma simples, prática e direccionada ao desenvolvimento do negócio”, concluiu o experiente operador turístico moçambicano.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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