Silvia Helena Cardoso, PhD |
É um transtorno caracterizado pela
impossibilidade repetida de resistir aos impulsos de roubar objetos. Os objetos
não são roubados por sua utilidade imediata ou seu valor monetário; o sujeito
pode, ao contrário, querer descartá-los, dá-los ou acumulá-los. Este
comportamento se acompanha habitualmente de um estado de tensão crescente antes
do ato e de um sentimento de satisfação durante e imediatamente após sua
realização. O roubo não é cometido para expressar raiva ou vingança e não é uma
resposta ao delírio ou a alucinação.
Este
termo foi criado há mais de dois séculos para descrever o impulso de roubar
objetos desnecessários ou de pequeno valor. Esquirol notou, em 1838, que o
indivíduo frequentemente se esforça para evitar este comportamento, mas por sua
natureza, isto é irresistível. Ele escreveu: "o controle voluntário é
profundamente comprometido: o paciente é constrangido a executar atos que não
são ditados nem por sua razão, nem por suas emoções. - atos que sua conciência
desaprova, mas que ele não tem intenção.
Os
indivíduos afetados frequentemente têm outros distúrbios mentais, tais como
distúrbio bipolar, anorexia nervosa, bulimia nervosa, ou distúrbio da
ansiedade. Adultos com cleptomania roubam porque isto oferece alívio ou
conforto emocional. Poucas pessoas procuram tratamento até que são pegas
roubando.
Qual
a incidência de cleptomania na população geral?
Presume-se
que a cleptomania seja um distúrbio raro, embora poucos estudos tenham sido
feitos sobre sua prevalência na população em geral. Estudos feitos com ladrões
de lojas sugerem que somente uma pequena parcela (de 1 a 8%) representam casos
verdadeiros de cleptomania.
Na
verdade, o roubo de lojas é extremante comum, de acordo com um estudo. Um
pesquisador relatou que dos 263 clientes visitando lojas randomicamente, 27
(10%) foram observados roubando. Um
estimou que correm aproximadamente 140 milhões de roubos por ano, mas que
somente 4 milhões são pegos. Além disso, a incidência de roubos em lojas está
aumentando.
Como distinguir um ladrão comum de um cleptomaníaco?
Não
existem estudos controlados da psicopatologia da cleptomania, mas numerosos
relatos de casos descrevem uma ampla extensão de sintomas psiquiátricos e
distúrbios com aparente cleptomania. Os sintomas mais comuns associados parecem
estar relacionados ao distúrbio do humor. A maioria dos estudos de
"ladrões anormais" (pessoas que foram apreendidas roubando e
encaminhadas para avaliação psiquiátrica) têm descrito taxas elevadas de
sintomas depressivos e depressão em seus sujeitos. Dos 57 pacientes cleptomaníacos
descritos na literatura, 57% mostraram sintomas afetivos e 36% provavelmente
encontrariam um critério diagnóstico para depressão ou distúrbio bipolar.
Alguns
pacientes com cleptomania e distúrbio comórbido do humor têm descrito uma
relação entre seus sintomas afetivos e cleptomaníacos, declarando que seus
impulsos de roubar ocorrem quando eles estão deprimidos.
É possível tratar um cleptomaníaco?
Não
existem estudos controlados de tratamentos somáticos ou psicológicos em
cleptomania. Relatos de casos individuais, entretanto, sugerem que várias
formas de terapia comportamental podem ser efetivas em alguns pacientes.
Existem também relatos isolados do sucesso do uso de psicoterapia
psicanalítica, mas existem também muitos relatos negativos.
Outros
relatos de caso sugerem que medicamentos antidepressivos ou com propriedades
estabilizadoras do humor podem ser efetivos na cleptomania.
O
Autor
Silvia
Helena Cardoso, PhD. Psicobióloga,
mestre e doutora em Ciências. Fundadora e
editora-chefe
da
revista Cérebro & Mente. Universidade Estadual de Campinas.
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