terça-feira, 31 de maio de 2016

Portugal. CRISTAS E O PROTESTO AMARELO

Paula Ferreira* – Jornal de Notícias, opinião

1. Surge em todo o lado. Omnipresente. Opinião na ponta da língua para qualquer assunto. Se aconteceu, Assunção Cristas irrompe a comentar. O CDS-PP, agora, é ela. Obscureceu todos os seus companheiros de partido. E, a bem da verdade, eclipsou qualquer tentativa de oposição.

Pedro Passos Coelho andará pelo país a falar às bases, a apresentar o seu programa de reformas e a preparar um desafio - decisivo, talvez - para a sua carreira política. O líder do PSD precisa de uma vitória nas próximas autárquicas. Não tem alternativa. Será por isso que ninguém o ouve. Passos sabe que não pode gastar a imagem, fragilizada por quatro anos de governação nas piores circunstâncias em que um primeiro-ministro pode exercer as suas funções.

Sendo assim, Assunção Cristas aparece a liderar a oposição. Ontem, esteve em Bruxelas a comemorar o aniversário do Partido Popular Europeu, por sinal a família política de que o PSD de Passos Coelho também faz parte. Foi, contudo, a líder do CDS que ouvimos, piedosamente, a informar os portugueses ter pedido aos líderes europeus para evitarem o castigo a Portugal, "bom aluno" em matérias de austeridade. Todavia, segundo Cristas, parecem ser uma inevitabilidade os açoites da UE - salvo se o atual Governo, em vez de praticar o seu programa político, recuar e der continuidade ao programa de Passos e Cristas. Melhor era impossível.

2. Trinta mil, ou quarenta mil, consoante a fonte. Foram de vários pontos do país até Lisboa, pedindo liberdade de escolha na Educação. Um protesto vestido de amarelo contra a decisão do Governo de cumprir aquilo que a lei estipula: financiar o ensino aos alunos em escolas privadas, nos locais onde não exista oferta pública. Simples. Uma coisa tão simples a ser subvertida, acintosamente, graças ao ruído de alguns.

Depois da manifestação, pediram uma audiência ao primeiro-ministro. António Costa não tem qualquer hipótese de recuo nesta matéria. Até agora, geriu o dossiê, sensível, com mestria, deixando o ministro da Educação tomar as decisões, e, ao mesmo tempo, salvaguardando-o do combate político, dando palco a Alexandra Leitão, a secretária de Estado. Um recuo de Costa perante o protesto amarelo não significaria só a inevitável saída de Tiago Brandão Rodrigues, mas o princípio da queda da coligação.

*Editora-executiva-adjunta

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