sexta-feira, 17 de junho de 2016

OS GENERAIS ANGOLANOS E D. ISABEL I, A CONTINUADORA DA DINASTIA SANTOS

Leston Bandeira*

A entrega da presidência da Sonangol a Isabel dos Santos terá sido o passo mais arriscado na substituição dinástica que José Eduardo dos Santos está a desenhar em Angola. O objetivo é que “D. Isabel I” venha a ser proposta como sua substituta na Presidência da República, em 2018, data anunciada para o final do seu consulado. E os generais terão de alinhar.

A sociedade civil não terá entendido completamente a estratégia de Santos, mas a elite percebeu e aprovou. É esta aprovação que vai ter que ser evidenciada nos próximos tempos, para o passo seguinte de Santos: depois da sua recondução na liderança do MPLA, fazer eleger Isabel dos Santos pelo partido, como vice-presidente.

Porque enriqueceram graças ao favorecimento de “Zedú”, os generais mais velhos vão ter que demonstrar o seu apoio público à presidência de Isabel. Esse apoio tem que arrastar os generais mais novos, formados em academias ocidentais - que estão à espera da sua vez para substituir os veteranos que fizeram as diversas guerras que atravessaram os últimos 40 anos da História de Angola.

Com o apoio explícito das Forças Armadas, Eduardo dos Santos vai poder alterar aspectos importantes da lei da nacionalidade, ainda há bem pouco tempo blindada contra “estrangeiros”. É que, no fundo, esse é o caso de Isabel, cuja maternidade russa a inibe de se candidatar à Presidência, reservada aos “autênticos” angolanos – seja lá o que isso quer dizer.

Entretanto, Isabel dos Santos vai procurar revelar-se uma gestora com capacidade para resolver os sérios problemas económicos do país. Para isso, além de ter que negociar com os chineses e com os operadores petrolíferos, vai interferir, seguramente, no plano de diversificação da economia, por forma a evidenciar uma capacidade de que os angolanos estão à espera para voltarem a imaginar-se a viver num país rico.

Os já anunciados colaboradores da nova presidente também vão ter um papel importante nessas tarefas. A propaganda que habitualmente tem como objectivo a glorificação do presidente, vai sofrer alterações, quer no método, quer nos conteúdos e terá como objectivo anunciar que “D. Isabel I” merece o trono.

De lá, ela protegerá a família – a grande preocupação do pai – e os generais, ricos, transformados em caciques das respectivas regiões natais e em defensores da nova cúpula da elite a que pertencem. Nem que para isso tenham que contribuir com algum do dinheiro que têm no exterior e que, muitos deles, não sabem como gerir. Uns protegerão os outros. Não haverá forma de colocar uns contra os outros, generais e família dos Santos.

À medida que este plano for sendo desenrolado, o Mundo vai ficando admirado, mas a alteração das leis e os acordos que, entretanto, pai e filha vão assinando por forma a beneficiarem algumas das comunidades mais reticentes à aceitação de um “golpe” deste tipo farão com que a contestação exterior não tenha reflexos internos.

Internamente, haverá comunidades mais difíceis de contentar, mas também para esses haverá medidas especiais e, dentro de três a quatro anos, teremos a família dos Santos tranquila, a dominar, já com alguma inteligência e cuidado, um país dos mais ricos do Mundo. Para isso, todas as alianças vão valer.

*África Monitor, opinião

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