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Os pais convencem-se com frequência de
que a educação, a partir dessa altura, diz respeito à professora ou ao
professor, mas na realidade ficam muito menos alarmados com uma nota de mau comportamento
do que em face de uma má classificação. Têm muita vivacidade – pensa-se -, é a
idade, depois tornar-se-ão sensatos. E, entretanto, os anos passam, os filhos
alcançam a idade adulta, e a educação aprendida no sentido escolar do termo,
resulta automaticamente num facto realizado. Ou se aprendeu essa educação, ou
então é demasiado tarde; ou se cresceu como pessoa educada, ou, pelo contrário,
não há mais nada a fazer. Mas a educação não acaba na escola, não é um aspecto
limitado aos anos da juventude ou sujeito a autoridade, sem que se possa ou não
desejá-lo. A educação não é, sobretudo,
um conjunto de normas de boas maneiras a introduzir no comportamento de uma
criança quando esta tem de começar a sua vida independente. É, sim, qualquer
coisa de muito mais válido do que uma camada superficial ou uma máscara externa
feita de hipocrisia ou de afectação.
A demonstrar, pois, quanto pode ser
importante a educação na nossa vida, e como é diferente ou independente do grau
de instrução ou dos diplomas de estudo de que se faça ostentação, diremos que é
um dos elementos da nossa personalidade.
Cada um tem a este respeito a sua
própria interpretação, adaptada à sua própria sensibilidade, transformando-a em
qualquer coisa que apresenta em cada instante uma fisionomia nova. Essa
interpretação torna-se pessoal.
Duas pessoas educadas nunca o são da
mesma maneira. A educação transforma-se numa manifestação do nosso carácter,
torna-se o reflexo da nossa índole, ajuda-nos no nosso comportamento. Nisto
consiste uma parte da nossa personalidade.
A
educação impõe-se a todos. É um compromisso moral que cada um de nós tem para
consigo próprio, para com a família ou para com o próximo que faz parte da sua
mesma vida.
Poderemos defini-la como um hábito mental que se limita e submete ao respeito
pelo mundo que vive à nossa volta, onde se encontram num mesmo plano com os
mesmos valores, não só coisas que parecem importantes, mas também tudo quanto
tem razão de ser. Não há, portanto, uma idade para a educação, ou melhor, não
se pode dizer que existe um limite de tempo dentro do qual se tenha ou não a
possibilidade de ser ducado. Se para os jovens pode ser considerado como
matéria de estudo, a educação continua a ser também para os adultos um assunto
a conhecer a fundo, a aprofundar um pouco todos os dias através da prática.
Cada época pode dar-nos uma diferente
explicação do que é a educação. A verdade é que se este conceito se modifica e
seria absurdo mante-lo condicionado a regras imutáveis. O nosso século apregoa
também a plena reivindicação de um dos direitos fundamentais do homem: a
liberdade. Esta, porém, não deve ser interpretada como uma espécie de
autoritarismo individual de que alguém se possa valer sem nenhuma responsabilidade.
A liberdade individual do nosso tempo exige um recíproco reconhecimento desta
prerrogativa. É preciso sentirmo-nos livres quanto ao que nos diz respeito e
quanto ao que nos pertence. Esta liberdade tem, portanto, de ser orientada de
modo que não se transforme em egoísmo, e a educação deve actualizar-se para se
adequar à vida moderna. O mundo tornou-se maior, ampliou as nossas relações até
onde noutros tempos se fechavam os círculos das diversas classes sociais, e a
educação surge como uma necessidade que não pode ser desprezada.
O essencial está em esclarecer que não
se trata de um privilégio ou de um atributo das pessoas mais afortunadas, mas
simplesmente de uma faceta de mérito daqueles que tem boa vontade e muita
sensibilidade.
O
que mais há a censurar às gerações mais novas, é o facto de serem tão pouco
educadas. Quando se procura averiguar as razões de tal inconveniente,
facilmente se culpa a mudança do sistema de vida. Hoje, a família
perdeu o seu carácter de intimidade que a fazia um centro irradiante de
educação. A vida, especialmente nas grandes cidades, conduz, com efeito, a uma
maior dispersão, as ocasiões para as pessoas se reunirem são ali sempre mais
raras, e o tempo e a disposição para educar os jovens faltam com frequência. É
preciso, portanto, reafirmar a necessidade de reeducar a família, a importância
de voltar aos hábitos talvez já esquecidos, e que qualquer jovem ousará
classificar como «antiquados».
É preciso também reconstruir o lar
doméstico nas suas bases tradicionais, regressar a casa de modo a que todos se
possam sentar á mesa em conjunto e despertar ou criar nos jovens o respeito
pela família. Só assim poderão tornar-se adultos com uma rigorosa consciência
do que é o conceito de educação e viver genuinamente a tradição familiar.
Um
dos aspectos principais na vida dos jovens é a sua educação. É ao pai e à mãe
que compete o problema de velar pelo seu desenvolvimento, saúde e educação,
embora por vezes um deles preferisse deixar a cargo do outro esta difícil
tarefa. Depois
de os filhos já estarem crescidos, vão à escola, e começa-se a falar com mais
insistência de instrução, uma palavra que faz pensar em tantos livros, em
tantas coisas a orientar.
A
alma humana é realmente um dos problemas mais transcendentes que se apresentam
ao homem para conhecer e resolver, que mais não seja no âmbito da educação.
Dewey afirma que a educação é «a soma
total dos procedimentos por meio dos quais a sociedade transmite às novas
gerações as suas forças, capacidades e ideias com o fim de assegurar a sua
própria existência e evolução».
Não basta viver para educar-se. A vida é
multiforme, tem aspectos bons e maus, benéficos e nocivos. A educação não é,
portanto, apenas vida, mas sim vida orientada para os valores e ideias que
elevam e dignificam o homem.
A
educação não se confunde com o simples desenvolvimento ou com a mera adaptação.
A educação é formação completa da personalidade, através do desabrochamento
integral das suas virtualidades físicas, intelectuais e morais.
Educar é, antes de tudo, formar de
acordo com um ideal. “Quando educamos”, dizia Spalding, “do mesmo modo que
quando marchamos, temos em vista um fim. Em educação esse fim é um ideal: o
ideal da perfeição humana”.
A educação, sendo um processo vital de
formação e aperfeiçoamento do homem, deve abranger todas as virtualidades da
sua natureza.
Joaquim Carlos*
*Jornalista
NB: O presente artigo foi publicado no
jornal “O Comércio do Porto” em edição de 11 Abril de 1994, sendo agora alvo de
ligeiras correcções.
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