Rui Peralta, Luanda
Num recente memorandum cerca de 50 altos funcionários do Departamento de Estado da administração norte-americana apelavam ao presidente Obama para autorizar o lançamento de uma ataque aéreo e utilização de misseis contra Damasco, para depor o Presidente Bashar al-Assad. Os altos funcionários argumentavam que esta acção militar deveria ser seguida de uma acção diplomática mais agressiva contra o governo sírio e pediam para que fosse aumentada a ajuda às forças da oposição armada na sua luta contra o governo de Assad. Resumindo, o Departamento de Estado propõe bombardeamentos a Damasco, a morte de soldados sírios e dos cidadãos que residam em Damasco para depor Assad e entregar o Poder às forças oposicionistas sírias.
Entre as várias questões que podem ser levantadas por esta atitude por parte de altos dignatários do Departamento de Estado – logo pelo próprio Departamento de Estado – e que podem ter reparos políticos, éticos e morais, uma destaca-se de forma premente e reveladora: é ao Congresso e não ao Presidente que cabe a declaração de guerra e para que isso aconteça seria necessário que a Síria atacasse os USA, algo que não aconteceu. Logo este comportamento do Departamento de Estado parece revelar (o que é inverosímil) um desconhecimento total acerca dos procedimentos institucionais definidos pela Constituição dos USA. Ou será que para o Departamento de Estado a Constituição é acessória?
Por outro lado, assumindo que os bombardeamentos norte-americanos e a agressão declarada – o Estado de guerra – levassem ao derrube do governo sírio, o que aconteceria depois? Um vazio no Poder? E quem iria preencher esse vazio? Obviamente o Estado Islâmico e as restantes forças fascistas sírias, como a al-Nusra, ou seja, o mundo assistiria ao desaparecimento da nação síria, mergulhada no holocausto e no genocídio. Será que depois os marines norte-americanos iriam salvar os xiitas, os alauitas, os cristãos, a diminuta comunidade judaica-síria, os curdos e as restantes composições culturais do mosaico sírio?
De acordo com o senhor John Brennan, o director da CIA, o Estado Islâmico está a penetrar os USA e a Europa. Então faz algum sentido que os USA lancem ataques terrestres e aéreos contra o governo sírio, que é uma das principais linhas de defesa contra o fascismo islâmico e seus bandos terroristas? Se observarmos a ingerência imperialista norte-americana e dos seus parceiros da NATO (pondo de lado as divergências no campo imperialista e os diversos interesses específicos e opostos no campo imperialista) na Somália, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e Iémen, constaremos que a destruturação provocada nas respectivas sociedades conduziu estes povos a um intenso sofrimento e a um genocídio muitas vezes camuflado de forma cínica e hipócrita.
Recentemente a força aérea russa, em coordenação com a força aérea síria, lançou uma série de ataques em regiões do país onde se fazia sentir a presença de grupos armados oposicionistas, treinados e armados para derrubar o presidente Assad e o legitimo governo sírio. Mas porque, no meio de uma guerra que deveria ser contra o Estado Islâmico, objectivo que deveria – conforme proposto pela delegação russa em Genebra – provocar uma reconciliação nacional definida através do combate ao inimigo comum, o governo sírio e os seus aliados russos e das milícias xiitas e curdas, têm de combater grupos que – apesar da sua posição contra o Estado Islâmico – continuam a insistir no derrube não negociado do governo sírio? Por uma razão muito simples: porque contam com o apoio dos USA, da NATO e dos Estados do Golfo.
John Kerry, referindo-se aos recentes ataques russos na Síria, afirmou num tom pouco agradável (típico de irlandês irritado) que “a Rússia tem de aprende que a nossa paciência não é infinita”. O senhor Kerry esqueceu-se que a aliança e a cooperação militar entre a Síria e a Rússia tem cerca de meio século. A Síria permite que a Rússia opere no Mediterrâneo e os russos sempre deram apoio politico e económico á Síria, desde os tempos da revolução que levou o Partido Baas ao Poder e que implementou uma serie de reformas económicas e sociais que permitiram aos sírios importantes conquistas sociais e que colocaram o país na sendo do desenvolvimento. O apoio russo é, pois, legítimo e legal pelos princípios do direito internacional. Coisa que não acontece com a acção dos USA que ao armar grupos oposicionistas e ao ingerir nos assuntos internos sírios, está a agir á margem do direito internacional. Não são os USA que têm de ter paciência com a Rússia, mas sim a comunidade internacional que tem de fazer compreender aos USA que a paciência dos Povos e Nações do mundo não é infinita.
No mês passado a NATO efectuou exercícios militares na Polónia e nos países bálticos, ao longo da fronteira com a Federação Russa, mobilizando cerca de 30 mil efectivos militares. Pela primeira vez, desde 1945, tanques alemães pisaram solo polaco. Enquanto isso o USS Porter foi enviado para o Mar Negro. Porquê? Segundo Ray Mabus, o Secretário de Estado da Marinha para “deter uma potencial agressão”. Agressão? A única agressão é a da NATO ao efectuar exercícios militares ao longo da fronteira com a Rússia. Isso é uma manobra provocatória e irresponsável.
Mas a propósito de provocação e irresponsabilidade temos as palavras de Hillary Clinton que comparou Putin a Hitler e as acções da Rússia na Ucrânia às acções da Alemanha nazi na década de 30. Hilária, Hilária, quantas historietas contas e ainda nem lá chegaste (á Casa Branca, claro).
Nenhum comentário:
Postar um comentário