domingo, 3 de julho de 2016

Repassando: A actual situação em Moçambique

Por Momade Assife Abdul Satar 


 
ESTAMOS DE "TANGA"
Desde o dia 23 de Novembro de 2015, que tenho estado a reflectir, em jeito de contribuição para o debate de ideias, sobre a crise económica que afecta actualmente Moçambique. O meu primeiro post dessa época era intitulado: "Moçambique pode entrar em colapso a qualquer momento".
À época dessa primeira reflexão, o dólar norte-americano custava 40 e poucos. E pouca gente, mas pouca mesmo, estava ciente do que estava para acontecer, ou o que levava o dólar a custar 40 meticais. Posso até garantir que muitos não consideraram a realidade da situação ao extremo.
Hoje já é diferente. Custou mas as pessoas despertaram. Percebem que o caos está eminente.
O dólar hoje, no banco, está cotado a quase 70 meticais, e a qualquer momento poderá chegar a 80, 90 ou 100 meticais e para que isso aconteça, não falta muito.
Reflectindo:
A 15 de Janeiro de 2015, quatro dias antes da tomada de posse do nosso Presidente da República e meu conterrâneo Filipe Nyusi, o dólar estava 32,5 meticais. Hoje custa o dobro desse valor.
Os produtos da primeira necessidade estão a subir gradualmente. Assim é porque ainda se trata do stock antigo que os comerciantes têm nos seus armazéns. Daqui a nada, a subida não será gradual, mas, sim, galopante. Se não aumentaram os preços de forma arrepiante é porque também tinham medo de sofrer represálias de quem regula este sector.
Estou convencido que dentro de algumas semanas iremos observar uma subida de preços jamais vista em Moçambique.
Não devemos esquecer que 90% dos produtos em Moçambique são importados. 99% da matéria prima usada para vários fins é importado, o combustível é também importado. Automaticamente, tudo vai subir, desde os transportes até à alimentação.
A economia moçambicana é dolarizada, o que se chama em linguagem técnica de dolarização, daí que alguns serviços são pagos em dólares, ou seja, o seu cálculo é feito nesta moeda. Temos escolas onde paga-se em dólares, bem como alguns exemplos que ora me ocorrem que são a DSTV e a Tv Cabo. Com certeza que estes serviços irão aumentar os seus preços.
Dívidas
Não vou falar das dívidas da Ematum e outras, porque este assunto até já virou chacota. Qualquer criança de três anos em Moçambique, goza com isso. A verdade é que estas dívidas, de cerca de dois biliões de dólares, vão ser pagas. Pode não ser a breve trecho, mas um dia terá de ser e será com juros.
Em Janeiro último, o Banco de Moçambique criou medidas duras sobre cartões de crédito e débito, muitos até criticaram Ernesto Gove, o governador do banco emissor, e Adriano Maleiane, o ministro das Finanças. Ao tomarem estas medidas, quase que cirúrgicas, eles foram claros: " Não temos divisas, Moçambique não exporta nada ".
A mensagem de que Moçambique estava à beira do caos veio camuflada com a nova norma de que cada moçambicano só poderia levantar até um limite de 700 mil meticais. Algumas pessoas perceberam a partir desta decisão do Banco de Moçambique que a economia moçambicana estava a agonizar.
Western Union
Todos os moçambicanos que têm algum familiar no estrangeiro faziam as suas transferências via Western Union ou Moneygram. Acontece, porém, que estes já nem querem saber do metical, apenas dólar. Os que têm necessidade de enviar algum valor para fora, são obrigados a levar um enorme volume de meticais, trocar em USD no mercado negro, depois fazem as suas transacções normais nestas instituições. E aqui também as transferências são limitadas.
Agências de viagens
Todas as agências de viagem em Moçambique podem entrar em ruptura, isto porque quase todas trabalham com a IATA.
A IATA deve pagar às companhias aéreas em dólares. Logicamente, a própria IATA, por estas alturas, tem os mesmos problemas em adquirir a moeda americana nos bancos, por não haver divisas. E isto pode forçar a IATA, a qualquer momento, a suspender os acordos que tem com as agências de viagens.
Os moçambicanos terão que viajar para África do Sul para adquirir passagens aéreas para outras partes do mundo e as viagens custarão muito mais caras porque a cada dia o metical perde o seu valor.
Mercado negro
No 27 de Junho, o BCI vendia o dólar, com comissão, a 69,300 meticais. No mercado negro, o dólar era vendido a 67,300 meticais. Quer dizer, dois meticais mais abaixo do que o banco. Isto significa que há escassez da nossa própria moeda, o metical, nos circuitos normais de circulação. Normalmente deveria ser o contrário, no mercado negro deveria estar a 71 meticais e o banco vender mais baixo.
Financiamentos bancários
Os bancos comerciais em Moçambique estão à beira do colapso, não assumem publicamente apenas porque não têm como devolver o dinheiro dos clientes, estão a ganhar tempo.
Por exemplo:
O banco emprestava dinheiro com uma taxa de juro de 24% ao ano, e só num ano houve desvalorização da moeda em 100% o que. O banco ganhou nesse ano?
Aliás, as taxas directoras do Banco de Moçambique tem estado a ser actualizadas, isto é, quem tem empréstimos vai pagar mais pelo valor que obteve...
Imobiliária
Os preços de imóveis em seis meses caíram cerca de 50%. Um apartamento que era vendido por 200 mil dólares, que na altura eram seis milhões de meticais, hoje custa cerca de 95 mil dólares, sendo que se trata de um valor proibitivo, ou seja ninguém compra.
Rendas
As rendas baixaram acima de 70 % e mesmo assim ninguém quer.
Uma loja que há 15 meses alugava-se por dois mil dólares, hoje a mesma loja está a 50 mil meticais, valor que não chega 800 dólares e mesmo com este preço a procura diminuiu.
Importação
Como disse anteriormente, as importações já caíram quase 90%, primeiro não há divisas nos bancos para importação, segundo, os comerciantes não têm capital suficiente para importar um contentor; está hoje duas vezes mais caro do que anteriormente.
Se o comerciante, porventura importar, corre o risco de não vender porque o produto custa 130% mais caro do que no passado recente, e ainda porque o vizinho que tem o stock antigo vende 100% mais barato do que quem importa agora.
Conclusão:
Moçambique não está em colapso, Moçambique está de "tanga", sinto muito por usar esta expressão.
Sou moçambicano de gema. Sinto quando vejo compatriotas meus a sobreviver. Ademais, há alguns que ainda não caíram na realidade e quando isto acontecer, provavelmente vai ser tarde demais.
Recebi sem indicação do local da publicação
Cumprimentos
Luiz Pinto

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