Alberto Castro*, Londres
Por mais que doa aos golpistas, traidores, oportunistas e seus simpatizantes, golpe é golpe, seja ele militar ou parlamentar. Assim o diz a literatura política e desse modo vê a maior parte do mundo o que se passou no Brasil, inclusive forças políticas e jornais conservadores que presam a democracia acima de tudo.
E o que se viu? Uma Constituição duplamente estuprada em uma mesma e historicamente vergonhosa sessão parlamentar. Por um lado, um jogo com torcida e arbitragem comprada e de placard pré-definido acabou em destituição de uma presidente sem que sobre ela ficassem claramente provados os crimes de que é acusada.
Por outro, a aplicação do famoso "jeitinho brasileiro" - algo que em outras paragens significa bandidagem, desrespeito ao próximo ou ao colectivo - para garantir à destituída seus direitos de exercício pleno de cidadania. Tem melhor confissão para o golpe?
Como disse o comentarista político e escritor Miguel Sousa Tavares, o congresso brasileiro, com todas as suas formalidades coimbrãs do século 19, mais parece um "saco de gatos e de bandidos".
Porém, conhecendo minimamente o Brasil, onde tenho amigos e familiares, recuso-me a colocar todo o imenso país e seu maravilhoso povo no mesmo saco refletido na maioria de seus parlamentares, como sempre o fez, aliás, a grande maioria de brasileiros, e como faz agora, infelizmente, a grande maioria de estrangeiros.
O Brasil é bem maior do que os seus políticos corruptos e traiçoeiros e parte de jornalistas, particularmente da imprensa hegemónica, sem ética deontológica e compromisso com a imparcialidade, denunciados e desmoralizados por colegas e comentadores da imprensa internacional.
-- Artigo de Alberto Castro publicado originalmente em Afropress
*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global
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