O primeiro-ministro rejeitou hoje, em absoluto, que as relações luso-brasileiras possam ser condicionadas pelos processos políticos internos de cada um dos países e frisou que tanto o Brasil como Portugal já acolheram exilados em períodos de ditadura.
Esta posição foi assumida por António Costa em conversa com a agência Lusa antes de chegar a São Paulo - cidade que marca o início da sua visita de quatro dias ao Brasil -, depois de questionado sobre a antipatia com que parte da esquerda portuguesa encara o seu encontro com o novo Presidente do Brasil, Michel Temer, na quarta-feira, no Rio de Janeiro.
O primeiro-ministro considerou natural que cada um, cidadão português ou brasileiro, faça uma avaliação política da situação interna em cada um dos dois países.
"Mas a nossa relação com o Brasil é Estado a Estado, e esta visita foi marcada para a abertura dos Jogos Paralímpicos, numa altura em que se desconhecia qual o presidente brasileiro que estaria em funções", referiu o primeiro-ministro, numa alusão ao recente processo que conduziu à destituição de Dilma Rousseff, sendo substituída na presidência brasileira por Michel Temer.
No plano diplomático, de acordo com António Costa, "o que seria absolutamente extraordinário era vir ao Brasil e não ter um encontro com o Presidente do Brasil", Michel Temer.
Um chefe de Estado brasileiro que António Costa diz conhecê-lo pessoalmente e que teve a oportunidade de o receber na Câmara de Lisboa na altura em que desempenhava as funções de vice-presidente do Brasil.
As relações luso-brasileiras, no plano histórico, segundo António Costa, "foram sempre de grande amizade, independentemente de quem esteve no poder em cada país".
"Foi assim que a ditadura brasileira não deixou de acolher exilados portugueses antes do 25 de Abril de 1974. E não foi por isso que se deixou de acolher exilados do Brasil durante a ditadura militar brasileira - tudo isto em nada prejudicou a relação entre os dois países. Era o que faltava agora termos qualquer tipo de alteração das relações entre os nossos países em função dos processos políticos internos de cada um", salientou o primeiro-ministro.
Sobre os objetivos da sua visita de quatro dias, que hoje começa em São Paulo e que termina no Rio de Janeiro na quinta-feira, o líder do executivo diz que será uma espécie "de três em um, porque a primeira razão foi representar Portugal na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro".
"Temos uma delegação muito importante e, por este motivo, quisemos enfatizar este terceiro grande evento desportivo em poucos meses, após o Europeu [de Futebol] e os Jogos Olímpicos", referiu.
Além dos Jogos Paralímpicos e dos objetivos económico-empresariais, o primeiro-ministro destacou também a vertente cultural, com a inauguração da Bienal de São Paulo, onde Portugal é o único país europeu representado.
"Juntamente com a exposição da bienal, vamos ter mais duas exposições importantes: Uma no Consulado de Portugal; e outra, muito grande, com muitos artistas portugueses - mas, sobretudo, bastante representativa da pintura contemporânea portuguesa -, que vai ser inaugurada no Museu Afro-Brasileiro, a poucos metros da Bienal", disse.
António Costa afirmou mesmo acreditar que este conjunto de iniciativas ajudará a mudar a imagem do país junto dos cidadãos brasileiros.
"Vai ser um grande momento de presença da cultura portuguesa. Um momento que acontece poucos meses após a Experimenta Design ter levado a cabo uma iniciativa também em São Paulo e contribuiu para dar uma visão do Portugal moderno, que nem sempre está presente no Brasil", acrescentou o primeiro-ministro.
António Costa estará hoje à noite na Bienal de São Paulo, no Parque de Ibarapuera, que apenas é inaugurada oficialmente na terça-feira, ode Portugal está representado pelos artistas Lourdes Castro, Carla Filipe, Gabriel Abrantes, Priscila Fernandes e Grada Kilomba.
Lusa, em Notícias ao Minuto
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