Segundo os últimos dados disponíveis do INE, este concelho registou depósitos bancários no valor de cerca de 139 milhões de euros em 2015, dos quais utilizou apenas 33 milhões em créditos, o que significa que Almeida libertou mais de 106 milhões de euros para a economia do resto do País. Mesmo assim, o governo entende que não merece ter um serviço público bancário.
José Castro* | opinião
A população de Almeida luta estes dias pela manutenção do seu serviço público bancário de proximidade, o balcão da Caixa Geral de Depósitos. Na chamada «imprensa de referência», a tónica é posta numa zanga entre autarcas do PSD e administração da CGD, com exigência de um pedido de desculpas pelo meio, o que apenas tem servido para deixar que as reais reivindicações das populações fiquem em segundo plano, escondendo as verdadeiras razões para este e demais encerramentos de balcões do banco público.
Ao contrário do que querem fazer crer essas notícias, a administração da CGD não tem, propriamente, nada de especial contra as gentes de Almeida. A verdadeira razão para o encerramento de mais este balcão da CGD está fundamentada na missão que os governos do PS e do PSD vêm atribuindo ao banco público.
Nisso, a resposta do governo à pergunta do grupo parlamentar do PCP no mês passado sobre mais este encerramento, não podia ser mais clara: «Neste âmbito, um dos pilares da estratégia comercial da Caixa é a revisão do modelo comercial e o redimensionamento da rede de balcões, em termos que permitam à CGD manter a sua posição de liderança na banca de retalho doméstica, ajustada ao potencial económico e de desenvolvimento de cada localidade. Tal revisão implica analisar atentamente: (i) a dimensão e rentabilidade das unidades de negócio, (ii) a dispersão geográfica e (iii) o potencial ou atractividade da respectiva zona de influência.»
Ao sancionar tal plano estratégico para a CGD, o governo admite que a dimensão de Almeida e a rendibilidade das suas unidades de negócio não servem, que a sua dispersão geográfica é-lhe fatal, e que o seu potencial e a atractividade da respectiva zona de influência não interessam ao País.
Ora, se tivermos em conta que, segundo os últimos dados disponíveis do INE, este concelho registou depósitos bancários no valor de cerca de 139 milhões de euros em 2015, dos quais utilizou apenas 33 milhões em créditos, isto significa que Almeida libertou mais de 106 milhões de euros para a economia do resto do País.
Mesmo assim, o governo entende que não merece ter um serviço público bancário. Nada mais injusto para esta população que infelizmente, já sabe o que é perder serviços públicos. Em 2010 perdeu a sua urgência com o encerramento do Serviço de Atendimento Permanente, ao qual se seguiu mais tarde a redução do horário de funcionamento da Extensão de Saúde.
Tal como a maioria dos concelhos no nosso país, Almeida sofre particularmente com as políticas neoliberais do PS e do PSD que os condenam à sorte da sua circunstância – afastamento dos grandes centros, um povoamento disperso e de baixa densidade.
Portugal é hoje um país cada vez mais dividido entre os territórios que perdem população e os territórios que acolhem quem abandona os primeiros. Com condições cada vez mais difíceis, as populações do interior são empurradas para uma mobilidade que desestrutura famílias e comunidades inteiras, acarretando novos problemas sociais e de condições de vida, tanto para as localidades de acolhimento, a braços com gravíssimos problemas de planeamento urbano, como para as localidades abandonadas, com desperdício de recursos públicos que estes governos se apressam a desviar.
Trata-se da velha ordem capitalista, centrada na obtenção e acumulação de grandes lucros e do concomitante poder, que não se compadece com o sentir de cada comunidade, nem com o seu bem-estar, desenvolvimento e prosperidade. E contra isso não chega pedir desculpas, nem projectos de descentralização bem-intencionados, nem espampanantes planos de valorização do interior.
Só uma efectiva inversão de políticas, nomeadamente mudando o rumo da banca e do banco público, pode contribuir para reverter esta situação.
*José Castro, professor | em AbrilAbril | Foto: Agência Lusa
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