segunda-feira, 17 de julho de 2017

Angola | PROPOSTAS ELEITORAIS


Víctor Carvalho | Jornal de Angola, opinião

Para o cidadão comum, sobretudo o menos comprometido com fidelidades partidárias, os últimos dias têm sido marcados pela expectativa que resulta da tomada de contacto sobre aquilo que tem sido expresso pelas diferentes forças que se perfilam para disputar as eleições de 23 de Agosto.

De um lado está o partido que governa, curiosamente o único que apresenta uma aposta verdadeiramente nova para a liderança do país e, do outro, cinco formações que teimam em não alterar aquilo que tem sido o seu discurso político, com caras “velhas” e fazendo da exclusão o seu exclusivo tema de campanha.

Curiosamente, os que tudo fazem para perpetuar as suas lideranças são os que mais falam na necessidade de mudança, fazendo desta palavra um chavão no qual nem eles mesmo acreditam e que, como se tem visto, os enreda em intrigas palacianas posicionando-se para uma corrida por um protagonismo político que nada até agora fizeram por verdadeiramente merecer.

O MPLA, a única formação que apresenta caras novas como proposta para o comando da governação, tem sabido gerir habilmente essa condição, indo ao encontro daquilo que é a curiosidade do eleitorado menos comprometido com forças políticas mobilizando multidões de gente por onde o seu candidato a Presidente da República passa.

O périplo que, nesta pré-campanha eleitoral, João Lourenço efectuou de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste foi coroado pela resposta que as respectivas populações deram para satisfazer a sua curiosidade em ouvir um discurso positivo e prenhe de propostas, tendo por base um programa atempadamente delineado e apresentado e que contempla aquilo que é a ambição generalizada dos angolanos.

Como alternativa a este positivismo, o eleitorado nacional vê-se confrontado com o negativismo discursivo de líderes políticos que prometem o que sabem não poder dar e que, por via disso, se deixam perder num labirinto de contradições e de acusações contra tudo e contra todos os que não estão nas suas fileiras.

Só assim se entende as obsessivas acusações contra os órgãos que supervisionam o processo eleitoral e os ataques contra a comunicação social, que visam, objectivamente, atenuar desde já o efeito de uma eventual derrota, tentando desviar a atenção dos seus apoiantes daquilo o que, na verdade, é o seu grande problema: a falta de um projecto político minimamente coerente e capaz de mobilizar votos.

A falta desse projecto faz com que os principais partidos da oposição se apresentem perante os eleitores com um discurso desconexo, desperdiçando excelentes oportunidade para mostrar a razão pela qual estão a pedir votos para chegar ao poder.

Insistir em velhas lideranças, quando supostamente se quer ter um discurso novo e sustentado em propostas concretas e tangíveis, é um tremendo tiro nos dois pés que deixa o MPLA tranquilo para preparar um novo ciclo de governação baseado numa transição natural. Transição, aliás, é aquilo que os partidos da oposição também terão que inevitavelmente fazer caso o resultado das eleições de 23 de Agosto os penalize de modo humilhante. Só que, contrariamente ao que está a acontecer com o MPLA, essa transição terá que ser feita num ambiente interno de enorme crispação e de divisão.

Um exemplo disto aconteceu esta semana quando o líder da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, foi achincalhado pela Rádio Despertar, afecta à UNITA, naquilo que parece ter sido o pontapé de saída para uma outra corrida: ver quem é, na verdade, o líder da oposição.
A confirmar-se esta corrida estaríamos perante o antecipado e incontornável reconhecimento do desaire eleitoral de Agosto, não mais restando a estas duas formações do que uma disputa pela liderança da oposição, um estatuto importante mas que é sempre atribuído aos vencidos.

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