Mário de Freitas | Cidadão |
A amizade é
vista, por uns, como «a âncora que sustenta a vida». Pode haver um amor desinteressado
ou uma segunda família, mas a amizade é sempre um recurso escasso – mas muito
desejado.
Outros definem a
amizade como «uma coisa que vale milhões». Não tem preço ter alguém que nos
socorra nos momentos mais difíceis; que se levanta de madrugada para nos
resgatar o moral; que nos empresta, se necessário, a casa ou o carro; que nos
facilita dinheiro em horas de emergência; que se prontifica a escutar sem
moralizar; que deixa de fazer para si em detrimento do amigo/a; que tem a coragem
de dizer – mesmo sabendo que poderá magoar – mas consciente que é para bem do
amigo/a. «A amizade tornou-se no ingrediente fundamental das relações amorosas
e de parentesco, o que reflecte o triunfo das escolhas individuais e da
sinceridade afectiva sobre os interesses e normas». Mas o que mudou na sociedade
para que este sentimento tenha alcançado um estatuto de eleição? Os vínculos
laborais são precários, os laços familiares e conjugais, também – um novo
paradigma dos relacionamentos humanos nasce na sociedade ocidental. O
passaporte para a amizade implica uma viagem ao universo das emoções, onde
habitam, a fragilidade e as contradições.
Um amigo pode
ser um espelho ou uma tela de projeção, que põem a nu partes nossas difíceis de
aceitar e abrem possibilidades de mudança. Um bom amigo poupa-nos idas ao
médico.
O escritor
espanhol Miguel de Cervantes eternizou esta evidência com o célebre «diz me com
quem andas, dir-te-ei quem és». Embora raro há, ainda hoje, volvidos muitos
anos, a possibilidade de ver amigos incondicionais como antes.
Privei, algumas
vezes em Moçambique (Lourenço Marques) e em Portimão, com o recém-eleito
Presidente da República. Por uma questão de amizade, simpatia e educação
felicitei-o através de uma mensagem de telemóvel que presumo tenha sido uma de milhares...
Apesar da sua
vastíssima agenda, que é pública, não se espantem se vos disser – respondeu-me!
«Kanimambo» senhor Presidente!
Um amigo talvez
seja atraído por uma questão de química, ou por outra qualquer razão. Pode,
até, ser parecida com o amor, que simplesmente acontece. Acaba por ser – a
amizade – das poucas coisas que se levam da vida. «A gente não faz amigos,
reconhece-os».
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