Martinho Júnior, Luanda
1 – Uma das principais geo estratégias da hegemonia unipolar contra a Federação Russa, tem sido a de aplicar sucessivas balcanizações nas suas periferias ocidental e do sudoeste, a fim de com isso influenciar, de acordo com os parâmetros dum provocado efeito dominó, a desintegração do alvo principal que é a própria Federação.
Essa amarga experiência foi testada na própria Federação Russa, quando Boris Yelstin, o“produto” neoliberal que teve a ver com a implosão da URSS, era simultaneamente um agente da fragilização e das potencialidades de caos.
Essa “ementa” foi pois sendo aplicada sucessivamente nos Balcãs (desintegração da Jugoslávia) e no Cáucaso (problemas da Tchechénia e Ossétia), tal como tem sido aplicado em outras paragens, sobretudo em África, com os casos mais recentes do Sudão (independência do Sudão do Sul e problema do Darfur) e da Líbia após assassinato de Kadafi (desaparecimento da entidade sócio-política que ele criou).
África aliás tem sido vítima de expedientes dessa natureza, utilizados contra as frágeis identidades nacionais e Angola foi e é disso exemplo, quando o etno-nacionalismo savimbiesco serviu os propósitos do colonialismo (Operação Madeira), do “apartheid” (todas as operações lançadas pelas SADF na sua obsessão de “guerra de fronteiras”), do choque neoliberal (entre 1992 e 2002, durante a “guerra dos diamantes de sangue”) e agora, em época da actual situação de terapia neoliberal, integra resíduos dessas tendências aglutinando expressões antropológicas, sócio-políticas e psicológicas que emergem em função do patamar de democracia que se tornou possível após 2002, (sob influência e manipulação de estímulos e dispositivos norte-americanos e de seus aliados da NATO, filtrados sobretudos por seus sistemas de inteligência e “soft power”).
2 – Os processos de desintegração nas proximidades das fronteiras da Federação Russa, são animados com o recurso a fundamentalismos, em alguns casos repescando redes “stay behind” que a NATO teve o cuidado de cultivar (por exemplo as sensibilidades ultra-nacionalistas ligadas à figura de Bandera na Ucrânia), noutros repescando, por via da instalação de caos, radicalismos islâmicos cujas sementes foram lançadas ao serviço do próprio neoliberalismo desde a era da administração republicana de Ronald Reagan, no Afeganistão e desde então disseminados pelas administrações que se seguiram no Médio Oriente e em África.
Na imediata sequência da implosão soviética, a Federação Russa experimentou no Cáucaso processos de desagregação na Tchechénia, na Ossétia, na Inguchétia e no Daguestão, chegando mesmo a Tchechénia a proclamar a sua independência, só possível graças ao carácter da governação neoliberal de Boris Ieltsin por um lado, pelo outro graças à agressividade do radicalismo islâmico da parte dos chechenos, tudo isso estimulado pelos neoliberalistas actuando no âmbito da hegemonia unipolar.
A Federação Russa ganhou consciência e poder, com os governos do tandem Putin-Medvedev, para fazer face a esse tipo de fenómenos, primeiro defendendo-se (a Tchechénia foi dominada e foi posto fim à efémera independência), depois passando ao contra-ataque, ou seja, fazendo outros provar o mesmo tipo de soluções (conforme o contencioso da Geórgia, com o surgimento da Ossétia do Sul e da Abcásia).
3 – As capacidades desenvolvidas pelo tandem Putin-Mdvedev, intimamente associadas à inteligência cultivada nas e a partir das Academias russas cujo passado mergulha nas raízes soviéticas, estimulam as respostas russas face à desagregação nas periferias de suas fronteiras e, perante a ameaça do efeito dominó para dentro da Federação Russa, aplicam ementas que em tudo lhe são próximas, a partir do que aprenderam com a experiência do Cáucaso.
A Ucrânia sentiu-o com a integração da Crimeia na Federação Russa e a rebeldia a leste, contrariando as tendências implantadas pelo excludente processo de Maidán em Kiev.
Por fim na Síria, a Rússia aumentou a parada da resposta aos efeitos conjugados da desagregação junto a suas fronteiras e as potencialidades do efeito dominó, reforçando os dispositivos em torno do governo sírio e reafirmando a indivisibilidade da Síria, num processo mais reactivo do que defensivo.
4 – A questão turca que agora assume um outro vigor, está em balanço também em função dos interesses russos junto às suas fronteiras.
A Federação Russa não está interessada na desagregação da Turquia e daí a oportunidade que está a dar a Erdogan para, com políticas integradoras para com importantes franjas das comunidades curdas, desligar-se de vínculos que o colocaram em conexão com o Estado Islâmico e em menor escala com a Al Qaeda, conforme o que foi estimulado com tanta ambiguidade quanto poder de manipulação via União Europeia, via NATO e via aliados arábicos (com a Arábia Saudita e o Qatar à cabeça), pela hegemonia unipolar sob a égide dos falcões norte-americanos e israelitas.
Uma completa viragem de 180º nas políticas indexadas a Erdogan pode ser impossível, todavia a Federação Russa joga com todo o peso do seu “soft power” e com ele do “soft power” da EurÁsia, em função sobretudo da cada vez mais conseguida emergência asiática.
A vitalidade da conversão turca, depende agora duma conversão à EurÁsia do próprio Erdogan!
Mapas:
- Desagregação da Jugoslávia (segunda balcanização);
- Desagregação no Cáucaso;
- Desagregação da Ucrânia;
- Desagregação da Síria.
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