A
Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) alertou hoje para a aplicação de sanções a
Portugal e Espanha, por parte da União Europeia, por atrasar a recuperação
económica, gerar "mais pobreza" e um "maior
descontentamento" face à UE.
"Nenhuma
destas consequências é desejável na atual situação económica e política",
refere em comunicado a organização, presente nos 28 Estados-membros,
considerando "contraproducente" a aplicação de eventuais sanções e
multas.
A
EAPN manifesta particular preocupação relativamente "ao impacto da
proposta de cortes nos Fundos Estruturais", considerando que "seriam
prejudiciais" para os programas sociais que promovem a inserção
profissional e a inclusão social dos mais vulneráveis.
"Em
última instância, as sanções do Conselho castigariam os desempregados de longa
duração e todas as pessoas que vivem em situação de pobreza e exclusão social
que, claramente, não são responsáveis pelas ações dos seus governos",
refere a EAPN.
Para
o presidente da EAPN Portugal, Jardim Moreira, "este tipo de castigo cego,
e que não é capaz de contemplar o caso específico de cada Estado-membro,
reprova o esforço feito e desmobiliza".
"Aos
olhos de milhões de europeus, a UE converteu-se numa instituição distante e
irrelevante que parece ter pouco ou nenhum impacto positivo nas suas vidas. Se
a UE pretende sobreviver e desenvolver-se, isto terá de mudar", adverte o
padre Jardim Moreira, no comunicado.
Para
Jardim Moreira, este tipo de atitude "ignora e destrói os fundamentos de
uma Europa que se pretende dos cidadãos, e manifesta uma cultura europeia
perversa".
"Uma
Europa que não tem em consideração os fatores externos que nos conduziram a
esta situação, que não respeita a capacidade de cada Estado-membro e as suas
circunstâncias, e que, ao invés de solidariedade, promove a pobreza, é uma
Europa que está muito distante dos seus fundamentos originais", lamenta.
Para
o responsável, a atenção da UE não deve centrar-se apenas na "preservação
de finanças públicas responsáveis" a qualquer preço, mas numa
"compreensão mais integrada" da situação dos dois países.
O
crescimento económico está a melhorar, mas Espanha e Portugal devem ser
considerados "casos excecionais", onde deveriam ser permitidos
"excessos temporários", como está contemplado no Tratado da União
Europeia, defende.
Salienta
ainda que impor mais medidas de austeridade a Portugal e Espanha "não é
social nem politicamente viável".
O
que Portugal necessita é de mais "crescimento inclusivo", para
cumprir o défice público, e "não de mais receitas através do aumento da
pressão fiscal indireta" ou da redução nos investimentos sociais, afirma
Jardim Moreira, considerando que a UE deveria dar prioridade à luta contra a
pobreza e a exclusão social, em linha com o objetivo da Estratégia Europa 2020.
No
dia 12 de julho, o Conselho Europeu considerou que Portugal e Espanha não
tomaram as medidas necessárias para responder às recomendações para corrigir o
défice excessivo.
Lusa
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