O
músico norte-americano Bruce Springsteen edita hoje a autobiografia "Born
to run", descrita por ele como "uma longa e ruidosa oração"
sobre música, família, ambição, egocentrismo, persistência e depressão.
"Born
to run" sai hoje em simultâneo em vários países, incluindo Portugal, e nas
quase 600 páginas Bruce Springsteen, 67 anos, recorda, de forma cronológica, a
vida privada e pública até à atualidade. O músico decidiu escrevê-la depois de
ter atuado em 2009 com a E Street Band na Superbowl, a final do campeonato
norte-americano de futebol.
No
livro, Bruce Springsteen fala sobre a educação católica em Freehold, Nova
Jérsia, onde cresceu com uma família de ascendência italiana e irlandesa, e
revela a relação tumultuosa com o pai, a quem foi diagnosticada esquizofreina
paranoica.
O
músico faz um exercício de memória detalhado sobre os tempos em que decidiu,
entre a infância e a adolescência, seguir caminho pela música, formando os
Castiles, "épica escola primária do rock", e os Steel Mill, que
tocavam "música pesada para a classe trabalhadora".
Só
mais tarde formaria e lidera até hoje a E Street Band, onde reina uma
"ditadura benevolente", à frente de músicos como o saxofonista
Clarence Clemons, que morreu em 2011, o guitarrista Steve Van Zandt, o
"principal conspirador do rock'n'roll", e a cantora Patti Scialfa,
mulher e mãe dos três filhos do músico.
Bruce
Springsteen recorda que a primeira canção que tocou numa guitarra foi
"Twist & Shout", que ainda hoje inclui nos concertos, que
"Born in the USA" é uma das melhores e mais incompreendidas canções
do repertório e que foi com o álbum "Darkness on the edge of town"
(1978) que encontrou a "voz adulta".
Bob
Dylan, Rolling Stones, Van Morrison, Roy Orbinson, Elvis Presley são alguns dos
"heróis" citados no livro e por várias vezes o autor diz que sempre
quis ser uma voz que refletisse a experiência e o mundo em que vivia.
"Cresci
nos anos 60, pelo que a consciência social e o interesse pela política estão
gravados no meu ADN cultural. Mas na verdade foram as questões de identidade
que se tornaram proeminentes após o meu sucesso".
Reconhece
defeitos - é egocêntrico e controlador - e também limitações: "A minha voz
jamais ganharia prémios. O meu acompanhamento com guitarra era rudimentar, por
isso restavam-me as canções. As canções teriam de dar nas vistas".
"A
minha escrita estava centrada nas questões de identidade - quem sou, quem
somos, o quê e onde é a nossa casa, de que é feita a masculinidade ou a idade
adulta, quais são as nossas liberdade e as nossas responsabilidades",
relata em "Born to run".
Bruce
Springsteen diz que escrever esta biografia foi "uma questão de
honra" para com as várias gerações de fãs que o acompanham desde os anos
1960, e expõe o lado mais íntimo e pessoal, sobretudo a luta contra uma
depressão crónica, descrita como "um derrame de petróleo", um
"vulcão adormecido".
Para
ele, que considera a sobriedade é uma "espécie de religião", a música
funciona como o 'Santo Graal' da existência: Escrever, compor, cantar, gravar,
planear e estar em palco.
"A
minha capacidade de mante a energia durante concertos com mais de três horas ao
longo de 40 anos (...), com uma resistência inabalável, surgiu por me aperceber
de que tinha de usar tudo ao meu dispor para voz levar onde eu queria que
fôssemos", conta já nas últimas páginas de "Born to run".
A
edição portuguesa do livro é da Elsinore e teve tradução de Maria do Carmo
Figueira e João Reis.
A
propósito do livro, Bruce Springsteen editou na sexta-feira a compilação
"Chapter and verse", uma antologia de carreira.
Lusa
Nenhum comentário:
Postar um comentário