quinta-feira, 3 de novembro de 2016

ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO E NEPOTISMO COM PRESIDENTE PARK MERGULHA COREIA DO SUL EM CRISE POLÍTICA


 
Republic of Korea / Flickr
A presidente da Coreia do Sul,  Park Geun-hye
A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye
A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, admitiu ter sido aconselhada sobre decisões políticas por uma amiga que não possui nenhum cargo governamental.
Na última semana, rumores de conselheiros secretos, corrupção e nepotismo envolvendo a presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, mergulharam o país numa crise política.
A chefe de Estado, primeira mulher a ocupar o cargo e filha de um ex-ditador, enfrenta agora pedidos de renúncia por parte da população.
O escândalo foi revelado nas últimas semanas, quando surgiram rumores de que Park seria aconselhada por Choi Soon-sil, sua amiga há quase quatro décadas.
Choi, mesmo não exercendo nenhum cargo público, opinava em decisões que variavam da cor das roupas que a presidente usava até discursos e grandes decisões políticas, tendo até, segundo algumas denúncias, tido acesso a informações confidenciais.
Choi Soon-sil teré, inclusivamente, criado uma espécie de “clã” para auxiliar a presidente, o grupo das “Oito Fadas”.
Os rumores foram confirmados na terça-feira da semana passada, altura em que Park veio a público admitir ter recebido conselhos de Choi Soon-sil.
A presidente desculpou-se durante uma conferência de imprensa, afirmando ter agido sempre “com um coração puro”.
De acordo com a presidente Park, recebeu conselhos de Choi, que editou os seus discursos, apenas em 2012, durante a sua campanha presidencial, e em 2013, pouco após ter assumido o cargo.
Choi, por sua vez, nega ter criado as “Oito Fadas”, mas confirmou ter auxiliado Park. Disse, porém, não saber que tinha tratado de assuntos confidenciais, por não possuir nenhum cargo no governo.
A população está agora a questionar se a presidente é capaz de tomar qualquer decisão por si própria.
Para alguns analistas políticos, a imagem que passa é que, na verdade, Choi terá manipulado Park por tempo indeterminado.
Na sexta-feira e durante o fim de semana foram organizadas manifestações a pedir que a presidente renuncie, e que Choi seja presa.

Corrupção e nepotismo

Choi, que é filha do mentor de Park e líder religioso Choi Tae-min, também estará envolvida em esquemas de corrupção e nepotismo.
Ter-se-á aproveitado da sua proximidade com a presidente para conseguir cerca de 70 milhões de dólares em doações da Federação de Indústrias Coreanas para duas ONGs e terá desviado parte desse dinheiro, ainda que não se saiba quanto – nem esteja claro o envolvimento da presidente Park nestes casos.
Além disso, há alegações de que Choi se terá aproveitado da sua condição para fazer com que a Universidade para Mulheres Ewha, uma das melhores do país, mudasse as regras para a filha, que não tinha as notas necessárias para entrar na instituição, ser admitida.
No último dia 19, dois dias após a imprensa coreana descobrir esta primeira etapa dos escândalos envolvendo Choi Soon-sil, a diretora da Ewha, Choi Kyung-hee, renunciou ao cargo.
Esta segunda-feira, Choi Tae-min dirigiu-se a Seul, a capital sul coreana, para prestar depoimento à promotoria do país, que investiga o escândalo e tenta determinar a abrangência da sua influência nas decisões de Park.

Reacções ao escândalo

Perante o escândalo confirmado pela própria presidente na passada terça-feira, a oposição, a imprensa e analistas políticos da Coreia do Sul comentaram a situação.
Numa tentativa de diminuir a pressão sob o cargo, Park já demitiu vários de seus conselheiros.
Lee Jae-myung, líder da oposição a Park, afirma que ela “perdeu autoridade como presidente”.
Já o jornal conservador Chosun Ilbo defende, em editorial, estar a ocorrer um “completo colapso da capacidade de um presidente de governar”.
“A única via aberta para Park é colocar o interesse público em primeiro lugar e sair do governo. Muitas pessoas sentem vergonha dela. Está na hora de que ela também sinta”, escreve o jornal.
Para o analista político Shin Yool, da Universidade Myongji, há apenas duas formas de Park sair da situação em que se encontra: “propor uma grande coligação de governo para retirar de si própria o poder de tomada de decisões, ou prometer renunciar”.
“Sempre houve corrupção a cercar o poder durante toda a história política sul coreana, que sempre envolveram membros da família ou pessoas próximas de presidente”, disse Shin ao jornal norte-americano Washington Post.
“Mas nunca antes tinha atingido o próprio presidente”, diz Shin – apesar de não ter sido confirmado o envolvimento de Park nos esquemas de corrupção de Choi.
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