domingo, 18 de dezembro de 2016

Coisas que você não vê todo dia: um míssil pousando

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Nos primórdios da Guerra Fria a única forma de fazer um artefato nuclear chegar até Moscou ou Washington era via bombardeiros. ICBMs ainda não haviam sido inventados e SEDEX ficaria retido em Curitiba. Para pilotos era péssimo, a expectativa de sobrevivência era menor que zero. Então surgiram os mísseis de cruzeiro.
Se você disser que eles nada mais são que mini-aviões a jato com piloto automático, não está errado. Um deles, o de maior alcance até hoje foi o SM-62 Snark, um projeto que começou em 1946 e começou a ser produzido em 1958.
Lembrando que nessa época computadores ocupavam andares inteiros de prédios, é incrível que tenham miniaturizado um sistema de navegação astronômico automatizado. O bicho identificava constelações, as usava para se orientar e atingia o alvo com precisão de 2,4 km. Parece pouca mas não é.
Primeiro, acertar o alvo em 2,4 km depois de ter voado 10 mil km já é bem preciso. Segundo, quando você está levando uma ogiva nuclear W39 de 4 megatons, cair 2,4 km fora do alvo e nada é a mesma coisa.
Só que fazer um míssil que voe 10 mil km não é simples, há milhares de coisas que podem dar errado. É preciso muito vôo de teste, mas isso funciona com aviões, onde idealmente o número de decolagens equivale ao de pousos. Mísseis são feitos para fazer cabum ao final da missão.
Como inspecionar um míssil de cruzeiro? Ok, podem fazer o bicho cair num deserto, e recolher as peças mas muita informação se perde.
Os jovens e geniais engenheiros de Jack Northrop (geniais, obviamente. Jovens, pois se fossem velhos não teriam coragem de propor algo tão fora da caixa) sugeriram: vamos fazer o Snark pousar.
Eles até esperaram algumas horas, mas nada do GPS e do microchip serem inventados. Então, usando tecnologia da época, incluíram no sistema de navegação já preciso do Snark mais precisão ainda, e instruções para no final de um longo vôo em vez de explodir, efetuar uma manobra de pouso.
Lembre-se: sem câmeras, sem computadores, sem Arduíno, sem nem uma cabine para um estagiário pilotar.
Resultado? SUCESSO! Com esquis ao invés de rodas (menos peso) e um paraquedas de frenagem, o Snark fez vários pousos bem-sucedidos no Cabo Canaveral, e temos vídeo:
Infelizmente logo depois alguém inventou o ICBM, os mísseis de cruzeiro se tornaram obsoletos para ataques nucleares em larga escala, e o Snark foi abandonado.

Postado Por  em 15 12 2016 em DestaqueDestaquesEngenharia em meiobit

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