Eleitoralismo, sim senhor// House of Cards de volta// O fim de Noriega

David Dinis, Director

Morreu Manuel Noriega, o antigo ditador do Panamá. O antigo general tinha 83 anos. Estava em coma induzido desde Março. Governou o país da América Central de 1983 até à invasão norte-americana em 1989. Foi condenado por vários crimes e acabou por pedir desculpa por eles. O número de vítimas da ditadura é, até hoje, incerto.

Mais confrontos na Venezuela. A manifestação de ontem contra o Governo de Nicolas Maduro acabou com agressões ao ex-candidato presidencial, Henrique Capriles, relata o El Pais. 

Theresa May admite um Brexit sem acordo com a UE. Numa entrevista à Sky, a primeira-ministra deixou o aviso claro: "Não ter acordo é melhor do que ter um mau acordo. Algumas pessoas na Europa dizem que querem castigar-nos, mas isso seria um mau acordo". Pouco antes, também Jeremy Corbyn esteve à defesa, mas sobre o seu polémico programa eleitoral. O The Guardian resume assim as respostas dos dois. E as sondagens continuam a mostrar May em perda.

Ao lado de Putin, Macron denuncia propaganda russa. Uma provocação oculta numa pergunta foi suficiente para o Presidente francês, Emmanuel Macron,fazer algo que nenhum outro líder fez ao lado de Vladimir Putin.

E por cá, falando de futebol, Rui Vitória tentou tranquilizar os adeptos: "Não há drama" se saírem jogadores. "Temos de fazer reset, voltar a zero de uma forma humilde e partir para novas conquistas". 

As notícias do dia

A nossa manchete de hoje tem duas faces: pode ser lida pelo lado bom ou pelo menos bom. Vamos por aqui: a limitação de mandatos travou a “gestão eleitoralista” nas autárquicas. Ou por aqui: os gastos de autarcas recandidatos dispararam em ano de eleições. Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos mostra como a lei que travou os chamados "dinossauros" já teve efeitos positivos no poder local. Mas, sim, também comprova que muitos políticos ainda não perceberam que o mundo mudou. O nosso editorial é precisamente sobre isto: um viva à limitação de mandatos.

Voltamos à cimeira ibérica? Com uma notícia da Bárbara Reis: Portugal e Espanha vão candidatar-se juntos aos fundos comunitários para as regiões transfronteiriças. O objectivo é maximizar apoios do próximo quadro de financiamento europeu (2020/26), enquanto se põem em prática outros acordos entre os dois países. Fora da agenda ficou o tema mais incómodo.

(A propósito de fundos europeus, vale a pena ler o João Miguel Tavares sobre "uma chico-espertice que dura há décadas" neste tema)

Falando em avisos, aqui está um dos "lesados" do BES: "Não acredito que deputados vão de férias sem fechar uma solução", diz o representante deles, alertando para o atraso na aprovação da proposta de lei para o fundo de recuperação.

No Novo Banco, uma espécie de alívio: os credores não vão travar a troca de dívida, diz o Negócios. De resto, António Costa parece descansado: não vai ser preciso um "banco mau", diz ao Handelsblatt.

Um outro aviso, vindo do BCE: é preciso resolver a banca, sff (mesmo com um elogio ao Governo). E outro da Comissão: não haverá flexibilidade no OE2018(também via Negócios).

E mais um, dirigido a Rui Moreira: o Bloco e PCP pediram a anulação do acordo entre a Câmara do Porto e a Selminho. Mas a Assembleia Municipal votou ao lado do autarca.

Enquanto isso, em Lisboa, Medina fez de Fidel: uma hora e quarenta de palestra numa frase: "Lisboa está melhor".

No arrendamento urbano, uma confirmação: a lei não mudará até ao final do ano. 

Na Educação, mais cortes para os privados: o próximo ano lectivo volta a reduzir turmas nos colégios: menos 268, diz hoje o DN.

Na Saúde, uma notícia positiva no combate ao VIH: Portugal já atingiu uma das metas da ONU para 2020.

E, para as crianças, o Bloco pede mais: acabar com fome nas escolas e aumentar o abono, para pôr fim à pobreza infantil em 10 anos.

O PSD junta hoje os deputados com outra agenda: saíram da gaveta a redução do número de deputados e o voto preferencial. Mas também um desafio a Ronaldo (perdão, a Mário Centeno).

Para saber mais 

1. À conversa com Kevin Spacey, no regresso de House of Cards. Vejam bem a sorte da Maria João Monteiro: no dia em que chega a quinta temporada da melhor série política da actualidade, ela esteve à conversa com Frank Underwood, ou melhor, com o genial Kevin Spacey. E logo agora, que o inquilino da Casa Branca disputa os enredos. Spacey bem tentou dizer que não queria falar de Trump, mas... Bom, o melhor é ver por onde foi a conversa e preparar-se para logo à noite.

2. Para onde fica a guerra, Brad Pitt? Máquina de Guerra, recém-estreado no serviço Netflix, foi inteiramente financiado pelo gigante americano do streaming, sem passar pelos grandes estúdios nem ter tido estreia em sala. Não é o primeiro filme produzido directamente pela Netflix, mas é o filme que melhor desenha as ambições do serviço a subir à “primeira liga”. A história? É uma narrativa ficcionada a partir da história verídica do general Stanley McChrystal, enviado para o Afeganistão para “vencer a guerra” e responsável pela “escalada” de tropas americanas, que caiu em desgraça depois de uma reportagem demasiado reveladora de um jornalista da Rolling Stone. Vale a pena, Jorge Mourinha? E, já agora, que nos dizes sobre esta guerra Nettflix vs Hollywood?

3. Está confirmado: os terroristas têm uma distorção do juízo moral. Um grupo de cientistas submeteu 66 terroristas paramilitares da Colômbia a vários testes e comparou os resultados com um grupo de homicidas e com outro de não criminosos. A Andrea Cunha Freitas analisou os resultados, desfazendo pelo caminho vários mitos (ou coisas em que gostaríamos de acreditar, para nosso conforto).

4. A portuguesa que enfrentou os militares na Venezuela. Durante os dez ou quinze minutos em que Maria José Castro enfrentou sozinha um blindado da Guarda Nacional Bolivariana, impedindo-o de avançar sobre uma multidão de manifestantes, rebentaram à sua volta 35 bombas de gás lacrimogéneo. “Mas sabes o que me aconteceu?", perguntou a emigrante portuguesa de 54 anos de idade à Rita Siza, aqui do PÚBLICO. A conversa serviu de mote para esta reportagem: cansados ou determinados, os portugueses na Venezuela resistem. E também para esta entrevista com Andrea Tavares, dirigente do Fórum Câmbio Democrático, sobre a crise, as suas origens e o protesto. Mas o murro no estômago chega quando olhamos para o que se passa no terreno: os venezuelanos têm fome, mas os agricultores não conseguem dar-lhes de comer. Prepare-se: esta é de leitura difícil.

5. A Teresa de Sousa hoje escreveu-nos isto: "Angela Merkel mede sempre as palavras. Aquelas que proferiu no domingo, em Munique, não foram excepção. Chegaram, no entanto, para provocar uma pequena tempestade. Quando disse que a Europa não pode continuar a depender dos EUA, acrescentou um 'completamente'. Vinha de uma cimeira da NATO e outra do G7 que foram a estreia de Donald Trump na casa dos seus aliados europeus e que correram bastante mal. Ficar em silêncio não era uma opção". É obrigatório ler, sobre as palavras de Merkel e o pragmatismo de Macron. 

A agenda de hoje

• Termina a cimeira lusa-espanhola, em Vila Real;
• O secretário de Estado das Comunidades visita a Venezuela, com promessas de apoio à comunidade portuguesa;
• Os deputados do PSD reúnem-se em jornadas parlamentares centradas em Albufeira;
• O INE publica a estatística mensal de emprego e desemprego que indicará o valor da taxa em Abril;
• Portugal tenta ir mais longe no Mundial de sub-20, ao defrontar nos 'oitavos de final' a Coreia do Sul, anfitriã da fase final do torneio.

Só mais um minuto...

... para ver o anúncio do Ramadão que está a “bombardear o ódio com amor”. Assim mesmo: uma canção contra o jihadismo.

E, se falamos em símbolos de uma paz desejada: "Happy birthday Mr. President". Onde quer que esteja, zele por quem está na Casa Branca, pode ser?

Acho que, por hoje, está bem assim. Claro que há muito mais por descobrir na nossa página - e que muito mais chegará ao longo do dia. Mas é tempo de desejar-lhe um dia bom, tão feliz quanto produtivo. Vamos a ele?

Até já!