O país enfrentou na última semana uma tragédia sem paralelo que ficará na História, pelos piores motivos. Em sete dias, perderam-se 64 vidas, habitações, animais, e hectares, muitos hectares de floresta. O Notícias ao Minuto recorda-lhe os factos que marcaram a semana, as histórias interrompidas, de coragem e solidariedade, que depois de contadas deram lugar a dúvidas e muitas questões. Ao terreno chegou, finalmente, a fase de rescaldo, fora dele é o momento de apurar responsabilidades.
- O bombeiro Gonçalo Correia morreu, aos 39 anos, em Castanheira de Pera, durante o combate às chamas. Deixou um filho
© Facebook/Gonçalo Assa
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Sábado, 17 de junho. Os relógios marcavam 14h00, a hora de mais calor durante um dia de temperaturas altas (o dias mais quente de junho) e o pior espoletava. O que parecia 'apenas' (mais) um incêndio viria, horas depois, a transformar-se numa das maiores tragédias da história do país.
Já a noite caía quando, aos jornalistas, o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, revia para 19 os quatro mortos inicialmente confirmados pela GNR.
No palco das operações, além de bombeiros de várias corporações, elementos da Proteção Civil, e militares da GNR, estavam já membros do Governo e comunicação social a acompanhar o desenrolar de uma catástrofe que, tanto quanto se sabe até agora, teve origem numa trovoada seca que, aliada às elevadas temperaturas e ventos fortes, 'ajudavam' as chamas a alastrar por todo o concelho de Pedrógão Grande.
Não tardou muito até que o mesmo responsável colocasse aquela região emalerta máximo, fazendo subir de imediato o nível de atuação municipal para regional e, posteriormente, nacional. Perante as frentes de incêndio chegaram a estar mais de dois mil operacionais, centenas de veículos e vários meios aéreos (incluindo internacionais) que tentavam minimizar os estragos provocados por aquilo que o primeiro-ministro já descrevia como "a maior tragédia dos últimos anos".
Em simultâneo foram-se multiplicando os pedidos de ajuda e divulgando as formas como esta podia ser prestada, não só a quem já tinha perdido tudo, como aos que ainda arriscavam perder o mais importante: a vida. Conhecidas começavam também a ser as histórias de vítimas que partilhavam o vértice de não terem sobrevivido ao terror. Por elas, foram decretados três dias de luto nacional.
Passou uma semana e estes são, até agora, os números oficialmente confirmados: 64 mortos e mais de 250 feridos - que foram sempre aumentando consoante a propagação do fogo, que afetou os concelhos vizinhos de Góis, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pampilhosa da Serra.
A EN236-1, agora conhecida como a Estrada da Morte
Por entre todas as linhas que foram escritas sobre esta tragédia, muitas delas foram dedicadas à Estrada Nacional 236 (EN 236-1), que liga a Lousã a Pedrógão Grande. Foi por ela que muitos dos apanhados pelo incêndio tentaram fugir às chamas. Mas foi também ai que a maioria... morreu. Só naquela estrada ficaram perdidas, pelo menos, 47 vidas, entre as quais crianças.
Por esclarecer está ainda a decisão da GNR de não ter decidido cortar a estrada - estreita e com eucaliptos ao longo das bermas. Sabe-se, por exemplo, que passadas quatro horas desde o início do incêndio em Pedrógão, a EN 236-1 ainda não tinha sido cortada.
Há culpas a atribuir? A quem?
Quatro dias depois do início do desastre, o secretário de Estado Jorge Gomes fazia saber que António Costa tinha assinado um despacho onde solicitava “esclarecimentos rápidos” ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) “para saber as condições atmosféricas e climáticas naquele dia, o que é que houve de anormal, o que é que há para ser explicado"; à Proteção Civil sobre as alegadas falhas no SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal); e à GNR sobre o encerramento tardio da EN236-1.
Ao primeiro-ministro, o IPMA explicou que a "dinâmica" gerada pela conjugação do incêndio com a instabilidade climatérica gerou no terreno condições excecionais para a propagação das chamas. No entanto, essas previsões estavam dentro da margem de erro.
A Proteção Civil, por seu lado, admitiu que possam ter havido falhas no seu sistema de comunicação interno mas que, mas sublinhou que estas são normais quando existe uma utilização massiva. Quanto à GNR, sabe-se que já decorre uma investigação interna para apurar o porquê da 'estrada da morte' ter sido fechada tanto tempo depois do início do fogo.
É também digno de referência que, a meio da semana, foram levantadas suspeitas, pelo presidente da Liga de Bombeiros, Jaime Marta Soares, de“mão criminosa” na origem do incêndio, suspeitas que estão a serinvestigadas.
O que tem o Governo a dizer?
Até ao momento, já foram ouvidos três membros do Executivo e cujas abordagens a este assunto divergem em alguns sentidos. O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, foi o primeiro a falar, dizendo-se “destroçado, mas obviamente de consciência tranquila”, ressalvando também que “ordenar a floresta em Portugal é trabalho para mais do que uma geração e para vários governos” e ainda que o Governo “está em condições de indemnizar todos os agricultores que tiveram prejuízos”.
António Costa, por seu lado, lamentou que “o melhor desempenho não impede os piores resultados” mas garantiu que “haverá uma resposta final a devido tempo”, demonstrando total confiança na operação da estrutura de combate e prevenção de incêndios em Portugal que afirmou ser “profissional”.
Por fim, Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna e sobre quem recaem grande parte das críticas, admitiu que “os alertas do IPMA possam ter sido subvalorizados”, ao mesmo tempo que disse “justificar-se” uma investigação independente aos contornos do incêndio. Sobre o SIRESP, afirmou não ter conhecimento de falhas mas sim “interrupções e intermitências”. Quanto à sua demissão, declarou: "Não sou cobarde".
Mais forte que as lágrimas, só os abraços
Um dos momentos que desde logo recebeu atenção mediática foi o abraço de Marcelo, na chegada ao local, ao secretário de Estado da Administração Interna. Esse abraço viria a ser o prenúncio de uma onda de solidariedade sem igual.
O abraço do Presidente rapidamente se tornou no abraço de todo o país a Pedrógão. De todos os cantos do território nacional chegaram camiões carregados de alimentos, garrafas de água e bens materiais. A ajuda foi tanta que, a dada altura, os pedidos passaram a ser em sentido inverso: tanto o Governo como os bombeiros pediram que deixassem de ser enviados mais alimentos por já não haver espaço para armazená-los.
À ajuda física aliaram-se as linhas solidárias (cujas condições o Notícias ao Minuto tentou esclarecer) disponibilizadas pelas televisões nacionais, e ainda várias iniciativas de cariz solidário (incluindo para os animais) comoconcertos ou mobilização de mais meios por todo o país.
Apesar dos incêndios na região Centro estarem, finalmente, sob controlo e a caminho da extinção, a referência bancária de apoio aos bombeiros e vítimas de Pedrógão continua disponível. Os interessados podem fazer as suas transferências para a conta com o IBAN: PT50 0035 0001 00100000 330 42.
Na galeria acima, recordamos algumas das histórias e momentos mais marcantes daquela que foi uma semana trágica e triste para Portugal.
Fonte: Noticiasaomiunto
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