sábado, 24 de junho de 2017

A VIDA NÃO SE REPETE

Resultado de imagem para A VIDA NÃO SE REPETEO tempo de que emergimos eufóricos e inconscientes, agarrando nele e esbanjando-o como se fosse um tesouro inesgotável – a admitir que haja tesouros inesgotáveis.
Um dia, de repente, uma criança descobre em si a Vida. Pega nesse dom maravilhoso que nem sequer imagina como lhe veio e desata a utilizá-lo sem a mínima ideia de que os relógios lho gastam implacáveis, certos, ritmados. Descobre mil encantos e mil razões de se dispersar por todos eles, entregando-se-lhes desenfreadamente, desbaratando-se, sem poupar um único instante para se deter a ouvir aquele tique-taque-tique monotonamente rigoroso e igual a si próprio que devia – que por vezes até desejar! – anunciar-lhe o desgaste inevitável, o desgaste de que ela, a criança já adolescente, o adolescente já adulto, não se apercebe sequer.
Na ultrapassagem incessante dos minutos, a criatura dissipa todas as possibilidades. Dissipa-as enchendo o seu tempo com o que raramente merece sair de um nada tranquilizador.
A criatura, ansiosa, anelante, descobre em cada novo dia novos motivos de dispersão e arranja constantemente novos passatempos. E passa o tempo. E o tempo passa sem ser aproveitado da forma mais coniventemente. Atrás da criatura, passatempo depois de passatempo, não surge nada, não fica nada, não há nada de concreto. E de repente, sem que o momento seja pressentido a tempo, a criatura descobre em si um terrível cansaço. Terrível! Mas… cansaço de quê, se na verdade não fez nada? Cansaço de quê, se se limitou a gastar o tempo? Sim, a gastar o tempo de vida. Sem ter feito nada. As criaturas que desperdiçam o seu tempo, abrem os olhos sobre a própria velhice e nesse instante acordam para a noção de serem destroços de possibilidades atraiçoadas. E a vida não se repete!...

Por Odete de Saint-Maurice

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