sábado, 24 de junho de 2017

Eu, Psicóloga: Freud e a Cocaína

Sigmund Freud usou, receitou e defendeu arduamente a cocaína antes de seu banimento das prateleiras das farmácias para o mercado clandestino. Nunca foi algo que o pai da psicanálise tenha exatamente escondido, pelo contrário.


O testemunho de Freud do potencial nocivo do “mittel” (medicamento, em alemão), no fim das contas, contribuiu para a proibição do uso da substância que, até o começo do século XX, era sintetizada por laboratórios como Merck e Parke-Davis e comercializada como tratamento para o vício da morfina, esse sim já reconhecido pela ciência.

Apesar de algumas pessoas já saberem, isso ainda é um fato desconhecido por muitos. Freud abusava das drogas e, para conhecermos um pouco mais sobre o motivo que o levou a isso, contamos com a ajuda de Howard Markel, amigo de longa data do médico e professor de História da Medicina na Universidade de Michigan.
Ele escreveu um livro chamado "An Anatomy of Addiction: Sigmund Freud, William Halsted and the Miracle Drug Cocaine". Em sua publicação, podemos conhecer um pouco sobre Freud e os detalhes de seu envolvimento com a droga. 

Como muitos médicos, Freud pesquisou tudo o que podia sobre a cocaína exatamente para uso próprio. Tudo isso para saber com precisão qual era o efeito da droga em seu corpo. Certa vez, o médico descreveu para seus amigos, colegas, irmãos e sua noiva, Martha, que a substância o fazia ficar forte e dava um pouco de cor às suas bochechas.

Markel descreveu em certa parte de seu livro: "Durante o período de várias semanas, Sigmund Freud engoliu dezenas de cápsulas de cocaína em doses que variavam de 0,05 a 0,10 gramas. A partir dessas experiências que ele próprio teve, foi capaz de compor um relatório preciso dos efeitos imediatos que a droga exerce sobre o ser humano".

O próprio Freud escreveu uma análise científica sobre a cocaína, seus efeitos e suas consequências, intitulada "Über Coca", em julho de 1884. Foi a primeira grande publicação médica dele. Segundo o professor, a maior parte dos escritos é muito bem redigida e Freud incorpora seus próprios sentimentos, sensações e experiências vividas.

Neles, Freud afirma que a droga pode servir como um grande medicamento, sendo eficaz para a morfina e o abuso de álcool, sem deixar de mencionar que é extremamente viciante. Apesar de ter sido uma bela análise, o estudo não rendeu os elogios e reconhecimentos que o médico esperava, já que não foram apresentadas as habilidades anestésicas da substância.

Markel escreveu que Freud parou com o uso da cocaína em 1896 e completa: "As informações precisas sobre o uso da droga, tanto antes como depois dessa data, podem muito bem estar entre os segredos de Sigmund. A ausência de provas nem sempre significa evidências. No final, nós provavelmente nunca vamos realmente saber".


Os altos e baixos de Freud com a cocaína:

CURIOSIDADE
Empenhado em tratar as “doenças da alma”, Freud ouve falar da cocaína, então uma poderosa droga lícita, usada para aliviar dores.
TESTE
Freud passa a experimentar e prescrever cocaína em 1884. No artigo Sobre a Coca, fala sobre efeitos da droga e seus possíveis usos terapêuticos.
HÁBITO
O pai da psicanálise também fazia uso pessoal da droga, em épocas de crise pessoal. Importante: ele não cheirava, consumia cocaína diluída em água.
EUFORIA
Entusiasmado com resultados iniciais, Freud usa cocaína em casos de hipocondria, neurastenia, histeria, melancolia e prostração nervosa.
RESSACA
A longo prazo, a cocaína mostra-se mais maléfica que benéfica: Freud para de consumi-la em 1895 e de prescrevê-la em 1899. Sua decepção com drogas o leva a estudar um tratamento alternativo, sem medicamentos, baseado na fala. Daí surgiria a psicanálise.

Debora Oliveira

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