O Dia Internacional da Mulher foi assinalado no Município de Cantanhede, em 8 de Março, com uma tertúlia sobre “Liderança no Feminino”, no âmbito de uma parceria da autarquia cantanhedense com o Jornal da Bairrada. Durante a sessão, 10 mulheres que se afirmaram em diferentes áreas profissionais deram testemunho da sua experiência pessoal e pronunciaram-se sobre os desafios inerentes à condição feminina.
Da parte da manhã, a presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, havia enviado às mulheres que trabalham nos diferentes serviços da autarquia uma mensagem que antecipava alguns aspetos daquele que viria a ser o foco geral das intervenções das participantes na tertúlia. Nela, a líder do executivo camarário referia que “o Dia Internacional da Mulher continua a ter muito significado pois é notório que há ainda bastante caminho a percorrer para que os seus direitos sejam integralmente reconhecidos no âmbito dos diferentes papéis sociais que desempenha”.
Para a autarca “a efeméride é um bom pretexto para assinalar esse desígnio coletivo, convocando todos, homens e mulheres, para a caminhada conjunta que é necessário fazer no sentido de eliminar os fatores que favorecem a discriminação de género”.
Referindo que a igualdade que reclama “é apenas a de oportunidades, respeito e tratamento de equidade em todas as situações”, Helena Teodósio disse “acreditar que esse é o sentimento comum a todas as mulheres”.
Manuela Grazina, professora universitária e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra Universidade de Coimbra lembrou que “a mulher é fonte de vida e o homem é a semente, pelo que são precisos os dois. E o mais importante é que, sendo fonte e semente de vida, sejam ambos exemplos de vida, o que faz da educação e da cultura fatores determinantes para que não haja situações de desrespeito pelas mulheres. As diferenças devem servir não para nos distanciar, mas para nos aproximar na diferença”, sublinhou, explicando alguns aspetos fisiológicos e científicos que ajudam a explicar essa diferença.
Suzana Menezes, Diretora Regional da Cultura começou por afirmar que “há ainda um caminho a fazer ao nível dos direitos das mulheres. Não termos a noção dele é não vermos o problema, o que equivale a não o resolvermos. Daí a importância de sessões como esta, o caminho tem que ser este, continuar a sensibilizar, pois a discriminação existe”. A propósito da questão da discriminação salarial, Suzana Menezes disse que, “embora ela não seja uma prática na Administração Pública, a verdade é que noutros setores há salários diferentes para homens e mulheres em funções iguais”. E, quanto à liderança, considera que “um líder só é um bom líder se for um exemplo, um líder vê-se pelo exemplo ou perde-se pelo mau exemplo”.
Guida Almeida, administradora da Orima, assumiu que para ascender ao cargo teve que superar dois preconceitos: “por um lado, a circunstância de ser filha do fundador e dono da empresa; por outro, o facto de ser mulher. Era muito jovem e na altura em que comecei, logo após ter concluído o curso, não era muito frequente as raparigas seguirem os passos dos pais, pelo que tive que me impor pelo trabalho e pelo exemplo, tive que demonstrar que estava preparada para as funções que fui assumindo”, referiu. A gestora constata que a realidade que viveu “se alterou um pouco, percursos como o meu acontecem agora com mais naturalidade”, salientou.
Para a diretora de Marketing, Vendas e Exportação da Adega Cooperativa de Cantanhede, “um líder não é um chefe, um líder é alguém que está ao lado, capaz de dar a mão e de ter a humildade de aprender com a sua equipa”. Abordando a sua experiência no mundo dos vinhos, “um mundo que continua a ser maioritariamente liderado por homens”, Maria Miguel Manão afirmou que “as mulheres têm que dar muito mais para mostrar que são capazes. Parece que a sociedade parte do princípio que o homem é sempre capaz. A mulher tem que provar que o é”, concluiu
Áurea Andrade, enfermeira-diretora dos HUC e membro da Assembleia Municipal de Cantanhede, afirmou que “em qualquer profissão as mulheres estão tão bem ou melhor preparadas que os homens, embora estes talvez tenham mais alguma disponibilidade para desempenharem certas atividades”. Áurea Andrade adiantou que a sua área profissional “é maioritariamente feminina e a maior parte das lideranças estão a cargo de mulheres, o que não se passava há alguns anos atrás”, mas não considera que “os homens tenham mais oportunidades que as mulheres”, tal como não considera que “os homens sejam melhores líderes que as mulheres, têm talvez características de liderança diferentes”.
Recorrendo à sua experiência como autarca e ex-deputada na Assembleia da República, Maria do Céu Lourenço referiu que “a participação das mulheres na política é uma situação que tem vindo a crescer e que ao longo dos próximos anos estará certamente ainda mais enraizada”. A empresária lembrou que se iniciou na política “num tempo em que praticamente não havia mulheres, estas não avançavam porque se sentiam socialmente condicionadas. Quando cheguei à Assembleia Municipal, os meus colegas presidentes de junta eram todos homens bastante mais velhos, o que naturalmente gerou algum desconforto, mas atualmente o ambiente é muito mais leve, houve uma grande evolução, ainda que falte algum caminho a percorrer”.
A advogada Ana Margarida Maia, que faz parte da Assembleia Municipal de Cantanhede, enfatizou também o facto de haver “cada vez mais mulheres na política a desempenharem, e bem, cargos de relevo. Há exemplos de excelência no feminino em todas as atividades, incluindo na política, há mulheres que são verdadeiras líderes, mas no geral estão mais sujeitas à crítica, é-lhe exigido mais”. Quanto à igualdade, a jurista acredita que “esta é uma questão que está completamente interiorizada nas novas gerações. Tem sido esta a minha vivência e creio que o futuro vai ser ainda melhor”.
Carla Caramujo, cantora lírica com carreira internacional, falou da sua experiência profissional muito particular e das exigências que ela coloca. “O canto lírico é um sacerdócio e uma carreira internacional obriga a estar sempre de malas feitas, obriga a uma disciplina muito grande”, afirmou, adiantando que a partir do momento em que decidiu ter uma família, “as coisas complicaram-se. A nível profissional sofri bastante pelo facto de ser mulher, sobretudo depois de ter sido mãe. O esforço de conciliação da vida profissional com a vida familiar é muito exigente e nesse processo foi fundamental o apoio do meu marido, o suporte de alguém que admira o meu trabalho e que me ajuda a prosseguir com a minha carreira”.
Fátima Vaz Gomes, diretora do Agrupamento de Escolas Marquês de Marialva, abordou uma realidade que coloca grandes desafios às famílias. “Vivemos uma época complicada a nível da família, os pais têm uma vida ocupada, as mulheres trabalham muito e muitas crianças crescem mais sozinhas, acabam por aprender um pouco por sua conta”. Segundo aquela responsável, “vivemos um tempo em que as famílias e as escolas têm que investir ainda mais na formação das crianças e jovens para os valores da cidadania”.
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