Mariana Mortágua* – Jornal de Notícias, opinião
Passos Coelho não compreende os comentários à transferência de Durão Barroso, um dos seus antecessores no PSD, para o megabanco norte-americano Goldman Sachs. Diz que muitas das críticas "mostram o que a política tem de pior".
A reação de Passos é sintomática da sua persistente dificuldade em distinguir o que é certo e errado, moral e imoral. "O que a política tem de pior" é, na verdade, a porta giratória por onde se entra político e se sai empresário de topo (ou o vice-versa).
Note-se o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente da República entende que Barroso atingiu o topo da vida empresarial. Acontece que essa tal "vida empresarial" foi ser secretário de Estado, depois ministro, depois líder do PSD, depois primeiro-ministro, depois presidente da Comissão Europeia. Mas é mesmo assim que funciona a porta giratória. Cada cargo é mais um salto na carreira... empresarial. E a Goldman Sachs é mesmo o topo.
Será que Durão Barroso não tem direito a ter um trabalho no privado? Pois claro que tem. Mas este não é um trabalho qualquer. É o banco de investimento mais agressivo do Mundo. O banco responsável pelas práticas que causaram a crise financeira, pela maquilhagem das contas do Governo grego, pela especulação contra as dívidas soberanas, e pela predação das empresas privatizadas durante a crise (como os CTT). Durante os dez anos em que Barroso foi presidente da Comissão, a Goldman representou o que de mais podre existe no mundo financeiro que massacrou os povos da Europa. Durante estes anos, muito pouco foi feito para controlar a alta finança. Barroso e a Goldman têm muitos anos de colaboração. Ser presidente da Goldman não é só um trabalho. Mostra de que lado estamos. Barroso está no lado pior da política.
A Goldman Sachs, com Barroso, continuará a ser o que é. E um dia Barroso poderá ter contas para prestar. Esperemos que não se safe como se tem safado enquanto ex-primeiro-ministro, ele que sujou de sangue o nosso território ao oferecer a base das Lajes para a hedionda cimeira que iniciou o crime de guerra do Iraque.
*Deputada do BE
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