Camila Alvarenga, São Paulo – Opera Mundi
'Não sou sua típica política', diz ministra do Interior pelo Partido Conservador, que substituirá David Cameron nesta quarta e já é comparada a Margaret Thatcher
“Eu não sou sua típica política”. É assim que Theresa May, atual ministra do Interior e futura líder do Partido Conservador e primeira-ministra do Reino Unido se define. Paralelamente, seus colegas a consideram uma profissional experiente e uma “forte liderança”, e parte da imprensa a tem comparado com a ex-premiê Margaret Thatcher, chamando-a de “nova Dama de Ferro”.
May assumirá a liderança do governo britânico na quarta-feira (13/07) e seu principal desafio será levar a cabo a saída do Reino Unido da União Europeia, decisão votada em referendo realizado em 23 de junho. Apesar de ter se posicionado contra a saída, chamada de “Brexit”, a ministra já afirmou que não realizará outro referendo: “Brexit significa Brexit”.
“É muito importante que reconheçamos que o Brexit irá acontecer, mas não podemos deixar isto nos consumir. Existem muitas outras coisas que o governo também precisa fazer”, disse ela em uma entrevista ao jornal britânico The Telegraph. A ministra já afirmou que pretende criar um departamento para a “Brexit” que será comandado por algum político que fez parte da campanha pela saída do bloco.
Entretanto, ela ainda não abordou como realizará esta saída e não comentou os temas que circundam a “Brexit”, como a questão da imigração e dos refugiados, por exemplo. A desistência da secretária de Estado e Energia e Mudança Climática, Andrea Leadsom, da corrida pela liderança conservadora e britânica, fez com que May não precisasse abordar estas questões, visto que a disputa se encerrou antecipadamente.
Ainda que May não tenha se posicionado, seu histórico político mostra certa convergência com os “brexiters”, que defendiam a saída da UE como uma forma de conter a imigração para o Reino Unido.
Durante a convenção conservadora de outubro do ano passado, May afirmou em discurso que refugiados precisavam, de fato, de ajuda, “mas esta ajuda deverá ser na forma de auxílio enviado àqueles que ficaram em campos de refugiados na Jordânia, Líbano e Turquia, e não àqueles que fugiram para a Europa”.
Na ocasião, ela também defendeu a decisão do governo de aceitar apenas cinco mil refugiados sírios por ano, criticando a chanceler alemã, Angela Merkel, por ter aceitado receber 800 mil anualmente.
Além disso, em 2013, May apoiou um pacote de medidas contra imigrantes sem documentação no Reino Unido. A legislação foi descrita pela então ministra do Interior como tendo o objetivo de “criar um ambiente hostil aos imigrantes ilegais” e visava dificultar o acesso destas pessoas a serviços públicos, a empregos, a contas bancárias e a propriedades, além de tornar mais difícil para estrangeiros sem documentos recorrer contra decisoes de deportação.
O projeto ainda tramita no Parlamento britânico, mas, em 2015, foi aprovada uma lei que permite prender durante seis meses e confiscar os salários de estrangeiros que estejam trabalhando no Reino Unido sem documentação.
May, por outro lado, afirmou que, como primeira-ministra, buscará trabalhar e ajudar a classe trabalhadora britânica. “Precisamos de uma nova, positiva e forte visão para o futuro de nosso país. A visão de um país que funciona, não para os privilegiados, mas para todos nós”, disse ela em discurso nesta segunda-feira (11/07).
“Se você nasce pobre hoje no Reino Unido, você morrerá em média nove anos mais cedo que os outros. Se você é negro, você é tratado mais duramente pela Justiça criminal do que se você fosse branco. Se você é um rapaz branco da classe trabalhadora, você tem menos chance do que qualquer um de entrar em uma universidade. Se você estuda em uma escola pública, você tem menos chances de chegar a uma profissão privilegiada do que se estivesse em uma escola privada. Se você é uma mulher, você ganhará menos do que um homem. Se você sofre de doenças mentais, geralmente não terá ajuda. Se você é jovem, achará mais difícil do que nunca ter uma casa própria. Estas são injustiças grotescas e eu estou determinada a lutar contra elas”, escreveu May em seu projeto para o Reino Unido, divulgado pelo jornal britânico The Sun.
Margaret Thatcher e Theresa May
May será a segunda mulher na história do Reino Unido a ocupar o cargo de premiê. A primeira mulher a assumir o cargo foi Margaret Thatcher, também do Partido Conservador, que liderou a região entre 1979 e 1990.
“Eu acho que só pode existir uma Margaret Thatcher. Eu não sou uma pessoa que naturalmente busca modelos a serem seguidos. Eu sempre, independentemente do trabalho que eu esteja fazendo, dou o meu melhor. Dou tudo de mim e tento fazer o melhor trabalho possível”, disse May em entrevista recente ao jornal britânico The Independent.
A comparação entre May e a “Dama de Ferro” — apelido dado a Thatcher por um militar russo de maneira pejorativa, mas que passou a fazer referência à personalidade forte e supostamente inflexível da então premiê — é praticamente inevitável, visto que May é conhecida no Parlamento britânico como uma mulher “extremamente difícil”, “com muita força de caráter” e que não cede sob pressão, assim como Thatcher.
“No Parlamento, eu sou criticada às vezes por fazer política do meu jeito. Como [o ex-chanceler] Ken Clarke disse sobre mim nesta semana, posso ser uma ‘mulher extremamente difícil’. Mas como eu disse posteriormente, ‘Sim [sou extremamente difícil], e a Comissão Europeia está prestes a descobrir isso’, porque eu não sou sua típica política”, escreveu May em sua “Visão para o Reino Unido”. A ministra também já havia dito que a política “poderia se aproveitar de mulheres ‘extremamente difíceis'”.
Além disso, assim como a ex-primeira-ministra, May é criticada por ser uma mulher com posição de destaque na política, sendo julgada até mesmo por suas roupas e sapatos coloridos.
“Eu gosto de roupas e gosto de sapatos. Um dos desafios das mulheres no local de trabalho é o de sermos nós mesmas e dizer que somos inteligentes e gostamos de roupas. Você pode ter uma carreira e gostar de roupas”, afirmou ela, que se considera feminista.
“Eu sempre digo às mulheres ‘vocês devem ser vocês mesmas, não pressuponham que devem se encaixar em algum estereótipo’, e se sua personalidade é mostrada por meio de suas roupas ou sapatos então que seja”, reforçou em outra ocasião.
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