Entre os 23 convocados para a seleção portuguesa no Europeu, estavam 12 futebolistas de origem estrangeira. Ana Santos, professora de Sociologia do Desporto, diz que a multiculturalidade foi um dos segredos do triunfo.
Portugal sagrou-se no domingo (10.07) campeão da Europa de futebol pela primeira vez na história do país ao bater a anfitriã França por 1-0. Os desportistas regressaram esta segunda-feira (11.07) a Portugal, onde foram recebidos como heróis nacionais.
Ana Maria Santos, professora de Sociologia do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, salienta que a seleção, composta por portugueses de vários extratos sociais e origens culturais, mostrou que o trabalho em equipa é a fórmula da eficácia.
"Todos aqueles miúdos que ali estão trabalharam e sofreram muito. O desporto é um fenómeno bom que permite essa heroicidade a todos", considera Ana Maria Santos.
"O Ronaldo, o Renato, o Quaresma, o Éder que marcou o golo, o Pepe… São todos jovens que, para chegarem onde chegaram, tiverem de lutar por si. Não estiveram à espera que a família lhes oferecesse o lugar que eles arduamente conquistaram. Nessa medida eles funcionam como um elemento-cola numa sociedade que precisa disso", diz a investigadora.
Origens multiculturais
Durante a competição muito se murmurou sobre a origem de vários jogadores. Pepe nasceu no Brasil, Cédric Soares na Alemanha, Adrien, Raphaël Guerreiro e Anthony Lopes em França, Éder e Danilo na Guiné-bissau, Nani em Cabo Verde, William Carvalho em Angola.
Renato Sanches nasceu em Portugal, mas a família é de origem cabo-verdiana e são-tomense.
"Esta equipa é um todo e, sem estes miúdos oriundos de várias nações e extratos sociais, não tínhamos conseguido esta vitória. O desporto dá visibilidade a essas questões e tensões que existem na sociedade, mas por outro lado é também exemplar no modo como nos mostra como elas se resolvem", defende a professora universitária.
Eusébio fez história há 50 anos
A investigadora recorda a seleção portuguesa de futebol no Mundial de 1966, em que Eusébio foi a estrela-maior . "A equipa de 66 funcionou como um caso exemplar de uma equipa multicontinental e multirracial. Era a única equipa nos anos 60 que tinha negros. Nenhuma equipa europeia tinha, a não ser o Benfica e a seleção portuguesa", relata Ana Maria Santos. "Nessa altura ela funcionou como um caso exemplar para um modelo político que não nos interessava. Mas neste momento estas equipas funcionam como um modelo de equipa que é o futuro."
"O futuro não é bem a nação mas a unidade continente, com várias minorias e grupos sociais que em colaboração lutam por si e por melhores condições de vida."
Ana Maria Santos defende ainda que estas vitórias ao nível desportivo "ajudam a população a ver o quão importante é aceitar a diferença e o mérito conquistado por uma equipa de diferentes origens sociais". "O mundo é isso, aliás", conclui.
Nuno de Noronha – Deutsche Welle
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