sábado, 27 de agosto de 2016

SÃO JOÃO DE CAPISTRANO

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Catolicismo, Nº 15, março/1952
São João de Capistrano. Sob seus pés o Alcorão e cabeças de mouros
São João de Capistrano. Sob seus pés o Alcorão e cabeças de mouros
São João de Capistrano [quadro ao lado], embora vivendo exclusivamente para a Igreja, seria chamado a prestar-lhe seus serviços em uma esfera mais próxima dos interesses temporais.
A seu tempo, consumou-se a queda do Império Romano do Oriente, tendo sido conquistada a cidade de Constantinopla em 1453, por Maomé II [quadro abaixo à direita]. O islamismo representava naquele tempo, para a Cristandade, perigo semelhante ao do comunismo em nossos dias [1952]. Inimigo da Fé, visava exterminá-la da face da Terra. A seu serviço, tinha as riquezas, as armas, o poderio de um dos mais vastos impérios da História, qual era àquele tempo o dos turcos. A luta entre os muçulmanos vindos do Oriente, e os cristãos do Ocidente, não era apenas um choque entre dois povos, mas entre duas civilizações; mais do que isto, entre duas religiões.
Com a queda de Constantinopla, abriam-se para os turcos os caminhos da Europa ocidental. Maomé II não se deteve após a brilhantíssima vitória que alcançou em Constantinopla. Prosseguiu pelos Balkans adentro, visando atingir a Cristandade na Europa central.
Maome II, pintura de Gentile_Bellini
Maomé II, retratado por Gentile Bellini
Ora, os europeus daquela época — parecidos nisto com os homens de nossos dias — preferiam não ver de frente os perigos, não tomar atitude, não lutar. Sensuais, dissolutos, com um fervor religioso muito decadente — preparavam-se já a Renascença e o protestantismo —, pouco se lhes dava do dia de amanhã, e menos ainda a eternidade. Queriam gozar somente o momento presente.

Diplomata

Como galvanizar contra o formidável poderio do Islã as forças dessa Cristandade decadente?
Tratava-se de agir sobre príncipes e reis, sobre cardeais, bispos e clérigos, sobre fidalgos e sobre letrados, enfim sobre toda a massa da população, despertando as consciências para um perigo real e aplainando as vias para uma geral colaboração no interesse da Igreja e da Civilização Cristã ameaçadas. Assim, tornar-se-ia por fim possível lançar contra Maomé II uma cruzada.
Calisto III
Papa Calixto III
Para esse trabalho titânico, o Papa Calixto III [quadro ao lado] e o Imperador lançaram os olhos sobre São João de Capistrano, que já exercera com brilho as funções de Núncio Apostólico, a pedido do próprio Imperador.
Sempre recolhido, sempre devoto, sempre contemplativo, São João de Capistrano lançou-se de cheio na tarefa. Participou ele assim em 1454 da Dieta [Assembleia] de Frankfurt, em que o Sacro Império Romano Alemão tomou a Cruz para repelir os turcos. Sua ação diplomática foi decisiva para obter a coligação dos príncipes cristãos, divididos entre si por questões temporais de toda ordem.




Guerreiro

O comando da expedição foi confiado a um nobre húngaro que se tornara ilustre em lutas anteriores, e que mais tarde adquiriu imortalidade na luta conta os turcos. Hunyady, auxiliado por São João de Capistrano, caminhou com as tropas cristãs em direção aos infiéis. O encontro decisivo deu-se na altura de Belgrado. Faltando a Hunyady quem capitaneasse a ala esquerda de seu exército, disto se encarregou São João de Capistrano, que se houve com raro acerto e vigor. Quando terminou a batalha, jaziam no campo mais de cem mil guerreiros muçulmanos, e Maomé II estava em fuga. A Igreja conquistara admirável triunfo, a investida turca estava rechaçada.
São João de Capistrano durante a batalha, portando um crucifixo, animava o exército católico. Com a vitória do exército católica se evitou a invasão das forças maometanas. 40 mil turcos foram mortos.
São João de Capistrano durante a batalha animava o exército dos católicos. Com a vitória da Cristandade se evitou a invasão das forças maometanas. 40 mil turcos foram mortos.
Humanamente falando, que homem foi em seu século maior do que São João de Capistrano? Santo, orador, estadista, diplomata, Geral de uma Ordem Religiosa importantíssima, e por fim guerreiro, foi exímio em tudo. E o segredo de sua grandeza está precisamente na santidade, no auxílio da graça que lhe permitiu vencer os defeitos da sua natureza e aproveitar admiravelmente todos os dons sobrenaturais e naturais que Deus lhe dera.
Pode haver algo mais diferente do ‘carola’?
Não é bem verdade que muita gente teria mais desejo de ser ardentemente católica se compreendesse que a Igreja não forma ‘carolas’, mas homens no esplendor da natureza elevada e dignificada pela graça?
Fonte:abim
Litoral Centro – Comunicação e Imagem
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