Trump conversou com o presidente do México, da Colômbia e da Argentina, mas considerou insignificante trocar algumas palavras com o decorativo Michel Temer
Tatiana Carlotti – Carta Maior
Novembro, 2008. Sete dias após as eleições norte-americanas, Barack Obama retornou a ligação do então presidente Lula, destacando a importância do Brasil, “um líder mundial” , e as soluções encontradas no país para o combate à crise financeira internacional.
Novembro, 2016. Já se passaram quinze dias que Donald Trump venceu as eleições e, até agora, o decorativo mor da Nação, Michel Temer, amarga o descaso do bilionário que já conversou por telefone com os presidentes latino-americanos do México, da Colômbia e da Argentina.
A diferença de tratamento é gritante. Mas, a pauta não interessa à mídia golpista. Foi risível o esforço da Rede Globo e seus satélites para tornar natural a ausência de comunicação entre Trump e Temer.
No dia da vitória do republicano, o G1, da família Marinho, anunciava pela manhã (08h58): “Temer irá parabenizar Trump por telefone nesta quarta, diz Planalto”. Como não ocorreu a dita chamada telefônica, o inacreditável G1 publicou outra notícia na mesma dia (15h) com a seguinte manchete: “Temer parabeniza Trump e espera que o Brasil se aproxime dos EUA”, fazendo crer que a conversa telefônica afirmada pela manhã havia se concretizado.
Novembro, 2016. Já se passaram quinze dias que Donald Trump venceu as eleições e, até agora, o decorativo mor da Nação, Michel Temer, amarga o descaso do bilionário que já conversou por telefone com os presidentes latino-americanos do México, da Colômbia e da Argentina.
A diferença de tratamento é gritante. Mas, a pauta não interessa à mídia golpista. Foi risível o esforço da Rede Globo e seus satélites para tornar natural a ausência de comunicação entre Trump e Temer.
No dia da vitória do republicano, o G1, da família Marinho, anunciava pela manhã (08h58): “Temer irá parabenizar Trump por telefone nesta quarta, diz Planalto”. Como não ocorreu a dita chamada telefônica, o inacreditável G1 publicou outra notícia na mesma dia (15h) com a seguinte manchete: “Temer parabeniza Trump e espera que o Brasil se aproxime dos EUA”, fazendo crer que a conversa telefônica afirmada pela manhã havia se concretizado.
Apenas os que leram a reportagem puderam compreender que Temer parabenizou Trump por meio de uma carta, uma nota curta elaborada às onze da manhã pelo decorativo, pelo diplomata Fred Arruda e por Alexandre Parola, porta-voz do governo que informava no site do Planalto: “uma carta foi enviada ao norte-americano com a mensagem de Temer”.
Eis a “comunicação” entre os dois incensada pela mídia, recheando as reportagens com as palavras ditas por Temer, durante entrevista a uma rádio de Itatiaia (MG) naquele dia.
A situação se agrava ao lembrarmos que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, responsáveis por 20% das exportações brasileiras. E fica patética frente ao apreço histórico dos golpistas e da nossa elite tupiniquim pelo Tio Sam.
O apreço da mídia, então...
Quantos e quantos editoriais não foram escritos ao longo da última década esculhambando a cooperação Sul-Sul e as medidas de afirmação da altivez brasileira em sua política externa?
Além disso, o Brasil possui o maior PIB da América Latina, a maior população e a maior extensão territorial.
Com todos, menos comigo
Alguns podem argumentar que o descaso de Trump seria uma reação à nova diplomacia inaugurada por José Serra que, bradando o fim da diplomacia “ideológica” – leia-se independente - em entrevista ao Correio Braziliense, afirmou ano passado:
“Eu considero a hipótese do Trump um pesadelo”
“Nos EUA, sempre torci pelos democratas, no atacado”.
“Agora não se trata nem de ser democrata, trata-se de ser sensato, de querer o bem do mundo. Todos que querem o bem do mundo devem apoiar a Hillary [Clinton]”.
Esse argumento, porém, cai por terra, já que Trump atendeu no mesmo dia em que foi eleito, o presidente do México, Enrique Peña Nieto, que durante as eleições norte-americanas, comparou odiscurso do bilionário aos de Hitler e Mussolini.
Três dias depois, Trump conversava por telefone com o presidente da Colômbia, Juan Manoel Santos que divulgou em seu twitter: “falei com o presidente eleito Donald Trump. Acordamos fortalecer a relação especial e estratégica entre a Colômbia e os Estados Unidos”.
E o que dizer dos 15 minutos de conversa entre Trump e o presidente argentino Maurício Macri?
Ambos mantiveram relações conturbadas nos anos 80, quando tentaram, sem sucesso, ser sócios em negócios imobiliários em Nova York. O argentino, inclusive, apoiou abertamente Hillary Clinton durante as eleições nos EUA. Mesmo assim, ele foi convidado por Trump a visitá-lo em Washington no próximo ano.
Na fila à direita dos presidentes da América Latina, ao decorativo vem restando o papel de lanterninha.
Reservas oportunistas?
Não é o primeiro descaso sentido pelo golpista brasileiro. Durante a reunião da Cúpula do G20, na China, Temer não conseguiu nada com o presidente Barack Obama. Nem reunião casual, nem foto, nem aperto de mãos.
Em “Por que Obama evitou uma foto com Temer”, Dario Pignotti avalia que apesar do evidente apoio norte-americano ao golpe no Brasil, o comportamento de Obama – e podemos estender ao comportamento de Trump, agora - foi uma “demonstração de reservas (genuínas ou oportunistas) sobre a gestão pós-democrática no Brasil”.
Aliás, os elos entre Lava Jato e Estados Unidos foram denunciados pelos advogados de defesa do ex-presidente Lula e Marisa Letícia. Talvez agora Trump se anime a responder o aceno brasileiro. Sua demora, porém, é indicativa. Apesar de toda a blindagem, o mundo sabe que no Brasil aconteceu um golpe.
Daí a campanha diária da mídia na naturalização do estado de exceção que vivemos. O mais recente exemplo é a ostensiva cobertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) nesta segunda-feira (21.11.2016), em total oposição ao ostracismo a que foram relegadas as reuniões do mesmo Conselho ao longo da última década.
Criado pelo ex-presidente Lula, em fevereiro de 2003, o Conselhão reunia movimentos sociais e populares e setores do empresariado, além de especialistas de várias áreas, para sentarem na mesma mesa junto com o presidente, em torno de pautas de interesse nacional.
Completamente descaracterizado, com 70% de seus membros trocados, o “conselhinho” organizado por Temer é mais uma falácia dos golpistas. Agora se compreende a não participação dos principais organizações da sociedade civil; UNE, a CUT, o MST, a CTB, a CNBB, entre outros.
Não à toa, nessa primeira reunião, Temer pediu apoio para a reforma da Previdência que irá prejudicar milhões de brasileiros. Sem vozes dissonantes, para que serve o Conselho?
Criminalização da política
Vale destacar que, entre os participantes dessa primeira reunião do “conselinho”, esteve o midiático empresário Roberto Justus, a versão brasileira de Donald Trump no reality show “O Aprendiz”. Seria cômico, não fosse trágico: o empresário afirmou ao Estadão que pensa em se candidatar à presidência da República.
“Antigamente, eu nunca admitiria a possibilidade de pensar em alguma coisa nesse sentido, mas ultimamente eu tenho pensado sobre isso. Quem sabe, não sei, porque é uma mudança de vida. É você dedicar a sua vida ao país”, disse Justus.
Eles têm Trump, nós temos Justus, Dórias e provavelmente muitos outros que irão surgir em meio ao discurso de ojeriza à política, propalado pela mídia golpista.
Eis a “dorialização” em curso no país. Os empresários assumem, sem intermediários, seus interesses no poder público. O Estado mínimo agradece.
Imagine se eles seguirem o exemplo de Trump que se recusa a abandonar seus negócios particulares, alegando que não haverá confusão entre público e privado.
Confiram também What Can Be Done About Trump's Conflicts of Interest? That's Up to Congress. (tradução em andamento que será publicada na próxima sexta-feira, no Especial Trump).
Eis a “comunicação” entre os dois incensada pela mídia, recheando as reportagens com as palavras ditas por Temer, durante entrevista a uma rádio de Itatiaia (MG) naquele dia.
A situação se agrava ao lembrarmos que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, responsáveis por 20% das exportações brasileiras. E fica patética frente ao apreço histórico dos golpistas e da nossa elite tupiniquim pelo Tio Sam.
O apreço da mídia, então...
Quantos e quantos editoriais não foram escritos ao longo da última década esculhambando a cooperação Sul-Sul e as medidas de afirmação da altivez brasileira em sua política externa?
Além disso, o Brasil possui o maior PIB da América Latina, a maior população e a maior extensão territorial.
Com todos, menos comigo
Alguns podem argumentar que o descaso de Trump seria uma reação à nova diplomacia inaugurada por José Serra que, bradando o fim da diplomacia “ideológica” – leia-se independente - em entrevista ao Correio Braziliense, afirmou ano passado:
“Eu considero a hipótese do Trump um pesadelo”
“Nos EUA, sempre torci pelos democratas, no atacado”.
“Agora não se trata nem de ser democrata, trata-se de ser sensato, de querer o bem do mundo. Todos que querem o bem do mundo devem apoiar a Hillary [Clinton]”.
Esse argumento, porém, cai por terra, já que Trump atendeu no mesmo dia em que foi eleito, o presidente do México, Enrique Peña Nieto, que durante as eleições norte-americanas, comparou odiscurso do bilionário aos de Hitler e Mussolini.
Três dias depois, Trump conversava por telefone com o presidente da Colômbia, Juan Manoel Santos que divulgou em seu twitter: “falei com o presidente eleito Donald Trump. Acordamos fortalecer a relação especial e estratégica entre a Colômbia e os Estados Unidos”.
E o que dizer dos 15 minutos de conversa entre Trump e o presidente argentino Maurício Macri?
Ambos mantiveram relações conturbadas nos anos 80, quando tentaram, sem sucesso, ser sócios em negócios imobiliários em Nova York. O argentino, inclusive, apoiou abertamente Hillary Clinton durante as eleições nos EUA. Mesmo assim, ele foi convidado por Trump a visitá-lo em Washington no próximo ano.
Na fila à direita dos presidentes da América Latina, ao decorativo vem restando o papel de lanterninha.
Reservas oportunistas?
Não é o primeiro descaso sentido pelo golpista brasileiro. Durante a reunião da Cúpula do G20, na China, Temer não conseguiu nada com o presidente Barack Obama. Nem reunião casual, nem foto, nem aperto de mãos.
Em “Por que Obama evitou uma foto com Temer”, Dario Pignotti avalia que apesar do evidente apoio norte-americano ao golpe no Brasil, o comportamento de Obama – e podemos estender ao comportamento de Trump, agora - foi uma “demonstração de reservas (genuínas ou oportunistas) sobre a gestão pós-democrática no Brasil”.
Aliás, os elos entre Lava Jato e Estados Unidos foram denunciados pelos advogados de defesa do ex-presidente Lula e Marisa Letícia. Talvez agora Trump se anime a responder o aceno brasileiro. Sua demora, porém, é indicativa. Apesar de toda a blindagem, o mundo sabe que no Brasil aconteceu um golpe.
Daí a campanha diária da mídia na naturalização do estado de exceção que vivemos. O mais recente exemplo é a ostensiva cobertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) nesta segunda-feira (21.11.2016), em total oposição ao ostracismo a que foram relegadas as reuniões do mesmo Conselho ao longo da última década.
Criado pelo ex-presidente Lula, em fevereiro de 2003, o Conselhão reunia movimentos sociais e populares e setores do empresariado, além de especialistas de várias áreas, para sentarem na mesma mesa junto com o presidente, em torno de pautas de interesse nacional.
Completamente descaracterizado, com 70% de seus membros trocados, o “conselhinho” organizado por Temer é mais uma falácia dos golpistas. Agora se compreende a não participação dos principais organizações da sociedade civil; UNE, a CUT, o MST, a CTB, a CNBB, entre outros.
Não à toa, nessa primeira reunião, Temer pediu apoio para a reforma da Previdência que irá prejudicar milhões de brasileiros. Sem vozes dissonantes, para que serve o Conselho?
Criminalização da política
Vale destacar que, entre os participantes dessa primeira reunião do “conselinho”, esteve o midiático empresário Roberto Justus, a versão brasileira de Donald Trump no reality show “O Aprendiz”. Seria cômico, não fosse trágico: o empresário afirmou ao Estadão que pensa em se candidatar à presidência da República.
“Antigamente, eu nunca admitiria a possibilidade de pensar em alguma coisa nesse sentido, mas ultimamente eu tenho pensado sobre isso. Quem sabe, não sei, porque é uma mudança de vida. É você dedicar a sua vida ao país”, disse Justus.
Eles têm Trump, nós temos Justus, Dórias e provavelmente muitos outros que irão surgir em meio ao discurso de ojeriza à política, propalado pela mídia golpista.
Eis a “dorialização” em curso no país. Os empresários assumem, sem intermediários, seus interesses no poder público. O Estado mínimo agradece.
Imagine se eles seguirem o exemplo de Trump que se recusa a abandonar seus negócios particulares, alegando que não haverá confusão entre público e privado.
Confiram também What Can Be Done About Trump's Conflicts of Interest? That's Up to Congress. (tradução em andamento que será publicada na próxima sexta-feira, no Especial Trump).
Créditos da foto: reprodução
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