Todos os anos, cerca de 25 mil portugueses sofrem um AVC. Existe uma Via Verde para ajudar, mas o primeiro passo depende de si. Quanto mais rápida e eficaz for a resposta, maiores as probabilidades de recuperação.
Os Acidentes Vasculares Cerebrais são a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. No dia Dia Nacional do Doente com AVC, o Notícias ao Minuto falou com neurologista Vítor Tedim Cruz, membro da direção da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, sobre o essencial a conhecer para mudar esta realidade.
Quantos AVC se registam em Portugal por ano?
AVC isquémicos são cerca de 25 mil [este é o tipo de AVC mais comum, provocado por uma obstrução nas artérias do cérebro].
É uma doença que pode afetar pessoas de todas as idades?
Ela escolhe idades. A idade é um dos fatores de risco principais. Há sempre mais acidentes vasculares cerebrais depois dos 60 anos. Mas também há doentes desde crianças - AVC em idade pediátrica -, a adultos jovens e pessoas com menos de 60 anos.
Como podemos prevenir um AVC?
O acidente vascular cerebral é uma doença que resulta de alterações nos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro. Também pode ter origem em coágulos que se formam noutras partes do corpo e entopem esses vasos.
Todas as doenças que piorem a saúde dos vasos vão aumentar o risco de AVC o tabagismo, a hipertensão, a obesidade, o colesterol elevado, as más dietas, a diabetes não controlada são condições que envelhecem precocemente os vasos. Também a fibrilhação auricular faz com que o coração tenha arritmias, provocando coágulos que acabam na circulação cerebral e que provocam AVCs. São estes os fatores de risco sobre os quais se pode atuar.
Como identificar um AVC?
Os sinais de alerta são os três ‘F’: qualquer alteração na fala, qualquer alteração na face (os doentes identificam uma boca ao lado), e qualquer perda de força num dos membros do corpo.
As pessoas têm de aprender a identificar, mas também a agir. Perante estes sinais deve ligar-se de imediato para o 112 para ativar a Via Verde do AVC. Esta é uma ‘autoestrada’ para que, no meio da confusão que são os serviços de emergência, as pessoas possam rapidamente ter acesso ao tratamento. O cérebro é um órgão muito delicado e ao contrário de outros não aguentam muito tempo sem circulação. O tempo é essencial.
Considera que o programa da Via Verde do AVC está bem implementado em Portugal?
Houve enormes progressos. A maioria da população está a menos de 60 minutos de um local onde pode iniciar um tratamento. São locais onde é possível realizar um TAC cerebral e, ou está lá um perito em AVC, ou está acessível por telefone para analisar o resultado do TAC e decidir se inicia ou não uma trombólise para dissolver o coágulo.
Nem toda a população está tão perto de uma unidade de AVC, mas só metade dos doentes que sofreram um AVC acaba internada. Outros casos, mais difíceis de tratar - cerca de 10% dos AVC precisam de um tratamento adicional -, têm de ser encaminhados paras outros hospitais. Tudo isto faz parte da Via Verde do AVC, mas a porta de entrada não está longe das pessoas.
O próprio INEM se esforça por orientar o processo e tem sido muito eficaz. O 112 liga logo para o hospital de destino e os médicos já estão à espera desse doente venha ele de onde vier.
O que é que ainda falta melhorar?
O ponto crítico são as unidades de AVC. Tratar um AVC não é só o tratar a fase aguda, é depois manter o doente naquela semana ou 15 dias depois do AVC e criar condições para fazer uma reabilitação com intensidade suficiente e bem orientada. Falta organizar melhor os cuidados e o regresso a casa. O nosso objetivo é devolver as pessoas íntegras à sociedade.
Quantos doentes recuperam totalmente de um AVC?
Um terço dos doentes recupera espontaneamente, um terço acaba por falecer e um terço pode ou não ter bons resultados mediante a resposta que foi dada. Pode recuperar se tiver um tratamento agudo eficaz, se tiver acesso a uma boa unidade de AVC e se cumprir a reabilitação.
As primeiras horas são determinantes - temos de garantir que o volume do cérebro que morre é o menor possível. Depois é preciso criar condições para a recuperação do cérebro nos primeiros 15 dias. Há zonas do cérebro que podem ser salvas mas que sem esses cuidados podem morrer. A recuperação é um trabalho crónico de reabilitação e treino de capacidades. Tem de se casar tudo isto para aumentar o número de doentes devolvidos à sociedade no seu estado prévio.
Fonte: Notícias ao minuto
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