Em nosso mundo ateizado muitos não acreditam no poder do demônio. Se é que acreditam nele próprio. Por isso se entregam a atividades relacionadas, velada ou claramente, com as forças ocultas. Entre estas estão o espiritismo, a feitiçaria, o candomblé, a magia negra, os “tabuleiros ouija”, os métodos de cura ou meditação orientais como o Reiki, a yoga e congêneres.
Neste artigo tratamos mais especificamente do chamado “tabuleiro ouija”. Sobre este “brinquedo”, o Wikipedia, inteiramente insuspeito, diz tratar-se de “qualquer superfície plana com letras, números ou outros símbolos, em que se coloca um indicador móvel. Foi criado para ser usado como método de necromancia [adivinhar o futuro por meio de contato com os mortos] ou comunicação com espíritos” (grifo nosso).
Prossegue a mesma fonte: “No Brasil há variantes conhecidas como Brincadeira do Copo, Jogo do Copo, ou ainda Sessão de Copo, em que um copo faz as vezes do indicador para as respostas. Também é conhecido como Brincadeira do Compasso, quando se usa um compasso como indicador. Existem também apoios para a utilização de lápis durante as sessões”.
Já na edição em inglês, o mesmo dicionário afirma: “Algumas denominações cristãs têm ‘alertado contra o uso dos tabuleiros ouija’, afirmando que eles podem levar à possessão demoníaca. Por outro lado, os ocultistas estão divididos quanto a isso: alguns dizem que pode ser uma transformação positiva, outros reiteram os alertas de muitos cristãos, [sugerindo] cuidado dos ‘usuários inexperientes’ contra ele”.
Com relação a isso, há certo tempo, ao se converter ao catolicismo nos Estados Unidos, um conhecido satanista – David Arias – narra como foi iniciado no culto ao demônio exatamente pelo “tabuleiro ouija”. Mexicano imigrado aos 16 anos nos Estados Unidos, ele declarou à publicação católica Our Sunday Visitor que ao entrar no colégio, “alguns companheiros o introduziram no Ouija para assim comunicar-se com os espíritos”. De fato, esta prática está muito difundida entre adolescentes americanos. Depois foi convidado a participar do jogo do Ouija em um cemitério.
Para David Arias, no princípio isso não era mais que uma brincadeira, mesmo ir à noite aos cemitérios. Mas logo a coisa foi se tornando mais séria. Passou a ser convidado a participar de reuniões ‘subterrâneas’, nas quais abundava a promiscuidade sexual e o abuso de drogas e álcool, até que finalmente ele entrou em contato com a “igreja de Satanás”. Após participar durante quatro anos desse culto demoníaco — movido por especial graça de Deus —, começou seu processo de conversão.
Baseado em sua experiência, ele alerta: “Os pais devem estar a par do que os filhos estão fazendo. Hoje as crianças têm livre acesso a coisas que são muito perigosas”, como o “tabuleiro Ouija”[i].
Ainda sobre isso, temos o depoimento do Pe. Gary Thomas [foto], veterano exorcista da diocese de San José, na Califórnia. Sobre o Ouija, ele afirma: “As pessoas que usam tabuleiros de ouija (que é um instrumento de magia, não um brinquedo), cartas do tarot, leituras da palma da mão, meditações como o Reiki, o uso de yoga como forma de poder mediante o qual se evoca a falsos deuses”, estão se expondo à ação do demônio[ii].
Ora, “sempre que se procuram determinados efeitos por meios desproporcionados [como “falar” com os mortos], os quais de nenhum modo podem conduzir ao resultado desejado, se confia na atuação de forças misteriosas, ao menos implicitamente, para obter esse resultado. Como essas forças não vêm de Deus nem de seus anjos, só podem provir do espírito das trevas”[iii].
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Um casal exemplar
Uma coisa na qual muita gente não pensa é que até mesmo um inocente bebê de pouco mais de um ano — portanto sem culpa alguma — pode ser assumido pelo demônio, ficando possesso. O fato que vamos narrar ocorreu no Chile, sendo fictícios os nomes dos progenitores e da criança, mas não os dos sacerdotes que prontamente e com sucesso intervieram no caso.
Teresa e Roberto formavam um casal modelar que cumpria com empenho suas obrigações religiosas. Tinham três filhas e suspiravam por um filho varão.
Por volta de 1988 nasceu-lhes o tão esperado menino, que foi batizado com o nome de Miguel.
Quando ficou um pouco mais crescido, como era muito afetivo e pacífico, a mãe dizia que dele “emanava paz”. Passou então a levá-lo à Missa diária, que assistia na igreja paroquial. Miguel permanecia tranquilo durante todo o tempo do santo sacrifício, sem dar o mínimo trabalho.
A possessão
Tudo ia bem, quando aconteceu o inesperado. Num dia do ano de 1989, Teresa foi obrigada a ausentar-se por algumas horas, devido a um compromisso na igreja. Como Miguel tinha então pouco mais de um ano, ela julgou que podia deixá-lo na casa de uma tia, junto com suas irmãzinhas.
Quando a mãe passou para recolher os filhos, notou que o bebê estava muito estranho: “Estava inquieto, chorava, e chorava”. Nos dias seguintes o menino continuava a chorar, e quase não dormia. Os médicos não encontraram explicação para tal atitude. Pois, clinicamente falando, tudo nele estava em ordem.
Como Teresa tinha muita sensibilidade religiosa, temeu que algo grave estivesse ocorrendo. Pois o menino “começou a ficar agressivo, especialmente quando ia com ele à Missa. Depois de comungar, tendo-o em meus braços [...] ele me agredia, mordia meu rosto, arranhava-me. Muito violento, tudo era muito estranho. Angustiava-me não saber como ajudá-lo; rezava mais por ele, e continuava a levá-lo comigo à Missa. Mas, ao contrário, ia ficando cada vez mais agressivo e mais chorão. Então, eu me perguntava: ‘O que se passa?’”
Foi então que o vigário de sua igreja, que também notara a mudança repentina de Miguel, ao saber que os médicos não tinham explicação para o caso, deu a Teresa o nome e o endereço de dois sacerdotes que poderiam ajudá-la: os padres Carlos Aldunate, exorcista da diocese de Santiago, e Agostinho Sánchez.
O exorcismo
Quando Teresa chegou à casa dos sacerdotes e a criança viu o Pe. Agostinho, que foi recebê-los, começou a chorar sem cessar e a tremer sem controle. O sacerdote ficou sereno e disse à aflita mãe: “Veja, não posso ajudar, neste momento, o seu filho. Há algo dentro dele, mas eu ainda não posso ajudá-lo. Pense, Teresa, com quem ficou seu filho, a cargo de quem, o que se passou nesse tempo. Trate de averiguar e, à hora que for, o dia em que você se inteire disso, chame-me e o traga”.
Ao chegarem em casa muito tristes e com o coração apertado diante da negra perspectiva, os pais contaram às filhas o que o Pe. Agostinho lhes havia dito.
Nessa noite, quando Teresa e Roberto estavam já deitados, foram procurados pelas duas filhas mais velhas, que lhe disseram nervosamente: “Mamãe, Papai, nós sabemos o que se passou com meu irmão”.
Eis o que elas narraram: “A senhora se lembra do dia em que nos deixou na casa da tia, e a senhora nos permitiu convidar algumas companheiras para fazermos juntas as tarefas? Bom, quando terminamos os deveres, nós nos pusemos a brincar. [...] Uma de nossas amigas levava um tabuleiro de Ouija, esse com letras grandes, com o copo, para falar com os espíritos [...] e começamos a ver o que acontecia. Estávamos na sala de jantar, em baixo, e pusemos tudo no assoalho, ao lado da lareira”.
Uma das colegas disse que levava poucos minutos para a resposta do tabuleiro, e a seu ver tudo parecia ir bem, pois já alguém ou algo estava ali. As meninas estavam muito concentradas em suas perguntas e nas respostas desse “algo”, que ia surgindo.
De repente Miguel apareceu na sala e, sem que elas tivessem tempo para detê-lo, passou correndo por cima do tabuleiro, embaralhando tudo. Aqui termina a declaração das meninas. Este foi o depoimento delas.
De posse desses dados o casal chamou no dia seguinte o Pe. Agostinho Sánchez, que lhe pediu que toda a família fosse vê-lo imediatamente.
Apenas chegados ao jardim da casa dos sacerdotes, Miguel começou a chorar e a se revolver nos braços da mãe; era claro que não queria entrar na casa.
O Pe. Agostinho conversou com cada uma das meninas, atendeu-as em confissão, e as ungiu com óleo bento. Sobretudo, repreendeu-as com firmeza por sua imprudência. Nisso chegou o Pe. Carlos, e o Pe. Agostinho, tomando Miguel em seus braços, entregou-o a ele. Diz a mãe: “Miguel chorava a plenos pulmões quando os dois sacerdotes ingressaram na capela do recinto, levando meu filho”. Não permitiram que a mãe os seguisse.
Enquanto todos, angustiados, esperavam o resultado, diz Teresa “A única coisa que eu ouvia era a voz forte do Pe. Agostinho, dentro, exorcizando meu filho. E como não conhecia o tema, a inquietude me aguilhoava, pensando: ‘O que estão fazendo com meu filho?’”
Finalmente, “saíram da capela trazendo meu filho adormecido, com esse semblante plácido que sempre havia sido tão característico nele, e que havia perdido nas últimas semanas”. O Pe. Sánchez, paternalmente, disse então às meninas: “Não brinquem mais com estupidezes [...] porque olhem o que aconteceu com seu irmão: estava possesso de um espírito imundo!”
Os sacerdotes pediram aos pais que levassem o menino mais algumas vezes à sua casa. “Nesses momentos, o Pe. Carlos o ungia com azeite — que soube que era para exorcizar — na fronte, nas mãozinhas e em outros lugares do corpo. Logo rezava pelo menino, pedindo à Virgem Maria que o protegesse. Ainda me lembro que foi por volta da terceira ou quarta dessas liberações que meu filho começou a ficar envolto em um aroma de flores, que se podia perceber nos lugares onde tinha estado, e isto continuou ocorrendo vários dias depois de terminado todo o ciclo de unções e orações. Eu também rezava com afinco cada dia por meu filho e, ao finalizar, esse bom sacerdote me ensinou uma oração de proteção, que até hoje é uma de minhas devoções quotidianos: é a conhecida Couraça de São Patrício, mas numa versão adaptada por esse exorcista”.
Agradecida a Deus, essa experiência levou Teresa a participar desde então de um pequeno grupo de leigos que colaboram com sacerdotes para liberar pessoas atormentados pelo demônio. Isso, afirma ela, é muito perigoso: “No começo, causava-me algum temor saber que estava decidindo servir a Nosso Senhor Jesus Cristo enfrentando seu inimigo. Mas Jesus, graças à vida sacramental, me dá sua graça e já não temo. Se Cristo está contigo, quem será contra ti? A clave está em manter uma vida coerente com a fé”.
Miguel voltou a ser o mesmo de sempre. “Quando começou a falar, sem que nós lhe propuséssemos, pedia para ir à Missa e para preparar-se para a Primeira Comunhão. Ele a fez aos sete anos, e foi o Pe. Carlos que a deu. Continuamos rezando juntos por sua proteção”.
Teresa alerta, com muita propriedade: “É importante que ele e todos que viveram algo semelhante tenham consciência de que, se isso te aconteceu alguma vez, podes ser vulnerável a que te ocorra de novo se esqueces de estar em comunhão com Deus Padre, Filho e Espírito Santo e como Mediadora poderosa, a Virgem Maria, Mãe que sempre acode em nossa ajuda”[iv].
Fonte: ABIM
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