Martinho Júnior, Luanda
1- O século XXI, nos termos de introdução das novas tecnologias instrumentalizadas e ao serviço de 1% na saga do seu domínio sobre o resto da humanidade, começou a 11 de Setembro de 2001!
De então para cá e com a aplicação das novas tecnologias, a hegemonia unipolar foi utilizando a capacidade de globalizar configurando um largo espectro de capacidades que multiplicam os seus tentáculos, numa vasta acção “soft power”, psicológica, de inteligência e militar, sem precedentes, recorrendo a escolas e “filósofos” que mais não fizeram senão justificar a perversidade de suas próprias iniciativas!
Foi assim que se provocou a escalada de caos e terrorismo que está inerente aos expedientes de globalização da própria hegemonia unipolar!
O fulcro do aparato tem sido o Pentágono e seus falcões, pois o produto refinado é uma ideologia poderosa (ou uma plataforma de ideologias servis) que instrumentaliza todos os meios e capacidades num raio de acção expansivo que se distende a todos os continentes da Terra, até às regiões mais ignotas e isoladas do globo!
2- A NATO foi colocada ao dispor da hegemonia unipolar por via de sua osmose e subordinação ao Pentágono e os vassalos a que chamam aliados, estão a assumir, no quadro dos tentáculos desse colossal polvo, papeis bem definidos que envolvem o carácter das oligarquias, do poder de cada um dos estados, das suas articulações económicas e financeiras, bem como da equação dos seus relacionamentos tendo em conta aspectos como a sua história, a sua antropologia cultural, os seus ambientes físico-geográficos… nada é posto de fora da capacidade de observação que isso implica, da análise e da síntese do que é sorvido em termos de conhecimento e informação visto sob os mais variados ângulos e qualquer que seja a via das abordagens!
Nada escapa à formulação das mais variadas ementas para cada tentáculo em vassalagem“orgânica” e por isso há a graduação ideológica para o conjunto e para cada um deles, com a distribuição específica de papéis, de objectivos, de capacidades, de áreas de acção e dos perfis para as suas actuações, inclusive no âmbito do quadro de seus relacionamentos.
3- Na União Europeia sob a égide dos falcões do Pentágono, com a devassa do capitalismo neoliberal explorando o êxito do fim do socialismo na Europa, está-se a induzir uma ideologia cada vez mais radicalizada e próxima do fascismo e do nazismo, de modo tão persuasivo, indolor e indelével quanto o possível, sem que sob o ponto de vista sócio-político as democracias representativas tenham a possibilidade de se equacionarem noutras melhores alternativas.
Esse processo está a realizar-se numa geometria variável, tirando partido do torpor geral das sociedades constantemente bombardeadas pela propaganda ao dispor dos meios de comunicação de massas servis.
O alvo a abater na Eurásia são a Rússia, a China e o Irão, até por que subjacentemente ao poderio da opção multipolar, nesse vasto continente que se estende do Atlântico ao Árctico, ao Pacífico e ao Índico, são esses potenciais inimigos que pressionam no sentido de vencer a concorrência em sectores tão decisivos como a energia, os transportes e vias de comunicação, a construção de infraestruturas e estruturas… impedindo a hegemonia unipolar de dominar conforme sua vocação exclusivista e ao sabor dos monopólios e carteis, habituados a eliminar qualquer tipo de obstáculo e concorrência onde quer que hajam interesses seus!
As dificuldades da hegemonia radicalizaram-se nos contenciosos da Turquia e nas envolventes correlacionadas, um sinal inusitado duma potencial ruptura, ou duma reconfiguração que não deixa de ser uma possibilidade no mapa da vasta região em disputa, da Síria ao Paquistão…
Só os avanços multipolares estão a obstar que o caos e o terrorismo, bastardos do Pentágono e da NATO, possam ter ainda uma maior disseminação!
4- As questões de inteligência e militares estão pois a ser profundamente reformulados pela equação Pentágono – NATO, cujos tentáculos se distendem no Leste da Europa, no Médio Oriente, em África e na América Latina (com a Colômbia a servir de “testa de ponte”)!
Nessa tentativa de reorganização e reformulação, a hegemonia unipolar está a procurar encontrar recursos, meios e forças para fazer frente à emergência multipolar euroasiática!
As reformulações em curso na Itália, pressupõem que para dentro de África vão-se multiplicar as iniciativas, desde logo na direcção da Líbia, onde a tensão entre a hegemonia unipolar e a multipolaridade já se conforma na extensão a oeste da complexidade de situações correntes do Médio Oriente.
Em África e tendo em conta a progressão retrógrada do neocolonialismo por via dos esforços conjugados dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da França (explorando numa contradição automática e em regime de “baixa intensidade”, a “proverbial” disseminação do caos e do terrorismo fundamentalista islâmico), a RDC e os Grandes Lagos estão num horizonte próximo para novas convulsões.
O Pentágono poderá aumentar os dispositivos recorrendo a um painel de vias e de métodos instrumentalizando a ONU, a União Europeia, a NATO, mas também os vassalos africanos que aliás têm neste momento uma posição de força na própria estrutura orgânica da União Africana, a ponto de haver o retorno de Marrocos, sem estar resolvida a descolonização do Sahara!...
5- Os componentes da SADC devem acelerar todas as capacidades de integração para fazer face à compressão da hegemonia em direcção ao sul do continente africano e tendo em conta que seus dispositivos de inteligência e militares, poderão voltar a ter de se colocar à prova na RDC, onde poderá haver a tentação duma reedição de contenciosos recentes decorrentes duma época cujo início se expressou no colapso do regime neocolonizado de Mobutu.
Angola e a África do Sul dão sinais de se estarem a preparar para novos cenários de tensão, conflito e guerra na RDC, que além do mais corre o risco de desmembramento na região dos Grandes Lagos, precisamente na matriz principal da água interior de África (Lagos e nascentes do Nilo, do Congo e do Zambeze).
Caso esse desmembramento seja alcançado, são os povos africanos que uma vez mais perdem, em benefício do neocolonialismo e das potências obedientes aos falcões da osmose Pentágono – NATO.
Em todos os sentidos, a hegemonia unipolar em vastas regiões do globo está a manifestar-se para além dos limites suportáveis!...
… Esperemos que com a emergência multipolar esses limites se tornem também insustentáveis!
Fotos: Pentágono e NATO
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